31 agosto, 2008

Pirraça - Vanessa da Mata (clica aqui)


Quando à tarde no trabalho
Quero que o tempo passe
Os ponteiros do relógio
Só me dão o tique-taque
Quando eu encontro os amigos
Para tomar um café
A rapidez que não tinha
Sem disfarçar
Parece brincadeirinha
Pega-pega

Sê paciente, espera


"Sê paciente, espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como
um fruto ao passar
o vento que o mereça"

(Eugénio de Andrade)

porque será?


aquelas pessoas todas em círculos perdidas no meio do nevoeiro em cima da rocha das gaivotas tentando tornar-se gaivotas e assim talvez achar o rei olham-me quando chego mas não consigo perceber porque andam sempre em círculos porque não conseguem parar olhando sempre para o chão com medo de magoarem os pés descalços e tentando levantar voo sem sucesso. com um bom dia alto consigo fazer com que um deles pare e olhe para mim. pensa que não estou bem que alguma coisa se passa comigo uma vez que me sentei e olho o céu no meio do nevoeiro e naquele momento olho-o nos olhos e percebo que a alma dele não está ali e penso que será que se conseguir transformar-se em gaivota perderá mesmo a alma ou não conseguirá jamais transformar-se e mesmo assim não recuperará a alma como castigo por querer ir tão longe. penso que é provável que isto aconteça se houver um deus na sua vida. um deus que seja mesmo deus daqueles que tudo podem e não apenas uma criatura normal nascida de pai e mãe como toda agente. ou talvez ele queira ser gaivota porque deixou de acreditar em deus e precisa de voar voar longe voar já. faço-lhe perguntas mas olha-me como seu eu fosse louca percebe que não pertenço àquele lugar e não responde. fica com um sorriso parado na boca quando sorrio antes de me afastar. um sorriso que é meio de gente meio de gaivota. será que as gaivotas também sabem sorrir ou será que apenas sabem gritar? então porque é que há cada vez mais gente a querer ser gaivota em vez de gente? será que dá menos trabalho ser gaivota ou será mesmo por falta de emprego e por falta de ter o que fazer como eu neste momento?

30 agosto, 2008

Fim do Mundo -Ala dos Namorados (clica aqui)

Vou alimentar a tua sede de querer
Vou acicatar a tua fome de prazer
Vou ao fim do mundo
Vou tocar lá no teu fundo
Vou fechar o punho e pôr o sangue a ferver
Vou cerrar os dentes e morder o teu saber
Vou ao fim do mundo
Vou gritar lá no teu fundo
Sou teu


Sabes quem eu sou? Eu não sei.


Sabes quem sou? Eu não sei.

Outrora, onde o nada foi,
Fui o vassalo e o rei.
É dupla a dor que me dói.
Duas dores eu passei.
Fui tudo que pode haver.

Ninguém me quis esmolar;
E entre o pensar e o ser
Senti a vida passar
Como um rio sem correr.

(Fernando Pessoa)

desapareceu num dia de nevoeiro


saio de casa com a certeza absoluta de que voltarei em pouco tempo com D. Sebastião. sei exactamente para onde me dirigir uma vez que o nevoeiro é denso e não ligo os faróis porque quando ele desapareceu não existiam faróis. pelo menos de nevoeiro. portanto em pouco tempo decido parar o carro e continuar a pé. mas quanto mais caminhava em direcção ao nevoeiro mais o sol ia espreitando e aquecendo-me o corpo e a alma. nada a fazer percebi. estou muito longe do ponto de partida e o nevoeiro apaga-se pouco a pouco. depois de mais de uma hora a pé entro no utilitário que uso sobretudo para procurar encontrar o rei que poderá salvar o país de um nevoeiro ainda mais denso. um nevoeiro que tem mantido calados os dirigentes políticos e tem feito com que pessoas que toda agente julgava serem certinhas se ponham a fazer assaltos à mão armada e levem tudo o que lhes aprece pela frente. pois claro que a culpa é do nevoeiro que não fica o tempo suficiente para que eu encontre o rei. hoje tenho a certeza que foi por um triz. mais uma horita e eu trazia-o de volta.
a semana que vem trará com certeza novidades. todos os dias uns assaltos a ourivesarias bancos e sobretudo os que eu prefiro carrinhas de valores e máquinas multibanco. palavra que gostava de ter uma coisa daquelas cá em casa. quem sabe com a mania que tenho das engenhocas não a transformava num robot que em vez de me dar dinheiro me contasse anedotas inéditas e divertidas ou estórias reais e divertidas. quem sabe um dia destes ganho de presente uma atm.

