28 fevereiro, 2007

Oito anos - Adriana Calcanhoto


Do que é feita a nuvem?
Do que é feita a neve?
Como é que se escreve
Ré...vei...llon

Amor Bastante


quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto


(Paulo Leminski)

Isto é uma espécie de croniqueta.


Ando meia adormecida e pouco inspirada para estas croniquetas... pronto: acabo de inventar uma nova palavra: daqui a nada quando fizer a correcção ortográfica o corrector não saberá o que dizer. É bem feito, para não ter a mania que é mais esperto que eu!
Sendo assim e como não sei de que falar, vou deixar mais uma vez os dedos percorrerem o teclado conforme lhes aprouver (esta é para me redimir da croniqueta).
Um dia destes dizia a uma colega que não vivo para o trabalho. É verdade. Também é verdade que nem sempre fui assim. Trazia trabalho para casa, ficava no emprego o tempo que fosse preciso... mas curei-me. E não faço segredo disso. Trabalho porque preciso de pagar as minhas contas como toda a gente. Se pudesse viver do ar, vivia. Hoje tratei de um processo de uma pessoa que viveu durante 49 anos de uma pensão. Era pensionista desde os 31 anos. Se foi dada como inválida nessa altura, a invalidez, para o bem dela, deixou-a viver um tempo bem razoável, à custa do erário público. Cerca de 2/3 da sua vida a receber pensão. Quem trabalha hoje e desconta de verdade, não sabe se terá sequer tempo para se reformar, quanto mais se, tendo a sorte de ter saúde para chegar à idade da reforma, que por essa altura há-de andar pelos 70 anos, haverá algum do dinheiro que descontou toda a vida para ter direito a um ou dois anos sem ter que pensar em horários de trabalho... é por isso que eu deixei de viver para o trabalho. Quer dizer: não só, mas também. A verdade é que quem tinha razão era o meu pai: quem veste a a camisola, sai sempre "lixado". E eu sei disso por experiência própria. Por isso, cumpro com o meu dever sim senhor. Sou paga para efectuar um trabalho e dou o melhor de mim, mas limito-me a cumprir o meu dever. Deixei de trabalhar de borla... que isso é já quase o que faço eu e a maioria dos portugueses activos deste país. Ninguém se pode queixar da falta de produtividade quando ganhamos o mesmo fazendo muito ou pouco... a maioria das pessoas está-se nas tintas e faz o menos possível. E depois chamam-me parva. Se calhar até sou, mas pronto, já fui mais e continuo a dormir de consciência tranquila e a poder dizer na cara do director que saio mais cedo porque ontem saí mais tarde e ninguém me paga para isso.


27 fevereiro, 2007

yesterday

Yesterday
All my troubles seemed so far away
Now it looks as though they're here to stay
Oh, I believe
In yesterday

Leveza

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.

E o que lembra,
ouvindo-se deslizar seu canto,
mais leve.

E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.

E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.

(Cecília Meireles)

Como ter ciúmes de quem se ama?

(Eu bem sei que o Carnaval já foi: mas não resisto a este Arlequim...)

A maioria das pessoas tem o prazer da comida. Não quero com isto dizer que todas as pessoas que têm o prazer da comida comam excessivamente. É mais no sentido dos que gostam de petiscos, acompanhados por uma bebidinha, com ou sem álcool. A maior parte das vezes as pessoas escolhem para comer os restaurantes onde consideram que se come bem. Pois bem... fazem muito bem!
Acontece que nós somos todos diferentes e eu como porque tenho que comer. Não quer isto dizer que coma tudo o que me ponham à frente ou que seja esquisita. Como quase tudo, mas sem prazer, entendem? O meu prazer é, sem dúvida a companhia e o ambiente. Gosto imenso de crianças, mas detesto restaurantes com criancinhas a chorarem ou a fazerem birras descomunais... ou sítios aonde os adultos se comportam de forma ainda mais detestavel do que as crianças, pretendendo, por exemplo, dar nas vistas chamando a atenção sobre si mesmos. É o que chamo de situações tristes.
É por isso que gosto tanto de almoçar com a Lena na Bulhosa. Porque o almoço é apenas um pretexto. Para estar com ela, para conversarmos, para trocarmos ideias e cumplicidades. Resolvi levar hoje impresso, o que escrevi aqui acerca dos nossos encontros na última quinta feira. Na verdade devia fazê-lo de todas as vezes que o faço, uma vez que como não é dada a este bichinho da informática não tem acesso ao blogue. Por isso comprometi-me a imprimir tudo o que tenho escrito aqui, sobre ela, sobre nós, sobre os nossos encontros e desencontros. E vou cumprir porque sou mulher de palavra e porque o laço que nos une é uma das coisas mais fortes e sinceras que tenho na vida.
Porque a Lena USA as palavras. Não tem medo das palavras. Não existem tabus. Pronunciamos as palavras, todas as palavras. Palavras como amor, raiva, solidão, amizade, lealdade, compaixão... é por isso que eu gosto tanto dela. Porque posso falar de tudo e de nada, porque mudamos de assunto constantemente, porque nos lemos com a frequência sintonizada.
Ah! E hoje a Lena conheceu o Daniel, que fez hoje 6 meses e está uma graça. É claro que entre ele e a Lena foi paixão à primeira vista. Só podia ser... eu bem sei que devia ficar ciumenta, nem que fosse um bocadinho, mas como ter ciúmes de duas pessoas que amo tanto?

