31 dezembro, 2018

com amor

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o que define o amor não são palavras mas acções. por mais que sintamos um amor imenso ele não resistirá a discussões constantes. não é possível conviver com alguém que exige tudo sem dar nada em troca. não é possível ser feliz sem carinho. são precisos muitos beijos e abraços. fazer amor com amor e não apenas porque é preciso mostrar um fogo que não existe. inventar todos os dias para não cair na rotina e tornar rotina o que faz o outro feliz. para um relacionamento feliz o amor não basta. é necessária muita cumplicidade. pontos de vista semelhantes. gostos semelhantes. o amor só por si pode bastar quando somos jovens e mais permeáveis ao outro. pode bastar quando se inicia um relacionamento na juventude. conheço casais que construíram famílias muito felizes apesar das diferenças iniciais. começaram jovens e o amor foi o motor que permitiu a adaptação ao outro. é cada vez mais difícil encontrar casais que ficam juntos para sempre. os relacionamentos ditos sérios começam cada vez mais tarde. quanto mais velhos somos menos capacidade de adaptação temos. neste fim de ano desejo que sejam felizes. sós ou acompanhados... com amor.


30 dezembro, 2018

há gente assim

Mulher retro — Fotografia de Stockao princípio pareciam ser uma dupla simpática. talvez simpática demais. duas mulheres que aparecem sempre juntas. bem arranjadas. a mais velha sempre de chapéu que lhe dá um ar de distinção de outros tempos. de anos 20 do século passado. geralmente reservada. o gênero de pessoa que abre a boca para dizer obrigada ou algo semelhante. o resto da conversa deixa para a mais nova. esta tem obrigação de fazer a despesa de conversa necessária para conseguirem o que querem. começa por se desfazer em sorrisos. pergunta como temos passado. é amável. demais. e como tudo o que é demais cheira mal começo a gastar o meu tempo a analisar a dupla. começo a perceber que não passam de duas manipuladoras. deixo de sorrir quando aparecem. depois decido mesmo fazer cara feia. o pior que consigo. resulta. da última vez acompanhava-as uma terceira mulher. e foi esta que fez o pedido da praxe. a cara feia resultou. o pedido foi negado. creio que a dupla deixará de fazer o teatro do costume. pelo menos comigo já não resulta. não gosto de gente falsa. irritam-me. deixam-me mal disposta. não tenho paciência para esta gente e não é de agora. nunca tive.

contem comigo

há uma semana estava tão angustiada que imaginei cenários. num desses cenários deixava este país e ia ser feliz noutro lugar. sabendo que não é por mudar de lugar que vou ser mais ou menos feliz. sabendo que daqui para a frente a minha felicidade passa por estar como estou neste momento rodeada pelos meus gatos. esses sim são felizes. pelo menos é o que eu sinto quando olho para eles. e é por ter percebido que tenho muito mais que a maioria das pessoas que a angústia se foi. a família está reduzida a quase nada mas existe. é de verdade. é solidária. é a minha família. os amigos são poucos mas estão presentes mesmo quando estão longe. sei que posso contar com eles. marcaram a minha vida e continuam a viver no meu coração. sinto saudades imensas do futuro que não viverei mas dentro de mim continuam a existir sonhos. um desses sonhos foi este espaço que iniciei faz amanhã alguns anos. aqui sou eu sem tirar nem pôr. quer quando desabafo quer quando conto estórias que nascem do que observo no meu dia a dia. se conseguir voltar a contar boas estórias serei uma pessoa mais realizada. é o que vou tentar fazer daqui para a frente. contem comigo.



23 dezembro, 2018

onde estão os dias felizes

Andar : Foto de stockvão longe os dias felizes. os miúdos ansiosos pela meia noite. a chegada do pai natal pela janela da cozinha. mais distantes ainda os dias tropicais de natal quando ainda havia um menino jesus que deixava prendas no sapatinho dos meninos que se portavam bem. um menino jesus tão humano que sujava o pezinho na chaminé. os dias felizes terminaram há muito. o natal tornou-se uma época que só quero que passe rapidamente. recuso ver mensagens de natal e não atendo o telefone quando sei que do lado de lá são os tradicionais votos de natal. as chamadas das pessoas socialmente correctas que só se lembram de mim no natal. como detesto gente socialmente correcta! esta consoada será diferente. teremos à mesa alguém que tal como nós não tem com quem passar a noite. uma mulher que nasceu com paralisia cerebral e que vive num lar onde outros como ela passarão a noite sem família. os que nunca tiveram dias felizes. espero que para a nossa convidada de honra seja uma consoada mais feliz. estou certa que a minha noite de natal este ano será diferente. menos solitária. mais feliz porque mais solidária. 