29 agosto, 2008

Diga - Joao Gilberto & Bebel Gilberto (clica aqui)


Nosso amor não é cinema
Desses de 1100
Nosso amor não é comédia
Pra dar risos pra ninguém
Quanta gente me pergunta
Se ao seu lado vivo bem
Eu não minto, digo tudo:
Sem você não sou ninguém

Tu tens um medo


Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

(Cecília Meireles)

uma prosa quase sem gatos


pessoas transformaram-se em gaivotas. ocuparam a rocha delas e pude ver gaivotas a ler o jornal de papo para o ar e até uma na praia a levantar voo. os braços tomavam balanço numa tentativa frustrada de levantar voo. a gaivota era uma mulher muito magra com mais de 60 anos que queria a todo o custo voar. estou certa de que se lá estivesse alguma gaivota tê-la-ia ensinado como fazer. ou talvez até um gato. mas isso já é mais difícil. é frequente ver cães nas praias mas gatos não. decididamente os gatos não gostam de praia. e assim a mulher correu correu embalando o corpo com os braços mas nunca levantou voo. digo eu. pode muito bem ter levantado voo sem que eu tivesse visto. afinal agora já tenho idade para saber que tudo é possível. tudo. até a morte. mas sobretudo a tristeza e a alegria de estar triste. o choro transformado em riso ou viceversa como se tudo não passasse de um circo em que não aprendemos a voar no trapézio e nos estatelamos no chão. nem sempre claro. só de vez em quando. e mesmo assim sempre uns mais do que outros. porque já se sabe que uns são mais iguais que outros. uns nas quedas outros na falta delas.
de qualquer maneira esta prosa é só para dizer que hoje aprendi que qualquer pessoa se pode transformar em gaivota. como aquelas (gaivotas) que há uns anos revolviam caixotes de lixo na alta de Lisboa em busca de comida. suponho que o Tejo estava tão poluído que nem peixes havia. ou então eram apenas gaivotas preguiçosas que esperavam traineiras que não chegavam nunca porque não se queriam fazer ao mar mergulhar e buscar o seu próprio alimento. ou eram gaivotas que se estavam transformando em gente.

28 agosto, 2008

A festa - Maria Rita (clica aqui)


O teu corpo moreno
Vai abrindo caminhos
Acelera meu peito,
Nem acredito no sonho que vejo
E seguimos dançando
Um balanço malandro
E tudo rodando
Parece que o mundo foi feito prá nós
Nesse som que nos toca

Liberdade


Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

(Sophia de Mello Bryner Andressen)

porque é que não fazes anos todos os dias?


a vida não é fácil todos sabemos nunca é fácil ou talvez seja fácil às vezes quando estamos no ventre materno mas que eu saiba não há quem recorde algo tão longínquo quanto isso. até porque nascer é difícil. quem teve filhos sabe que é sempre difícil para os putos. e devem sentir-se completamente deslocados neste mundo tão diferente do aquário onde estiveram sossegados até que são obrigados a vir conhecer um mundo onde há muita terra. demasiada terra para quem está acostumado a tanta água.
a vida é difícil quando se é petiz porque nos proíbem mil e uma coisas cada vez mais. depois é a escola bem cedo mal deixaram as fraldas e já têm uma montanha de obrigações a cumprir. já não são só os pais a mandar mas os professores também. e são anos e anos a levar com cargas horárias que não nos deixam tempo para brincar e para aprender coisas que nos fariam muito mais falta na vida do que aquilo que nos obrigaram a aprender na escola. é o que eu penso. é por isso que agora resolvi perder maiúsculas e vírgulas. para me libertar um pouco daquela prisão a que nos obrigam na escola.. e depois temos que arranjar um emprego temos que ganhar o pão para a boca que os pais já cumpriram a sua obrigação. e às tantas temos que tomar conta dos pais como eles tomaram conta de nós só que não lhes podemos falar alto nem dar uma palmada nem obrigá-los a ir à escola da terceira ou quarta ou quinta idade eu sei lá.
fazes hoje 38 anos Sandra. vive o mais que puderes. aproveita cada bocadinho daquilo que a vida te dá. ama sempre como tens amado.
gostei muito de ter hoje perto de mim. foi mesmo a única coisa que me animou hoje. só por isso devias fazer anos todos os dias.

27 agosto, 2008

That's What Friends Are For - Dionne Warwick (clica aqui)

Keep smiling, keep shining
Knowing you can always count on me for sure
That's what friends are for
For good times, and bad times
I'll be on your side forevermore
That's what friends are for