26 fevereiro, 2007

Mundo ao contrario -Xutos & Pontapés

se gosto de ti
se gostas de mim
se isto não chega
tens o mundo ao contrário

Não se mate


Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para as bodas
que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê,
pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira,
você é o grito que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

(Carlos Drummond de Andrade)

Obrigada.

Recebi hoje um presente. Um belo presente: a carta de um pai para o seu filho de 4 anos, acompanhada pela pintura ao lado. É uma bela carta de amor, que fala da vida e de tudo o que nela está contido: o amor, a raiva os bons e os maus momentos.
Não me surpreendeu a qualidade literária da carta, conhecendo como conheço o autor da mesma. Surpreendeu-me o gesto de ma ter enviado: porque se tem tornado um ser solitário, cada vez mais solitário, cada vez mais virado para dentro e para o trabalho que desenvolve.
Compreendo que o trabalho às vezes toma conta de nós. Muitas vezes toma conta de mim e isso é um péssimo sinal: é sinal de que tudo o mais na minha vida está errado. É sinal de que estou sem vontade de viver, de que estou tapando o sol com uma pequena peneira, querendo enganar-me a mim mesma. Isto aconteceu muitas vezes durante a minha vida. Agora já não acontece mais. Deixei de me refugiar no trabalho para fugir ao que quer que seja. Se estou mal procuro um(a) amigo(a) e converso sobre o que me aflige. Não espero o milagre da resolução dos problemas, mas dividir uma preocupação deixa-me mais leve, assim como dividir uma alegria me deixa ainda mais feliz.
É por isso que hoje fiquei tão feliz por receber este presente de um amigo que pensava estar perdido para sempre. Agora sei que não está. Agora sei que continuará a viver no meu coração como eu viverei no coração dele. Porque não serão dramas pessoais que nos farão sentir diferentes em relação ao outro. A amizade e o respeito continuarão a unir-nos... até porque o João continuará a fazer parte das nossas vidas!
Por isso, aqui te digo, sempre que te apetecer podes contar comigo: para conversar oralmente ou pela escrita se isso te for menos penoso. Podes sempre contar comigo, amigo.
E obrigada pelo lindo presente que me enviaste.

25 fevereiro, 2007

Sonhadores inatos - Jorge Palma

Sonhadores inatos
Sobreviventes natos
Nem sempre somos exactos
Nem sempre conseguimos evitar os factos
Os actos
Os nossos factos.

Acontece


Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém
e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira
e transcorreu comigo, ninguém.

Nunca me esquecerei daquela ausência
que entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.

Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.

Que entrevista espaçosa e especial!


(Pablo Neruda)

Isto é assim a modos que um remédio, só que bom de tomar.


