11 julho, 2010

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Ondjakiondjaki [é verdade que durmo pensando em não acordar; e por vezes desperto com a esperança de que seja essa a última vez. só a vida me corrige...]

Vilarejo - Marisa Monte

Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar

Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção

Tem um verdadeiro amor
Para quando você for

Palavras para a minha mãe


mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

(José Luís Peixoto)

voltar a caminhar

aos 85 anos reaprendes a caminhar. e é como se fosses uma menina cheia de vontade e garra. agora não sou mais a tua menina ou pelo contrário sou como nunca fui a tua menina. ou somos a menina uma da outra. pergunto-te queres caminhar mais um bocadinho e respondes com outra pergunta tu queres e afinal o que interessa é o teu querer e não o meu. a vontade que tens de voltar a andar... e por mais que te diga tu andas achas que não porque estás por enquanto dependente de terceiros para caminhares. e agora o teu neto pega em ti e leva-te a dar a volta à sala e às tantas tira as mãos das tuas e exclamas como uma criança eu estou a andar. percebes finalmente que és capaz. tens que dizer a todos os presentes que afinal és capaz de andar. e quem está lúcido em cadeiras de roda abre um sorriso. hão-de pensar para si mesmos afinal é possível. quem sabe pensem até que eles mesmos podem voltar a andar. seria bom... e de repente imagino todos aqueles velhos a caminhar pela sala com passinhos inseguros mas passos de qualquer maneira passos que os farão caminhar que os farão sentir-se livres agora que voltaram a ser de alguma maneira crianças. e como crianças às vezes discutem e tu para quem falo hoje tu que dás os primeiros passos que eu temia não voltasses a dar perdes a paciência com facilidade e mostras assim o mau feitio e eu nunca fiquei tão feliz por te ver assim irritada... porque afinal minha mãe e minha filha... estás viva e pronta a caminhar de novo.

10 julho, 2010

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Ondjakiondjaki [eu sou o meu chão / e, quase sempre, / o meu inquieto silêncio...]

O ron ron do gatinho - Adriana Calcanhoto (clica aqui)

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratidão.

Ode ao gato

Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.

(José Jorge Letria)

cadela como nós


ela chegava e ficava sentada perto da porta da rua. só saía dali se a chamássemos. enorme ali ficava tão sosegada que nem se percebia que dentro de casa estava uma cadela enorme. passeou pelo mundo com a dona. acompanhou-a pela europa dentro da velha carrinha amarela. estava acostumada a defendê-la e por isso desde que não sentisse a ameaça à família mantinha-se quieta. olhava-nos com um olhar muito doce. o olhar de alguém como nós. em milão num apartamento minúsculo com um bebé não se dava por ela. dormia debaixo da cama dos donos e zelava pelo pablo. só se ouvia quando sentia alguém estranho naquele sétimo andar. querida melanina. envelheceu e adoeceu. vive há muito tempo com grandes dificuldades.foi preciso arranjar um carrinho para fazer de andarilho para que pudesse andar. hoje foi à praia. nadou com sempre. gosta de mar. até nisso a melanina é como nós. são as suas últimas idas à praia. o fim está anunciado. o pedro chora convulsivamente quando recebe a notícia. está aqui ao pé de mim e eu não sei como consolá-lo. faço um esforço para não fazer coro. tenho um nó na garganta. o pablo não sabe ainda do fim anunciado. saberá apenas quando o facto estiver consumado. não poderei estar ao pé dele como estou agora com o pedro. quando nasceu a melanina já não era nova. aceitou-o imediatamente como fazendo parte da família. com ternura e zelo. fizeste parte das nossas vidas melanina e deixas saudades e lembranças felizes. também tu és uma cadela como nós.

06 julho, 2010

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Ondjakiondjaki o lado secreto da lua / a luz / a lâmina nas palavras / a melodia densa e nua / sou o deserto nos meus versos

Gerânio - Marisa Monte (clica aqui)

Faz amor e anda de bicicleta dentro de casa
E corre quando quer
Cozinha tudo, costura, já fez boneco de pano
E brinco para a orelha, bolsa de couro, namora e é amiga

Tem computador e rede, rede para dois
Gosta de eletrodomésticos, toca piano e violão
Procura o amor e quer ser mãe, tem lençóis e tem irmãs
Vai ao teatro, mas prefere cinema

Sabe espantar o tédio
Cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto, é infinita, sensível, linda
Estou com saudades e penso tanto em você

Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda...