Fotografia


Fotografei você sob todos os ângulos
Fotografei o mar, o por do sol, a lua...
Fotografei nós dois
fotografei o adeus triste e silencioso
de não dizer adeus...
(Teresa Mello)

só quero continuar a ser uma mulher moderna


quem me conhece sabe que não tenho os sete alqueires bem medidos portanto não se admirará por mais uma vez vir falar da violência que anda por aí e ter a cara de pau de defender alguns dos profissionais que por aí há. é verdade que são poucos mas bons. aqui há uns tempos havia quem levantasse dinheiro só no banco porque tinha medo de ser assaltado mas caixas atm. agora preferem as caixas atm que pelo menos não correm o riso de se tornarem reféns e terem uma arma apontada à cabeça. que se vá o dinheiro e que fique a vida. estou de acordo e de resto também nunca tive paciência para estar na fila de um banco para levantar dinheiro desde que há caixas atm. depois há quem se recuse agora a andar de avião quer porque têm medo que o avião caia quer porque tenham medo de seres desviados por terroristas ou tipos que apenas têm vontade de dar nas vistas. desculpem-me mas às vezes o amadorismo é tanto que é o que parece. querem aparecer nas primeiras páginas dos jornais é o que é. como diriam os contemporâneos vão mas é trabalhar.
andar de carro além de muito caro é também uma actividade arriscada. basta ter que parar numa bomba de gasolina para se arriscar a levar um tiro no meio da cabeça por meia dúzia de tostões. cada vez menos aconselhável portanto. pelo menos até que a malta perceba que para além de muito arriscado é pouco lucrativo o assalto a bombas de gasolina. afinal de contas a maior parte da malta paga com cartão.
agora aquele assalto à carrinha de valores isso sim. quais bombas de gasolina quais bancos... todos sabem que aí há muito pouco dinheiro. agora um assalto sem pôr em risco a vida de ninguém e levando uns bons milhões isso sim já é coisa que compensa. estou até a pensar em descobrir quem são os artistas para ter um curso de formação intensivo e mudar de vida porque já vi que estou a ficar completamente "demodée" e eu sempre me considerei uma mulher moderna.

26 agosto, 2008

Carry You Home - James Blunt (clica aqui)

As strong as you were
Tender you got
I'm watching you breathing for the last time
A song for your heart
But when it is quiet
I know what it means
I'll carry you homeI
'll carry you home

Terror de te amar


Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

(Sophia de Mello Bryner Andressen)

fazes-me falta


todos os dias te lembro e não há um só dia que te esqueça. são pequenas coisas conversas coisas do dia a dia que nos lembram de ti do teu profissionalismo da tua camaradagem da tua bondade e também desse teu feitio de escorpião que não sendo tão mau com o meu também não deixava que o risco fosse pisado ou ultrapassado. eu até acho que nem sequer tem nada a ver com o signo mas com princípios e sobretudo com dignidade.
mas o que eu queria hoje contar-te é o seguinte. um telefone tocou na minha sala e não estava lá ninguém eu ouvi corri para o meu telefone e puxei a chamada. do lado de lá uma voz masculina perguntou pelo António e eu disse que ele não estava. perguntou então com quem estava a falar e eu identifiquei-me. então ele perguntou se eu sabia com quem estava a falar e eu respondi não não sei mas quem diga com quem estou a falar. do lado de lá fez-se um silêncio que me pareceu sem fim até que a voz se decidiu a transformar-se em homem e respondeu é o Pedro. claro que o cumprimentei quase como se o conhecesse há muito quando na realidade vi-o umas três vezes na rua e apenas de uma delas me pareceu que ele me reconhecia não exactamente como quem sou mas como tua amiga. respondi ás questões que me pôs e despedi-me dele com alguma pena. porque sei que ele te fez muito mal mas também sei sinto que todos os dias se arrepende... ao contrário de ti é uma pessoa fraca daquelas que facilmente se deixa levar por onde não deve. de qualquer maneira hoje senti-me mais próxima de ti e a saudade aperta todos os dias um pouco mais apesar de ter agora um ambiente leve apesar disso tu fazes muita falta. a mim pelo menos.

25 agosto, 2008

A luz de tieta - Caetano Veloso (clica aqui)

Existe alguém em nós
Em muitos dentre nós
Esse alguém
Que brilha mais do que
Milhões de sóis
E que a escuridão
conhece também...
Existe alguém aqui
Fundo no fundo de você
De mim
Que grita para quem quiser ouvir
Quando canta assim...

Porque me falas nesse idioma?


Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando.
Em qualquer língua se entende essa palavra.
Sem qualquer língua.
O sangue sabe-o.
Uma inteligência esparsa aprende
esse convite inadiável.
Búzios somos, moendo a vida
inteira essa música incessante.
Morte, morte.
Levamos toda a vida morrendo em surdina.
No trabalho, no amor, acordados, em sonho.
A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente nos consuma
sem a consumir.