Nenhum de nós sabe quanto tempo tem para viver. Isso é uma coisa que me chateia. Chateia-me e pronto! O que é que custava sabermos o tempo que temos para viver. Caramba. Dava jeito para poder deixar a vida mais ou menos em ordem, para não deixar muita coisa por resolver, não é? E decidir as viagens mais urgentes, os livros que têm mesmo que ser lidos, os álbuns que tenho que ouvir, os amigos que não vejo há anos e que quero rever... Caramba! Custava assim tanto inventar uma maquineta que nos desse essa possibilidade? Um programa de computador, uma coisa qualquer...
É que o meu tempo está-se acabando, pelo menos é essa a sensação que tenho e fico toda atrapalhada, sem saber o que devo fazer primeiro. Hoje fui ver os putos pequenos mas há mais gente que quero ver. E tenho aí um monte de livros e os álbuns do Bublé e os DVD's da Adriana e eu sei lá o que mais... Quanto tempo me resta se o coração teima em acelerar, apesar da medicação? O que faço primeiro? Francamente... não acredito que não haja ninguém capaz de resolver um problema tão pequeno como este: quanto tempo me resta para VIVER?
Felizmente o meu filho chega amanhã de Milão... pelo menos hei-de ter tempo de o ver que estou cheia de saudades...
E desculpem esta coisa, mas é que isto tem estado mesmo muito, muito mau... E passando por aqui sei que vivo mais umas horas, senão mais uns dias... tudo o que vier é ganho. Até já me sinto menos acelerada...

24 fevereiro, 2007

Ney Matogrosso - Exagerado

Jogado aos teus pés
Com mil rosas roubadas
Exagerado
Eu adoro um amor inventado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Timidez


Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.


(Cecília Meireles)

Vamos, andando...


Deixa-me agora, envelhecer devagarinho. Deixa-me caminhar, não me apresses. Afinal, tudo pode esperar... eu é que pensava que correndo, nada na vida me escaparia. E corri, corri, fiz tudo em metade do tempo. Sou despachada, dizem-me... realmente... mas agora apetece-me envelhecer ruga a ruga. Apetece-me olhar-me no espelho e descobrir as novas pequenas rugas que se formam e as mais antigas que se aprofundam... com vagar para me olhar ao espelho. Com vagar para espreitar os novos cabelos brancos que têm sido os meus filhos a descobrir para mim... quero ter olhos para ver os meus novos cabelos brancos quando me olhar ao espelho. Quero sobretudo, ter tempo para me olhar ao espelho.
Por isso coração, peço-te, deixa de cavalgar dessa maneira louca. Não vês que não aguento esse ritmo? Deixa-me caminhar ao ritmo dos outros. Para que eles possam perceber porque é que não me entenderam nunca... deixa-me sossegar, ter tempo para reler tudo o que amei, ter tempo para olhar para o lado e dizer, eu tenho andado apressada, não tenho podido parar, mas agora quero estar aqui, quero estar contigo, quero estar na vida com a calma que se exige a uma vida que quero tranquila.
Deixa-me ficar assim, como eu gosto, sozinha... não quero que me obrigues a escolher outra vida. Corri muito para estar aqui, mas agora só quero parar e envelhecer com tempo. Dá-me tempo para ir andando, com vagar. Não me cobres a exclusividade dos amores e das amizades. Os exclusivos são muito caros e não vivo em Milão. Vivo aqui, junto ao mar, onde escolhi viver. Para poder ouvir tranquilamente o marulhar das ondas que hoje se agitam... como o meu coração hoje... deixa-me dormir, coração. Não me acordes, assim descompassado. Não quero mais sentir-te na garganta. Não me obrigues a trabalhar a esse ritmo frenético. Não me obrigues a meter pela auto estrada. Não me deixes acelerar, como hoje: leva-me pela marginal, com o sossego das velocidades controladas, das passadeiras com semáforos. Obriga-me a andar... andando. Dá-me tempo para ver os meus netos crescerem, olhando um mundo que eu quero que seja melhor, cada dia. Vamos lá, coração, andando...

POEMA DE RILKE


UM BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS OS MEUS AMIGOS.
QUE VIVAM COM ALEGRIA.
QUE MARÇO ESTÁ QUASE.
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A VIDA, não tentes compreendê-la,
E então ela será como uma festa.
E que cada dia te aconteça
Como a uma criança que, ao caminhar,
De cada sopro do vento
Vai recebendo presentes de flores.
Apanhá-las e guardá-las,
Nem nisso pensa a criança.
Tira-as devagar do cabelo
Onde se sentiam tão bem,
E estende as mãos aos jovens anos
Para receber novas flores.
( Rainer Maria Rilke )

23 fevereiro, 2007

Verdes são os campos - Luís de Camões por Zeca Afonso

.....

