01 julho, 2010

quieta

a casa. sei que vou encontrá-la quieta. eu. a casa. quietas. entro e tudo parado. os livros arrumados nas estantes. quietos. as oliveiras na mesa do hall. quietas. a roseira na sala de estar. quieta. tudo quieto. parado. em sossego. apenas os peixes se movem. mas num silêncio que quase magoa quase dói e no entanto quero ficar assim. sento-me e fico quieta. há quanto tempo não ficava assim com a noção da casa só para mim. sabia que ia entrar e sentir isto. há muitos anos esta quietude inquietava-me. era preciso ouvir algo mexer-me fazer de conta que afinal nada quieto. afinal o movimento de uma grande família ou de amigos ou simplesmente gente. mas hoje quero esta sensação de sossego absoluto. esta certeza que tenho. se me apetecer ligo a televisão e vejo qualquer coisa e afinal aqui sentada vou correndo mundo sem sair do mesmo lugar. amanhã o dia de inquietude. a primeira greve nacional do instituto em que trabalho. o caminho vai-se fazendo. devagar. há pouco mais de um mês foi a primeira concentração de trabalhadores do organismo. agora alarga-se como se pode a acção. amanhã nada estará tão quieto. saber se a comunicação social cobre o que quer que seja. não apareceu na concentração. que ultrapassou todas as expectativas. será que amanhã se ouvirá dizer alguma coisa? estamos todos cansados. não nos falem em 45 horas semanais. isso é conversa de quem não faz nada. se estivessem realmente a trabalhar durante 7 horas chegariam ao fim do dia esgotados. finalmente saberiam como é bom estar assim. quieta. a casa. eu.

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