(Cecília Meireles)

mais do que pensas


não é pelo facto de estar em frangalhos que vou como dizem os brasileiros entregar os pontos. até porque tenho o apoio dos meus amigos de sempre e os de agora. sei que posso contar com quase toda a gente que me rodeia e não é um "caso" idiota que me vai deitar abaixo. não peço não quero nem pensar em que tenham pena de mim ou dos meus. os problemas quando aparecem têm que ser agarrados pelos cornos e é isso que vou fazer. amanhã já terei mais forças para lutar porque a decisão que tinha que tomar já tomei. e quando tomo uma decisão tudo fica mais claro e mais verdadeiro.
é claro que o amor é coisa difícil para quem acredita nele. acabo de ouvir que é uma pena eu não acreditar no amor. e no entanto eu já acreditei. mas também sempre acreditei que tudo tem um lado positivo. eu bem sei que pode parecer um acto de cobardia fugir disso a que chamam amor. mas pensem bem porque pode também ser um acto de coragem decidir viver o resto dos meus dias sozinha com os meus amigos, os meus livros a minha música o meu trabalho. de tudo isto gosto muito. e também gosto muito de gente. gente que me olha e que diz que admira a minha coragem. porque é claro que muita gente percebe que esta é a opção que fiz e que considero ser a melhor. pelo menos por agora. não esquecerei o sentido de humor. e sobretudo filho não esqueças que nasceste pela minha vontade contra a vontade de tudo e de todos. que lutei para que nascesses e que vou continuar a lutar para te ajudar a encontrar a felicidade. aqui entre nós, meu filho, amo-te muito mais do que pensas.

24 agosto, 2008

Ponto de rebuçado - Filarmónica Gil (clica aqui)

Se um dia der para baralhar
As pernas e os sentimentos
Não hesites em me apitar
Eu não guardo ressentimentos

E agora o que é que vais fazer?
Vou ficar aqui pendurado
Em ponto de rebuçado?

No mistério do sem fim


No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta

(Cecília Meireles)

é só


nunca devemos esperar que as coisas aconteçam mesmo quando podemos fazer com que aconteçam. não sei porque escrevo isto nem olho para o ecrã estou a deixar-me levar pelos dedos e os dedos não pensam e eu não quero pensar. em nada. não quero pensar nas gaivotas que não estavam no sítio do costume nem noutro qualquer excepto uma muito pequenina que parecia estar perdida da mãe e fiquei triste porque tu não estavas ali para eu te dizer que tenho pena daquela ave tão pequenina e com um ar tão desamparado mas como é que eu podia fazer alguma coisa não tenho um gato sequer que pudesse ensinar a gaivota a voar que podia fazer... mas fica a pior de todas as sensações a de nada poder fazer perante o sofrimento de alguém. sim porque as gaivotas são como a gente. odeio-as ou amo-as conforme o lado para que acordo ou conforme a companhia sei lá ou a falta de companhia. o que sei é que hoje a única gaivota que vi foi aquela pequenina e desamparada e tu não estavas lá. começo a pensar que nunca estás onde és preciso eu sei que não é verdade de vez em quando estás mas estou triste por causa da avezinha e isso faz com que eu desconte a minha frustração em cima de ti que não passas de um ser inventado que me acompanha ou não conforme me apetece estar ou não acompanhada. não ligues. gosto de dizer coisas que não dizem nada. é só.

23 agosto, 2008

Wrong Impression - Natalie Imbruglia (clica aqui)


I didn't want to leave you there
I'm coming out (yeah)
Wasn't trying to pull you in the wrong direction
Well I'm coming out (yeah)
Wasn't trying to pull you in the wrong direction
I'm coming out

Nua

Nunca serei virgem
Outra vez.
Serei apenas, a que
Abraça o mundo
E beija a vida.

(Sandra Terra)

inevitavelmente


as gaivotas continuam lá acho que são sempre as mesmas sempre na mesma rocha estão caladas e olham o mar como se esperassem algo. observo-as cuidadosamente mas não consigo perceber porque esperam. em vez disso viram-se para nós com uma ar muito sério de quem entende que entre nós há mais do que cumplicidade e segredos guardados um do outro. as gaivotas percebem sabem que o amor foi inventado por nós e que a qualquer momento podemos desfazê-lo como se tratasse de um bocado daquela espuma que vem nas ondas e se espraia na areia.
amanhã se elas lá estiverem vou fotografar juro-te para que um dia não possas dizer que estou a inventar que as gaivotas não existem nunca existiram que as inventei como te inventei a ti para ter alguém com quem pudesse inventar coisas novas. como inventámos já o amor o sorriso as mãos dadas os beijos e os abraços. vou fotografá-las para que possas ter a certeza que pelo menos as gaivotas "aquelas" gaivotas são de verdade. um dia destes quando já não nos lembrarmos de que inventámos tanta coisa teremos pelo menos a recordação em fotos das gaivotas que sabiam de tudo o que passa entre nós de tudo o que inventámos de tudo o que ganhámos e que havemos de perder. inevitavelmente.