De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
.......

Muito Pouco - Maria Rita

Mas muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louca
Não sei mais do que sou capaz

E Era Tudo Possível


Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer


(Ruy Belo)

Aniversários...


O Miguel faz hoje 7 anos. É um menino como os outros. A última vez que o vi, no princípio deste mês, estava sentado à mesa da cozinha a fazer os trabalhos de casa. Mesmo antes de me cumprimentar disse-me "tia, eu não gosto de fazer os trabalhos de casa". Apeteceu-me dizer-lhe, "não faças, vem antes rebolar pelo chão com a tia mais os teus irmãos". Tenho pena do Miguel e de todos os meninos como o Miguel que fazem os trabalhos de casa com amargura... é destestavel para um adulto fazer o que não gosta. Para uma criança é uma violência. Ah, se eu pudesse Miguel... se eu pudesse rasgar os teus livros e cadernos e dizer "brinca meu querido, é hora de brincar: agora e sempre enquanto és pequenino, que daqui a nada cresces e exigem-te mais isto e mais aquilo e aqueloutro, e quando olhares para trás a infância voou e não deste por nada, porque estavas compenetrado a fazer os trabalhos da escola..."
Faz um ano que deixei de fumar. Olhei para o último cigarro que restava no maço e perguntei-me "quando for tomar café, compro outro ou não?" E a imagem do engenheiro veio-me à cabeça e cresceu uma raiva dentro de mim e lembrei-me do Zé a dizer-me na noite anterior "o teu cabelo cheira a tabaco" e decidi que não voltava a fumar. E não voltei, pelo menos até hoje... que isto é como tudo na vida, um dia após o outro... mas no fim não é assim tão difícil quanto se possa imaginar... o que me chateia é que tenho tão poucos prazeres na vida e o engenheiro tirou-me mais este... porque o tabaco não é apenas uma coisa má. Segundo o Dr. House (que é o meu único herói da medicina) é óptimo para controlar infecções intestinais... razão tinhas tu Antunes, quando dizias que se mandasses, cada doente que entrasse no Centro de Saúde "espetava-lhe um cigarro na boca!"
Faz 20 anos que Zeca Afonso partiu. Como o tempo passa, amigo! Ainda ontem me estava a lembrar daquela vez que a Ana Maria Grande chamou o meu pai ao liceu, para lhe dizer que tivesse cuidado, porque eu era comunista... aproveitava todos os "furos" das aulas, pegava no meu grupo de companheiros, cada um com o instrumento que tocava e cantávamos as cantigas do Zeca de fio a pavio... ainda hoje as canto. Tenho toda a tua discografia em LP, CD e na cabeça! Zeca tão querido que amavas África, que foste um excelente professor, que comeste o pão que o diabo amassou, mas não vergaste... foi preciso essa estúpida doença que te levou, tão lentamente, com tanto vagar, como se tudo o que fizeste merecesse um tal castigo... querem que eu acredite em quê?... devo estar surda: não vos percebo!

ZECA PARTIU HÁ 20 ANOS...NÃO TE ESQUECEMOS...

ERA DE NOITE E LEVARAM...
Era de noite e levaram
Era de noite e levaram
Quem nesta cama dormia
Nela dormia, nela dormia.
Sua boca amordaçaram
Sua boca amordaçaram
Com panos de seda fria,
De seda fria, de seda fria.
Era de noite e roubaram
Era de noite e roubaram
O que nessa casa havia,
Na casa havia, na casa havia.
Só corpos negros ficaram
Só corpos negros ficaram
Dentro da casa vazia,
Casa vazia, casa vazia.
Rosa branca, rosa fria
Rosa branca, rosa fria
Na boca da madrugada,
Da madrugada, da madrugada.
Hei-de plantar-te um dia
Hei-de plantar-te um dia
Sobre o meu peito
Queimada
Na madrugada, na madrugada.