05 novembro, 2018

o importante é a rosa

sinto-me feliz por rever o homem da rosa. recuperou de um estado de abandono que dava dó. gosto de ver o seu olhar brilhante quando me olha. no  outro dia disse-me que me lembrasse dele quando me divorciasse. mal sabe ele que vivo divorciada do mundo em geral. mal sabe ele o bem que me faz saber o bem que lhe faço sem nada fazer. ver aqueles olhos claros abandonar os mais de oitenta anos que já viveram e mostrarem-se como se tivessem vinte e uma vida á sua frente. como eu gostava de fazer por alguém o que este homem faz por mim. acreditar que um dia darei rosas a alguém só porque sim. sem outra razão para além daquela que me tornará os olhos brilhantes.

21 junho, 2018

é só um desabafo

Resultado de imagem para imagens de justiçanão sou nem social nem politicamente correcta. sou uma pessoa solidária e justa. defendo com unhas e dentes os valores em que acredito e se a cor que defendo agir contra isto não a vou defender. sou assim na vida e não exijo aos outros mais do que exijo de mim. mas também não exijo menos. sou leal. sou fiel. não tolero gente que fala dos outros sem olhar para si mesmo. não tolero gente que pretende subir na vida à custa do trabalho dos outros. não tolero gente que se esconde atrás de pretensas virtudes. toda a vida dei o melhor de mim no trabalho e na minha vida pessoal. não pretendo continuar a dar a quem não merece o meu respeito. quando tenho algo a dizer a alguém que considero vou ter com essa pessoa e falo.  ou não me dou ao trabalho mas também não divido com ninguém as minhas opiniões. não tolero cobardes e mentirosos. por isso quando não estou bem mudo-me. por isso os meus amigos são muito poucos. mas são muito bons!

14 junho, 2018

Joan Baez - Gracias a la vida

Gracias a la Vida

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Gracias a la vida,
que me ha dado tanto;
me dio dos luceros
que cuando los abro
perfecto distingo
lo negro del blanco,
y en el alto cielo
su fondo estrellado,
y en las multitudes
al hombre que yo amo.

Gracias a la vida,
que me ha dado tanto;
me ha dado el sonido
y el abecedario.
Con él, las palabras
que pienso y declaro:
"padre", "amigo", "hermano",
y "luz", alumbrando
la ruta del alma
del que estoy amando.

Gracias a la vida,
que me ha dado tanto;
me ha dado el oído
que en todo su ancho
graba, noche y día,
grillos y canarios,
martillos, turbinas,
ladridos, chubascos.
y la voz tan tierna
de mi bienamado.

Gracias a la vida,
que me ha dado tanto;
me dio el corazón,
que agita su marco
cuando miro el fruto
del cerebro humano,
cuando miro al bueno
tan lejos del malo,
cuando miro el fondo
te tus ojos claros.

Gracias a la vida,
que me ha dado tanto;
me ha dado la marcha
de mis pies cansados.
Con ellos anduve
ciudades y charcos,
playas y desiertos,
montañas y llanos,
y la casa tuya,
tu calle y tu patio.

Gracias a la vida,
que me ha dado tanto;
me ha dado la risa
y me ha dado el llanto.
Con ellos distingo
dicha de quebranto,
los dos materiales
que forman mi canto;
y el canto de ustedes,
que es el mismo canto;
y el canto de todos,
que es mi propio canto.

Gracias a la vida,
que me ha dado tanto.