22 agosto, 2008

O Pato - Joao Gilberto e Caetano Veloso (clica aqui)

Na beira da lagoa
Foram ensaiar
Para começar
O tico-tico no fubá...
A voz do Pato
Era mesmo um desacato
Jogo de cena com o Ganso
Era mato
Mas eu gostei do final
Quando caíram n'água
E ensaiando o vocal...



Brumas no olhar


Brumas no olhar cansado... nublado...
Aos poucos, coletando no horizonte,
Mergulhado profundo voltado aos "ontens"
Revivendo sonhos distantes do passado!
Migalhas de acalanto... tons mal ouvidos...
Melodias que embalam, quimeras,
Semblantes apagados, fotos... quisera,
Recambiar do passado anseios perdidos!
Mas, ai!... que urge o tempo impiedoso!
Os ventos passados não movem moinhos!
Nos ecos da vida se encontrado sozinho
Contando contas de colar precioso!
Um rosário de saudades a dedilhar,
Uma cesta de flores que perfuma
O amor, que aos poucos virou bruma...
Já não há mais sabor ao recordar!

(Olga Matos)

Como nós


pensávamos que existíamos e afinal era pura ilusão vontade existir de verdade mas não realidade. não sei explicar como foi o que aconteceu como nos enredámos nas nossas fantasias queria saber mas não sei. de um momento para o outro deixamos de nos ver. olhávamos um para o outro mas nenhum de nos estava lá. como se tivéssemos chegado de pontos diferentes de Marte e regressado a Marte cada um à sua vidinha sem importância e triste. como se afinal tivéssemos cegado de repente... foi assim.
a nossa estória fez-me lembrar a estória da dona Pequenina que eu pensava ser alcunha mas afinal era mesmo nome. a dona Pequenina era pequenina como o nome que carregava desde que os pais lho puseram. mais tarde casou com um homem que não era pequeno nem grande era apenas um homem de que ela gostava muito e que gostava muito dela. viveram muitos anos sendo felizes e brigando, tiveram filhos e foram envelhecendo. o marido da dona Pequenina começou a deixar de a ver. primeiro via-a cada vez mais pequenina e foi ao oftalmologista mas estava tudo bem e então ele pensou com certeza a Pequenina está diminuindo de tamanho. até que um dia chegou a casa e a Pequenina não estava. ou ele não a via. ainda chamou por ela mas como não ouviu resposta resolveu meter o essencial num saco de viagem e partir para Marte.
como nós.

21 agosto, 2008

A Valsinha - Chico Buarque (clic aqui)


E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar

O poeta hoje


O fascínio da poesia
é o mistério do poeta.
Resta comer
mastigar
sem pressa
o que faz um poeta
em nome da poesia.
Ele abandonou a lua
e a lira.
A musa hoje é outra
menos bela
menos pura
menos doce.
Hoje ele blasfema
não louva
ele xinga
não ora.
Hoje
ele é mais apavorante
que a miséria e a guerra
e a poesia
está viva nele
como todas as dores
da vida de hoje.

(Isamar Bersot)

O homem de ouro


É óbvio que eu estava à espera de uma medalha de ouro para Portugal nos Jogos Olímpicos para falar aqui no assunto. Esperei calada. Fiquei muito feliz com a prata da Vanessa Fernandes e ando moída. Eu sei que o pai dela foi um grande atleta, que sabe que é preciso dar o máximo, que é preciso sofrer muito para conseguir resultados. Mas ouvi-lo dizer à filha é preciso sofrer, sofrer, sofrer até cair, deixou-me mal. Eu percebo mas não consigo ultrapassar este sentimento. Fica aqui portanto o meu agradecimento e admiração à Vanessa e a minha solidariedade com a mãe dela que não faz senão chorar. Eu se calhar faria mesmo.
Acho que foi ao Nelson Évora que ouvi, acerca de declarações de Francis de que ganharia a medalha de ouro nos 100 metros, que as medalhas não se prometem. Conseguem-se. E tem toda a razão. Como em tudo na vida as promessas não servem de nada senão houver a garra suficiente para conseguir vencer. Seja o que for. Como diz o Venceslau é preciso sofrer. Não apenas no desporto mas também no nosso dia a dia. É preciso sofrer para se mostrar o que se vale. É preciso ter vontade de ultrapassar obstáculos, é preciso vencer o medo, dia a dia, momento a momento. A vida é feita de muito sofrimento e pequenas vitórias. E é preciso tirar mais alegria das pequenas vitórias e menos tristeza das grandes dores.
Por isso hoje o que tenho para dizer é apenas OBRIGADA NELSON ÉVORA!