MARIA FAIA


( HOMENAGEM AO GRANDE POETA, CANTOR, MÚSICO E IDEALISTA SEM MEDO, DA MINHA GERAÇÃO, QUE DEIXASTE UMA MÚSICA E UMA POESIA QUE VENCERAM O TEMPO, DE QUE AS NOVAS GERAÇÕES GOSTAM, O QUE É O ÚNICO INDICADOR DA IMORTALIDADE...
LEMBRANÇAS, CARO ZECA...UM ABRAÇO )

MARIA FAIA
Eu não sei como te chamas, ó Maria Faia,
Nem que nome te hei-de eu pôr,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria
Cravo, não, que tu és rosa, ó Maria Faia,
Rosa não, que tu és flor,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria
Não te quero chamar cravo, ó Maria Faia,
Que te estou a engrandecer,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria
Chamo-te antes espelho, ó Maria Faia,
Onde espero de te ver,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria
O meu amor abalou, ó Maria Faia,
Fez-me uma linda despedida,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria
Abraçou-me a mão direita, ó Maria Faia,
Adeus, ó prenda querida,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria

SILÊNCIOS VERGONHOSOS

Fez ontem um ano que Gilberta, uma transexual brasileira, apareceu morta, afogada, num poço, para onde foi jogada tres dias depois de ter sido barbaramente agredida por um grupo de jovens da Oficina de S. José!
O Movimento Panteras Rosas organizou ontem, no Porto, a Intervenção " Gilberta: Morrer Invisível". A Gis, como era conhecida dos amigos, foi assim lembrada:
" Meu nome era Gilberta. Fui torturada, violada, assassinada.Para a Justiça, eu morri afogada e a culpa foi da água!.."
Como estamos lembrados - estaremos? - , os jovens foram responsabilizados por agressão, mas, estranhamente - mas será estranhamente? - não foram sentenciados como assassinos, nem torturadores, pois a vítima, muito simplesmente,morreu por causa da água, que a afogou!
É simples dizer simplesmente: Paz à sua alma! É o costume! Passsado um ano, a maioria não se lembra!
Mais palavras, para quê?
Nos tempos em que tanta gritaria e vigor encheram o país com a expressão retórica do direito à vida, aqui ficam estas singelas palavras de lembrança e de revolta.
Finalmente... parabéns, Fernanda Câncio, pela tua comovedora e lúcida crónica, no DN, de hoje, subordinada ao título: " Querida Gi...".

Eduardo Aleixo

COMBATE À CORRUPÇÃO

Passará pelo Parlamento?
Pelos vistos, não!
O debate sobre os vários projectos de lei sobre a corrupção, que teve lugar, omtem, no Parlamento, foi morno e pouco participativo, segundo li, na imprensa de hoje.
Com destaque, porém, para um "aviso à navegação", proferido pelo deputado socialista, Ricardo Rodrigues: " O PS votará contra, na especialidade, qualquer iniciativa que ponha em causa as regras do Estado de Direito".
Referia-se o sr. deputado aos projectos de lei do PCP quanto ao enriquecimento injustificado e ao Bloco de Esquerda, que prevê a prestação de esclarecimentos dos titulares de cargos públicos, quando os rendimentos auferidos no seu exercício são incompatíveis com os sinais exteriores da riqueza.
Estamos esclarecidos. Aliás, já estava!
Mas foi-me lembrado que a simples prestação de esclarecimentos sobre matéria tão sensível...não será autorizada, porquanto irá pôr em causa as sacrossantas razões democáticas do Estado de Direito!...

Eduardo Aleixo

22 fevereiro, 2007

Tribalistas - Um a Um

Muito além do tempo regulamentar
Esse jogo não vai acabar
É bom de se jogar
Nós dois
Um a um

Unforgettable - Nat & Natalie Cole


And forever more, that's how you'll stay
That's why, darling, it's incredible
That someone so unforgettable
Thinks that I am unforgettable too

Tu já me arrumaste


Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começámos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.
Mas no tempo subjectivo,
tu és ainda o meu relógio de vento,
a minha máquina aceleradora de sangue,
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?


(Isabel Meyrelles)

Em roda livre.


Pensei que mais uma vez ela tinha confundido os dias. É que não é terça feira. Mas a semana passada decidimos que uma vez que esta semana era o entrudo, nos encontraríamos hoje. Não gostamos de estar muito tempo sem nos vermos, sem nos olharmos olhos nos olhos, sem pôr a conversa em dia. Temos sempre tanto de que conversar! Parecemos fontes inesgotaveis.