Violeta Parra

Gracias a la vida...


os anos passam e fui acumulando recordações. coleccionei caixas e gavetas de recordações. senti agora vontade de pôr um pouco de ordem nesta montanha de pequenos momentos que fizeram tão importantes os momentos mais felizes dos anos que já vivi. são imensas as cartas de amigos, postais de felicitações por momentos a que eles deram mais importância que eu. poemas que me dedicaram. a primeira carta que recebi com menos de 1 ano da minha avó paterna. imensas cartas de amor. poemas que escrevi em miúda e que não têm qualquer valor mas que guardei religiosamente porque espelham as angústias e a felicidade de cada fase da minha vida. à medida que vou abrindo caixas volto aos momentos que vivi. tantas recordações de viagens. guardei bilhetes de avião, bilhetes de entrada em museus e monumentos guias turísticos eu sei lá... guardei também bilhetes de peças de teatro que me marcaram e os folhetos respectivos. não há concerto a que tivesse assistido que não tivesse guardado o bilhete. abrir agora estas caixas é reviver um pouco de tudo o que de bom a vida me deu. e foi tanto! tal como violeta parra digo "gracias a la vida que me ha dado tanto, me ha dado la risa y me ha dado el llanto"

13 junho, 2018

Compay Segundo - Sabroso

Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, 
e o que nos ficou não chega 
para afastar o frio de quatro paredes. 
Gastámos tudo menos o silêncio. 
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, 
gastámos as mãos à força de as apertarmos, 
gastámos o relógio e as pedras das esquinas 
em esperas inúteis. 

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. 
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; 
era como se todas as coisas fossem minhas: 
quanto mais te dava mais tinha para te dar. 

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. 
E eu acreditava. 
Acreditava, 
porque ao teu lado 
todas as coisas eram possíveis. 

Mas isso era no tempo dos segredos, 
era no tempo em que o teu corpo era um aquário, 
era no tempo em que os meus olhos 
eram realmente peixes verdes. 
Hoje são apenas os meus olhos. 
É pouco, mas é verdade, 
uns olhos como todos os outros. 

Já gastámos as palavras. 
Quando agora digo: meu amor
já se não passa absolutamente nada. 
E no entanto, antes das palavras gastas, 
tenho a certeza 
que todas as coisas estremeciam 
só de murmurar o teu nome 
no silêncio do meu coração. 

Não temos já nada para dar. 
Dentro de ti 
não há nada que me peça água. 
O passado é inútil como um trapo. 
E já te disse: as palavras estão gastas. 

Adeus. 

Eugénio de Andrade

não sou capaz de deixar de te amar




se naquele dia tivesses aparecido no aeroporto e me tivesses pedido para ficar eu teria ficado. era só o que eu queria. ver-te entrar a correr abraçar-me e dizer apenas a palavra mágica. fica. mas isso não aconteceu. pela segunda vez tu não apareceste. pela segunda vez tu ignoraste-me. parti com o coração despedaçado e olhos marejados de lágrimas. no funchal olhei para mim ao espelho e disse tens que andar para a frente. ele não merece as tuas lágrimas. está feliz. mentiu-te sempre. enganou-te sempre. esquece. tens que esquecer. tens que esquecer. tens que esquecer. mas não esqueci. durante muitos anos não adormeci sem te desejar boa noite. furiosa comigo mesma por não conseguir deixar de o fazer todas as noites. a vida seguiu com muitas dificuldades mas com muita vontade de viver. apesar de ti. apesar das mentiras. apesar de tudo. escrevi-te muitas cartas. tinha que deitar para fora o sofrimento. escrevia e rasgava. mas sentia-me melhor. era o meu modo de desabafar. anos mais tarde voltei. muito doente. levaram-me a especialistas fizeram-me exames e concluíram o que eu sempre soube. o meu mal está na alma. para este mal não há pílulas nem xaropes. não ha sequer medicina que resolva. teria que nascer de novo e viver uma vida nova. uma vida onde não te tivesse conhecido. onde não existisses. e ao fim de quarenta anos procuraste-me. e eu percebi que ias continuar a mentir. percebi melhor então que enganar está na tua natureza. inventaste um homem que não existe e convenceste-me a ficar contigo. mas eu não consigo  suportar mentiras. não consigo suportar oportunistas. não consigo suportar este amor que há-de morrer comigo porque não consigo assassiná-lo. 