20 agosto, 2008

Cantiga de Amor - Radio Macau (clica aqui)


Podia, se quisesses, explicar-te
Sem pressa, tranquila, devagar
E pondo, claro está, modéstia à parte
Uma ou duas coisas, se calhar
Que a lua está longe e mesmo assim
Dançar podemos sempre, se quiseres
Ou então, se preferires, fica aí
Que ninguém há-de saber o que disseres

Outra infância



Sobre um poema de Carlos Drummond de Andrade
Meu pai olhava os cavalos do patrão com inveja.
Minha mãe, debruçada na panelinha,
cozinhava a ansiedade de minha irmã faminta.
Eu sozinho menino entre adultos,
ilhados como Robinson Crusoé
numa história interminável.
No meio-dia escuro das sombras numa voz
que nos sobrevoou com o pesado orgulho dos feridos
alguém sempre esquecia que existia almoço.
Eu já sabia que aventura
é coisa de livro, de poesia.
Não entra em casa.
(Paulo Bentancur)

Estou apenas consternada.


Hoje foi realmente um dia de muito más notícias para todos nós e em particular para mim.
Em 11 de Dezembro do ano passado escrevi aqui sobre a coragem de um menino de 12 anos que lutava com uma leucemia. Aproveitei para apelar a todos para se tornarem dadores de medula. É fácil, indolor e pode salvar vidas. Uma que seja já vale a pena.
Hoje soube que esse menino corajoso que viu morrer ao seu lado outros meninos com a mesma doença e que dava força à sua própria família, afirmando que iria sobreviver e viver muitos anos junto deles, morreu. Com 13 anos morreu mais um menino de uma doença que só agora se começa a vislumbrar de alguma forma um tratamento, incluindo o transplante da própria medula quando os casos o permitem.
Continuo a não perceber porque morrem crianças. Para mim é uma tragédia tão grande a morte de uma criança que me deixa completamente fora do mundo. Se calhar é também por isso que não acredito em deus. Um deus que teoricamente é capaz de tudo, não é capaz de salvar crianças de morrer de fome, de doenças, de tiros... peço muita desculpa aos crentes mas todas as teorias que me possam apresentar para mi são inaceitáveis. Eu não aceito a morte de alguém que não teve tempo de viver uma vida, de satisfazer sonhos ou de ter a oportunidade de lutar por eles só porque esse foi o desígnio de deus como é costume ouvir argumentar.
Isto não acontece apenas porque tenho filhos e netos e uma irmã morta cedo demais. Mesmo que nada disto fizesse parte da minha vida eu continuaria a pensar da mesma maneira. Se a vida é sagrada como é que há um deus que permite que ela seja arrebatada seja lá porque motivo for?
À família já expressei a minha solidariedade e consternação. Agora deixo aqui os mesmos sentimentos por todas as crianças e jovens mortos antes de terem tempo sequer de saber o que é viver.

19 agosto, 2008

Lígia - Gal Costa (clica aqui)

Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
não vou a Ipanema
Não gosto de chuva
nem gosto de sol
E quando eu lhe telefonei,
desliguei foi engano
O seu nome não sei
Esquecí no piano
as bobagens de amor
Que eu iria dizer, não ...
Lígia Lígia

Estranhas lágrimas


Lágrimas... Noutras épocas verti-as.
Não fui de olhar enxuto como agora.
Eu próprio então me aconselhava:
"Chora que o pranto é um refrigério às agonias."

Ah! quantas vezes, pelas faces frias,
Melancolicamente, hora trás hora,
Gota a gota, rolando, elas, outrora,
Marcaram noites e marcaram dias!

Vinham do oceano da alma, estranho e fundo,
Quentes, num debulhar sincero e franco,
Mal reprimindo a minha angústia louca.

Nos olhos, hoje, as elimino e estanco.
Jorram, no entanto, sem que as veja o mundo,
Sob a forma de risos, pela boca!

(Félix Pacheco)

Para sempre, pai


Gostava sobretudo dos domingos de manhã quando pegavas em mim e no Zé e nos levavas a ver museus ou simplesmente a passear. Eram os dias mais felizes da minha vida e eu não sabia, porque aos 7 anos não se sabe quase nada, ou sabe-se apenas tudo o que é preciso ou seja aquilo que se aprende no jardim de infância que eu que não frequentei e aprendi contigo, pai.
Nesses dias íamos apenas os 3. Porque aos domingos à tarde quando saíamos com a mãe tu gostavas de a chatear e pedir-nos em voz alta que na rua te chamássemos primo. É claro que o ciúme dela começava a exacerbar-se e tu justificavas, que era verdade, uma vez que tu e ela eram primos, nós também éramos vossos primos e primos entre nós. Era uma das brincadeiras que tu gostavas de ter. Saí a ti, até nisso. Gosto de chatear, de moer, e não posso apanhar o ponto fraco de alguém porque não terá mais um bocado de paz na minha presença.
Há quem chame as crianças de muitas coisas. O EGV por exemplo chama-lhes jacarés. Nunca lhe perguntei porquê. Tu chamavas os filhos e os netos de macacos. Às vezes eu era um sagui. E um dia quando levei a Sandra a ver uma peça de teatro infantil, ali no Martim Moniz, um senhor que estava com a filha disse-me que a minha filha era muito parecida comigo. Eu respondi que era apenas minha sobrinha e ele então virou-se para ela e disse és uma menina muito bonita. A Sandra respondeu imediatamente, não sou uma menina sou uma macaca. Risada geral, claro.
Também nos mandavas lavar os talheres antes de nos sentarmos à mesa. Por isso quando na 1ª classe a professora estava a dar uma lição sobre higiene eu levantei-me e expliquei muito compenetrada que o meu pai nos obrigava sempre a lavar os talheres antes de comer. Ela achou tanta graça que esperou pela minha mãe para lhe contar.
Amanhã faz 9 anos que partiste. Nunca mais nada foi igual. Nunca mais fui verdadeiramente feliz. A saudade de ti é muito grande e sinto a tua falta todos os dias. Antes sabia que se precisasse, podia contar com os teus ouvidos e com a tua cabeça para me ajudar a fazer a coisa certa. Agora só posso contar comigo e nem sequer te posso perguntar se o que faço é certo.
Mas há uma coisa que sei, pai. Amo-te para sempre.