Mas como dizia cheguei, e ao contrário do costume ela ainda não tinha chegado. Pensei: esqueceu-se, trocou os dias, sei lá... liguei-lhe para o telemóvel; que claro que não tinha esquecido, estava mesmo a chegar... e chegou uns 3 ou 4 minutos depois... eu sou doente com a pontualidade... é por isso que quero ir viver para Cabo Verde. Para perder esta mania europeia mas tão pouco latina da pontualidade.
Ficou contente por ver que eu tinha posto o colar que me ofereceu. Brinquei com o assunto: "há quem tenha o fatinho de ver a deus, eu tenho o fatinho de ver a lena"... os olhos azuis riem mesmo antes do sorriso... veja lá, veja lá... à laia da professora primária que nunca foi ainda que tenha sido para isso que estudou... são as voltas que a vida dá... as voltas que nos troca.
Pede para comer, sempre o mesmo que eu. Sempre! E para beber também! Sempre. Brinco "qualquer dia pensam que somos siamesas!"... os olhos azuis riem de novo antes que o sorriso se abra... a gargalhada solta-se finalmente.
Almoçamos no meio dos livros. É ali que preferimos os nossos almoços. O espaço torna-se mais íntimo. Gosto de mar e de sol e de livros... Mas é mais difícil arranjar um sítio com livros aonde se coma... felizmente a Bulhosa tem esses espaço. É nosso. Quase sempre às terças... quando temos saudades ou urgência de nos confessarmos a qualquer dia... como hoje!
E como sempre falamos, falamos, falamos... e no fim ficamos com a sensação de que tudo, quase tudo ficou por contar. Mas terça feira está quase aí. Mais uma rodada: em roda livre! Como ambas gostamos.

21 fevereiro, 2007

Paul Simon - 50 Ways To Leave Your Lover

You just slip out the back, Jack
Make a new plan, Stan
You don't need to be coy, Roy
Just get yourself free
Hop on the bus, Gus
You don't need to discuss much
Just drop off the key, Lee
And get yourself free

Atraso Pontual


Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relogio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?

(Paulo Leminski)

Como quando eu era pequenina!


A minha mãe, coitada, bem tentou educar-me. Bem se esforçou. À sua maneira, já se vê. Não resultou. Pela força não conseguia (nunca paguei a quem me mandasse) e pelo método da compra, também não, porque eu sabia que acabava sempre por fazer o que queria. Vencia-a pelo cansaço. Ela não aprendeu nada com os filhos e continuou, continua, a fazer o mesmo com os netos. Só que os tempos são outros e agora a miudagem não respeita mesmo ninguém que lhes dê asinhas e ela queixa-se de que os miúdos não lhe obedecem e pergunta como é que eu consigo pô-los na linha... e olhem lá que eu estrago os netos e os sobrinhos. Não ando cá para os educar mas para os estragar. Os pais que os eduquem que eu já fiz a minha parte.
Já o meu pai, ensinou-me. Tudo o que eu devia aprender no jardim de infância... o meu pai ensinou-me! Que devia respeitar os outros, que devia fazer o que me desse na gana desde que não magoasse terceiros, que a minha liberdade acabava onde começa a liberdade dos outros, que a honestidade está acima de tudo, que não devia fazer nunca (insistiu sempre muito neste ponto) algo de que me pudesse arrepender mais tarde...
E tenho conseguido pai. Sabes que para mim não é fácil, temperamental como sou, impulsiva... mas tenho conseguido pai! Se morrer hoje vou sem um remorso. Não há nada que eu tenha feito de que me arrependa! Nada! Há algumas coisas que ainda não consegui concretizar, mas pode ser que tenha ainda tempo suficiente para partir também sem o arrependimento do que não fiz!
E eu passei praticamente metade da minha infância e da minha adolescência sem o pai presente. Mas escrevia-me e não parava de me ensinar... O meu pai ensinou-me a vida toda. Até ao dia em que partiu: sempre!
Tenho lembranças muito antigas da minha infância, sem o pai nem a mãe por perto. Quem estava sempre por ali era a tia Emília, que eu adoro e que um dia resolvi começar a chamar de mãe. A tia Emília mimava-me tanto que eu acho que me estragava... mas era tia... lá está! Eu adoro a minha tia Emília, que era uma bela mulher (ainda hoje é: tem uma quantidade de pretendentes, essa é que é essa!) e que me deixou aos 5 anos de idade para cumprir o seu destino de casar e tratar com um amor e uma ternura infinitos o homem com quem viveu até ele partir... E foi difícil: ele teve uma doença prolongada, mais uns acidentes vasculares cerebrais pelo meio... mas ela nunca desistiu! Não sei se era amor... eu acho que era algo bem maior, algo que eu nunca conheci em mais ninguém.
É assim a minha tia Emília... que não vivendo muito próxima de mim, eu visito sempre que posso e no dia da Mãe gosto de estar com ela. Porque eu fui a sua bebé como ela ainda hoje diz quando lhe bato à porta, sempre de surpresa, sempre sem avisar "olha a minha bebé!".
Um dia destes vou visitar-te tia... tenho tantas saudades tuas e tanta falta do mimo que me dás ainda, tal e qual como quando eu era pequenina"!

