20 agosto, 2008

Outra infância



Sobre um poema de Carlos Drummond de Andrade
Meu pai olhava os cavalos do patrão com inveja.
Minha mãe, debruçada na panelinha,
cozinhava a ansiedade de minha irmã faminta.
Eu sozinho menino entre adultos,
ilhados como Robinson Crusoé
numa história interminável.
No meio-dia escuro das sombras numa voz
que nos sobrevoou com o pesado orgulho dos feridos
alguém sempre esquecia que existia almoço.
Eu já sabia que aventura
é coisa de livro, de poesia.
Não entra em casa.
(Paulo Bentancur)

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