18 agosto, 2008

Luiza - Tom Jobim (clica aqui)


Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve
mora um coração

Iniciação Amorosa


A rede entre duas mangueiras
balançava no mundo profundo.
O dia era quente, sem vento.
O sol lá em cima,
as folhas no meio,
o dia era quente.
E como eu não tinha nada que fazer vivia namorando as pernas morenas da lavadeira.
Um dia ela veio para a rede,
se enroscou nos meus braços,
me deu um abraço,
me deu as maminhas.
A rede virou,
o mundo afundou.
Depois fui pra cama febre 40 graus febre.
Uma lavadeira imensa, com duas tetas imensas, girava no espaço verde.
(Carlos Drummond de Andrade)

Isto se calhar é só para não falar da campeã Vanessa Fernandes


Quem me conhece ou tem lido por aqui algumas coisas, sabe que o meu apreço pelo trabalho do MST é proporcional à aversão que sinto por ele como pessoa, ou melhor como ser humano... ou sentia.
Pois isto são coisas meio tolas mas fazem parte da vida. A verdade é que esta noite dormi mal, muito mal, adormeci com dores de cabeça, tentei evitar tomar comprimidos e não tomei mas acordei com a mesma dor de cabeça mas um sentimento maravilhoso: sonhei com o MST e no sonho cheguei à conclusão que o que não gosto nele é aquilo de que eu mais gosto em mim. Pensando bem MST, Dr. House e MEH são 3 pessoas muito parecidas. Todos temos mau feitio, somos socialmente incorrectos, adoramos dizer inconveniências e chocar os outros e sobretudo gostamos mesmo de ser más pessoas. Pior. Não gostamos de gente boazinha. Gostamos de ser como somos. Adoramos ser competentes e adoramos que nos detestem.
É lógico que não vou contar aqui o meu sonho. Esse vou guardá-lo para mim enquanto me lembrar (todos sabemos que esquecemos rapidamente a maioria dos sonhos, mesmo aqueles que gostaríamos de lembrar para sempre). Mas sempre adianto que tal como eu, no meu sonho, com todos os seus defeitos MST foi um homem tremendamente carinhoso. Afinal, um dos poucos homens (só me lembro destes dois), por quem seria capaz de me apaixonar.

17 agosto, 2008

Diamonds on the soles of her shoes - Paul Simon (clica aqui)

She was physically forgotten
Then she slipped into my pocket
With my car keys
She said you've taken me for granted
Because I please you
Wearing these diamonds

And I could say
Oo oo oo
As if everybody knows
What I'm talking about
As if everybody here would know
Exactly what I was talking about
Talking about diamonds on the soles of her shoes

Jornada


Para a sola curtida dos meus pés
parece até que a única coisa que sei fazer na vida é caminhar.

Pés de nômades me acompanham,
os de alma cigana me seguem acampamento afora,
os de retirantes são os que eu carrego.

Queria os pés dos colhedores de uva,
que se embriagam na fazença dos vinhos,
mas preferia em mim os dos que se apegam à terra.

Para a sola curtida dos meus pés,
que ora se enche se esperança e ora transborda de incerteza,
o que mais sobrou na vida foi caminhar.
A estrada, às vezes de pedra e às vezes de flores,
não oferece trégua ao andarilho que eu sou.