Dorme e acorda

Bando dos gambozinos


Menina dos olhos doces
adormece ao meu cantar:
Tenho menina de trapos,
Tenho uma voz de luar...

Os meus braços são a lua
quando ela é quarto crescente:
dorme menina de trapos,
meu pedacinho de gente.


(Matilde de Araújo)

eu avisei!

vamos a ver se entendo. das duas uma. ou a comunicação social portuguesa está nas mãos de amadores ou está nas mãos do governo. qualquer das hipóteses é má. pior que má. é péssima. e agora vamos aos factos embora eu tenha andado anos a pensar que um blogue não devia substituir-se à comunicação social. quero dizer não acho que o papel de um blogue seja dar notícias mas comentá-las criticá-las elogiar ou como é mais comum dizer o que nos vai na alma sobre toda e qualquer notícia que nos diga alguma coisa. um blogue para mim pode servir para milhentas coisas. mas hoje aqui no meu tempo sinto-me na obrigação de dar uma notícia que passou em brancas nuvens. já lá vão quatro dias e desisti de ouvir a mais leve menção ao facto em qualquer media. portanto aqui vai. no dia 2 de julho de 2010 os trabalhadores da segurança social portuguesa fizeram uma greve nacional. foi a primeira greve a solo da segurança social portuguesa. os meios de comunicação social foram avisados em devido tempo da notícia. a estação de televisão sic comprometeu-se mesmo junto de um sindicato a cobrir a notícia. vocês viram alguma coisa? eu também não. daí que fique sem perceber porque é que uma greve que fechou vários atendimentos públicos de segurança social não tenha merecido uma única linha na media. estou convencida que em poucos meses as notícias sobre este organismo serão alvo de todas as atenções. quando não houver quem dê seguimento ao trabalho e os erros forem notícia aí os trabalhadores serão alvo de todas as críticas e não lhes valerá de nada dizer eu avisei!

01 julho, 2010

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GabrielGarcíaMárquezElGabo La tecnología más compleja que manejan los periodistas es el lenguaje, la palabra.

Preciso dizer que te amo - Cazuza (clica aqui)

E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto

Como uma criança


Como uma criança antes de a ensinarem a ser grande,
Fui verdadeiro e leal ao que vi e ouvi.

(Alberto Caeiro)

quieta

a casa. sei que vou encontrá-la quieta. eu. a casa. quietas. entro e tudo parado. os livros arrumados nas estantes. quietos. as oliveiras na mesa do hall. quietas. a roseira na sala de estar. quieta. tudo quieto. parado. em sossego. apenas os peixes se movem. mas num silêncio que quase magoa quase dói e no entanto quero ficar assim. sento-me e fico quieta. há quanto tempo não ficava assim com a noção da casa só para mim. sabia que ia entrar e sentir isto. há muitos anos esta quietude inquietava-me. era preciso ouvir algo mexer-me fazer de conta que afinal nada quieto. afinal o movimento de uma grande família ou de amigos ou simplesmente gente. mas hoje quero esta sensação de sossego absoluto. esta certeza que tenho. se me apetecer ligo a televisão e vejo qualquer coisa e afinal aqui sentada vou correndo mundo sem sair do mesmo lugar. amanhã o dia de inquietude. a primeira greve nacional do instituto em que trabalho. o caminho vai-se fazendo. devagar. há pouco mais de um mês foi a primeira concentração de trabalhadores do organismo. agora alarga-se como se pode a acção. amanhã nada estará tão quieto. saber se a comunicação social cobre o que quer que seja. não apareceu na concentração. que ultrapassou todas as expectativas. será que amanhã se ouvirá dizer alguma coisa? estamos todos cansados. não nos falem em 45 horas semanais. isso é conversa de quem não faz nada. se estivessem realmente a trabalhar durante 7 horas chegariam ao fim do dia esgotados. finalmente saberiam como é bom estar assim. quieta. a casa. eu.