20 fevereiro, 2007

O LEAOZINHO - Caetano Veloso

(Para o meu lindo leãozinho Daniel João)
Para desentristecer leãozinho
O meu coração tão só
Basta encontrar você no caminho

Coldplay - Fix You


When the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone but it goes to waste
Could it be worse?

Eu escrevi um poema triste


Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

(Mario Quintana)

O dono do paraíso


Mais um Carnaval chega ao fim e mais uma vez Alberto João é rei no seu jardim. O homem tem uma prática tal de carnavais que nem precisa de desfilar. Até acho que este ano é mais rei do que nunca. Pois claro...
E é bem feito. Para quem lhe deu rédea larga todos estes anos. Bem sei que não será fácil trazer um animal daquela qualidade pela arreata. Eu bem sei: ele escouceia, resfolega, agita-se... Mas é como diria o meu amigo Christian, um "boer" dos tempos áureos, depois dos 12 anos já é tarde para pôr rédea curta a uma mulher... Eu acho que o Alberto João não o puseram na linha aos 6 anos, pronto! Deu no que deu. O rapaz era precoce...
Começaram a achar graça ao que o menino dizia e ele achou que era mesmo uma "estrela". E foi assim que carnaval após carnaval, o nosso menino cresceu: fazendo dos intervalos do Carnaval, um carnaval constante em que ele manda e desmanda. Um verdadeiro rei: do carnaval e do jardim em que nasceu e que ele quer fazer-nos acreditar que quem lá vive é que lá manda. Só que no seu íntimo o menino Alberto João, sabe que o jardim foi um local criado por deus só para seu prazer e deleite. E que ele é o único habitante do paraíso: os outros estão lá só porque se não estivessem, em quem mandaria ele?

Clocks Buena Vista Social Club - Coldplay


Come out upon my seas,
Cursed missed opportunities
Am I a part of the cure
Or am I part of the disease, singing

19 fevereiro, 2007

Home -Michael Bublé

Let me go home
'Cause I’m just too far from where you are
I wanna come home

Do Amoroso Esquecimento


Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?


(Mario Quintana)

Ser português diverte-me.


Ser português é uma qualidade ou um defeito? O que é que os portugueses têm de diferente da maioria dos povos do mundo? Gosto de ser portuguesa? Sou portuguesa?
Não me sinto realmente portuguesa mas gosto de Portugal e dos portugueses. Às vezes digo que gostava de ser espanhola... por causa daquela bendita tradição de fazer a "siesta", que devia ser obrigatória em todo o mundo... pois se está provado cientificamente que o corpo necessita daqueles momentos de descanso após o almoço, porque é que não fazem todos como os espanhóis e se arranjam horários compatíveis com uma "siesta"? Eu sou sincera... depois do almoço apetece-me mesmo é tirar uma soneca. Nem que seja estar de olhos fechados, naquele "chove e não molha" durante uns 20 ou 30 minutos.
Mas a minha introdução tem a ver com o facto de apreciar uma qualidade dos portugueses: eles gostam de esperar. Chegam a uma superfície comercial, por exemplo, com vários parques de estacionamento. Mesmo que no primeiro esteja escrito completo, eles entram. Depois dão um milhão de voltas até "toparem" alguém que vai sair.. Entretanto atrapalham, regra geral quem quer sair porque ficam ali parados à espera que o "milagre" aconteça. O parque ao lado está vazio, mas que importa? É coberto da mesma maneira, mas é ali no nº 1 que têm que ficar, porque é ali que se acostumaram a estacionar.
O resultado é que eu despacho as minhas compras em meia hora e a maioria dos portugueses leva um dia inteiro metido numa grande superfície. Mais ou menos uma hora para estacionar e depois há que espreitar tudo bem espreitadinho, aproveitar todas as "promoções" e no fim fazer uma festa porque se compraram imensas pechinchas que a maior parte das vezes não vão servir para coisa nenhuma.
Eu cá por mim, gosto desta forma de ser português. Diverte-me!