12 junho, 2018

Amar pelos dois

Eu simplesmente Amo-te

Eu amo-te sem saber como, ou quando, ou a partir de onde. Eu simplesmente amo-te, sem problemas ou orgulho: eu amo-te desta maneira porque não conheço qualquer outra forma de amar sem ser esta, onde não existe eu ou tu, tão intimamente que a tua mão sobre o meu peito é a minha mão, tão intimamente que quando adormeço os teus olhos fecham-se. 

Pablo Neruda

quem sabe

 
hoje meu amor encontrei as primeiras páginas do livro que comecei a escrever antes de nasceres. o que me levou a escrever foi o facto de me sentir desenraizada. tive pouca convivência com as minhas avós, sobretudo a paterna. vivíamos em áfrica e éramos cinco. até aos cinco anos éramos seis. os pais os irmãos e a querida tia emília que fez o papel de mãe sempre que foi preciso. foi perfeita em todos os papéis que representou na vida. não me lembro de uma zanga. quando ralhava connosco usava um tom tão carinhoso... apenas as palavras diziam que não podíamos andar à pancada. morreu o ano passado como viveu: em paz com a vida. ela teve uma vida tão difícil e quem não conhecesse a sua vida diria que a sua vida fora um mar de rosas. gostaria que a tivesses conhecido melhor. depois ela voltou para lisboa e um pouco depois a tua bisavó materna foi ter connosco. estava viúva e os meus pais lembraram-se de a convidar a viver connosco. foram tempos muito felizes. a tua bisavó era muito habilidosa e uma extraordinária contadora de estórias. ensinava-nos a construir papagaios e carros de rolamentos. mas deu-se mal com o clima e adoeceu com paludismo. quando viemos de férias ela não voltou conosco. só depois do 25 de abril quando regressei a portugal tive mais contacto com o resto da família mas já era tarde. nunca consegui sentir-me parte dela. a vida levou-me de novo para longe. nasceram o teu pai e os teus tios e todo o tempo de que dispunha era para eles. muitos anos depois ainda conheci alguns familiares da minha mãe. mas sempre tive dificuldade em lhes chamar  tias e primas. eram a família dos meus pais. para mim a família resumiu-se a meia dúzia de pessoas. foi por isso que decidi começar a escrever para ti. onde quer que estejas hoje meu amor não esqueças que te amei muito ainda antes de nasceres. continuarei a amar-te até que a memória me deixe. quem sabe terminarei o livro que comecei para ti um dia.

11 junho, 2018

FAFÁ de BELÉM-(CORAÇÃO do AGRESTE)


Eu voltei pra juntar pedaços
De tanta coisa que passei
Da infância abriu-se o laço
Nas mãos do homem que eu amei
O anzol dessa paixão me machucou
Hoje sou peixe
E sou meu próprio pescador


Poema da despedida


Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal, 
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora 
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.

Mia Couto

vozes de burro não chegam ao céu

conheci recentemente um tipo que felizmente não chegou a juiz. estou certa que com alguma pena pois o senhor é capaz de em menos de 10 minutos julgar o carácter a inteligência e se calhar muito mais coisas de que não teve tempo de falar. assim sem mais nem menos emitiu opiniões sobre pessoas que não conhece senão de ver de passagem. imagino que este tipo despachava processos a toda a velocidade se fosse juiz. perdíamos o estado de direito mas tenho a certeza que se acabaria com processos pendentes nos tribunais em menos de um ai. sempre que me perguntam a opinião sobre alguém que conheço há apenas uns dias respondo que não tenho opinião formada. como posso eu julgar alguém que não conheço se a vida me tem ensinado que o que não falta por aí são mentirosos e manipuladores que nos parecem uns anjos e mais tarde (às vezes tarde demais) descobrimos que caímos como uns patinhos na canção do bandido. e foi assim que aprendi a não tirar conclusões precipitadas sobre os outros. por princípio acredito piamente em toda a gente ou não fosse a minha religião a fé imensa que deposito no ser humano. felizmente uma andorinha não faz a primavera e já agora vozes de burro (da espécie humana) não chegam ao céu.