(Madi Rodrigues)

Adeus Francis e boa sorte


Phelps prometeu conquistar 8 medalhas de ouro e conseguiu. É preciso ter-se muita certeza daquilo que se é capaz de fazer e acreditar também no factor sorte para poder fazer uma promessa destas e cumprir. Não é que eu tenha pessoalmente muita simpatia por um tipo com corpo de gorila mas a verdade é que não lhe posso retirar o mérito de modo algum. O homem também não tem culpa de ter nascido assim com aquele físico um pouco para o esquisito. A verdade é que soube tirar partido disso e aí é que está o busílis da questão, De todas as questões. Há sempre um lado positivo em tudo, mesmo quando isso parece impossível.
E aqui à laia de parênteses sempre vos conto que ouvi hoje uma conversa entre dois tipos com idade para terem juízo, em que um deles dizia que deviam era autopsiar o tipo para ver porque conseguia vencer todos. Uma ideia fabulosa, não é?. Um tipo limpa os olímpicos de natação e depois matamo-lo para o autopsiar para perceber como conseguiu! Brilhante!
Já Francis prometeu uma medalha de ouro e nem sequer se classificou para a final. É verdade que o recordista mundial também não. Mas eu não o ouvi prometer uma medalha.
O que sempre me encantou em Francis foi o seu lado naif, assim como se fosse uma criança que nunca conseguiu chegar a adulto, pela sua ingenuidade. Adoro o Francis pela sua combatividade e por tudo o que ofereceu a um país que nem sempre o tratou bem. Mas foi realmente muito infeliz quando se atreveu a prometer uma coisa tão difícil quanto uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Porque não é apenas uma questão de vontade. Porque isso todos os atletas querem. Mas enfim. Francis anunciou o fim da sua carreira. Tenho pena. E é com pena que digo, adeus Francis e que tenhas boa sorte na vida. És apenas um menino.

16 agosto, 2008

Ainda Bem - Vanessa da Mata (clica aqui)


Entre tantos outos
Entre tantos séculos
Que sorte a nossa hein?
Entre tantas paixões
Nosso encontro
Nós dois, esse amor.

Espelhando Godot


primeiro acontece dentro
acontece como se houvesse
fogo queimado por dentro
pra fora como se acontece

mas depois se esquece quando
se é que o fogo aparece
ou se queima desde quando
é por isso que a gente esquece

esquece primeiro dentro
depois como se nada houvesse
acontecido lá dentro
se vive do que acontece.

(Marcelo Dolabela)

No Sopia Sopia


Foram 5 km debaixo de uma chuva miudinha que me fez lembrar o cacimbo em Angola. Nesta altura do ano eu estava sempre de férias fora de Luanda, acampada no mato, às vezes em sítios que não passam pela cabeça de ninguém, tal o isolamento. No Sopia Sopia só havia elefantes, espinheiras e moscas. Para podermos ler tivemos que improvisar uma tenda mosquiteiro. Metíamo-nos lá dentro e era a única maneira de se conseguir estar em sossego. Os 45 km que nos separavam da estrada principal eram feitos num Land Rover em 3 horas com vários furos pelo caminho. Por isso a única vez que fomos buscar provisões o pão durou mais de 15 dias o que fez com que eu ainda hoje guarde uma cicatriz no indicador da mão esquerda que não levou pontos porque a missão miais próxima ficava a mais de duas horas de viagem.
Em todo o tempo que ali estivemos só avistámos uma preta e a sua filha que tinha mais ou menos a minha idade. Comunicavam muito mal em português e quando o meu pai lhe perguntou como a miúda se chamava ela olhou para mim e perguntou como eu me chamava. Quando o meu pai disse que eu era Eduarda ela respondeu a minha é Induarda. Acabava ali de baptizar a filha com um nome mais ou menos português....
À noite, deitados nas tendas éramos acordados pelos elefantes que passavam a alguns quilómetros do acampamento mas que mesmo assim se faziam ouvir com intensidade.
Há muitas estórias para contar sobre férias passadas em Angola. Esta nem é uma estória. É apenas uma recordação. Algo de que me lembro sempre que olho para o meu indicador esquerdo, ou seja, todos os dias.

15 agosto, 2008

Mulher sem razão - Adriana Calcanhoto (clica aqui)

Caia
Na realidade farda,
Olha bem na minha cara e confessa que gostou.

Do meu papo bom
Do jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar
Mulher sem razão
Ouve o teu homem
Ouve o teu coração,
Ao cair da tarde.
Ouve aquela canção que não toca no rádio.

Madrigal


Ainda é possível este amor
Como um regresso ao paraíso?
Aroma apenas de uma flor?
O beijo apenas de um sorriso?
Ainda é possível este amor?
Qual a resposta que preciso?
E nada digo!
E nada dizes!
Tudo nos basta num olhar
E que tu, mão, lisa, deslizes
Por sobre a minha, devagar...
Com pouco somos tão felizes
Que é já demais pedir luar!
E é já demais esta poesia
Se há cada vez menos valor
Nas tais palavras que diria
Para dizer-te o som e a cor
De um coração em harmonia
Que só se diz, dizendo: Amor!
(Manuel Couto Viana)