18 fevereiro, 2007

You can call me Al - Paul Simon


If you’ll be my bodyguard
I can be your long lost pal
I can call you Betty
And Betty when you call me
You can call me Al








Projecto de Prefácio


Sábias agudezas... refinamentos...
- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.
(Mario Quintana)

Mal por mal...

(Cliquem no título deste artigo e divirtam-se!)

Ao contrário de mim, Alberto João Jardim, ama o Carnaval. Carnaval para ele é o ano inteiro. O homem não se cansa! Parece que à conta de tanto desfilar, arranjou umas varizes que o impediram hoje de o fazer. Mas lá estava nas bancadas, vivendo o seu Carnaval de todos os dias.
Consta que amanhã apresentará o seu pedido de demissão, para forçar Cavaco Silva a convocar eleições na Madeira. À pergunta se é candidato, é claro que não reponde! É Carnaval, senhores... agora e sempre. Não é preciso ser-se muito intuitivo para saber que a haver eleições na Madeira Alberto sucede a Jardim...
É por isso que eu não percebo muito bem o que é que o homem tem contra o Fidel. Ambos estão agarrados ao poder, ambos são ditadores (Alberto João só não vai mais longe porque não pode), ambos cumprem a vontade dos povos que governam, segundo os próprios, ambos governam ilhas... a tarefa de Fidel é bem mais dura que a de Alberto João uma vez que enquanto ele tem que enfrentar um embargo económico que paralisa a economia de Cuba, Alberto João tem beneficiado do dinheiro dos "cubanos" que ele tanto detesta.
Mal por mal prefiro Fidel. Pelo menos esse parece que não gosta de carnavais... E bate o Jardim aos pontos quando toca a discursar por horas a fio...

Marisa Monte - Aconteceu

(Para o Eduardo Guedes Vaz, com a amizade e solidariedade de sempre!)
Quando um descaminho
Acha o seu desvio
Tudo se alivia
Foi melhor assim

Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei.
Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

(Cecília Meireles)

Só para quem pode!


É uma ideia comum a de que os tímidos falam pouco. E não é uma ideia falsa. Só que quando os tímidos aprenderam alguma coisa com a vida, sabem que a palavra é o melhor meio de fugir a qualquer conversa que se antevê incomodar.
Assim, quando "o outro" quer falar de algo a que o tímido quer fugir, este desata a falar de tudo e de nada... quando não se refugia no silêncio, por não ter aprendido a táctica do contra ataque pela palavra.
Esta é uma técnica que também se aprende em qualquer escola política. É por isso que vemos em entrevistas os entrevistados responderem com bugalhos aos alhos que lhe foram perguntados e teimam na resposta até que o tempo se esgota e não tiveram que falar daquilo que não queriam falar.
E é por tudo isto que dou por bem empregue os "anos perdidos" na militância de extrema esquerda e na aprendizagem de representar.
Se eu não disser, ninguém sabe que sou tímida. E mais: sou de tal maneira boa a representar que mesmo dizendo, a maior parte das pessoas não acredita.
Eu sei: não é para qualquer um... é só para quem pode!

17 fevereiro, 2007

Samba do Grande Amor - Chico Buarque por Simone

Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira


Razão de ser


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?


(Paulo Leminski)

Carnaval: é aguentar e cara alegre...

É Carnaval. Há muitos anos que deixei de gostar do Carnaval. Mais precisamente há 33 anos. Desde que vim para Portugal, nunca mais achei piada ao Carnaval. Não acho piada ao frio. Venha a chuva, o sol, o calor acima dos 40º e eu estou feliz... mas do frio não gosto! São manias, pois eu sei... mas que se há-de fazer? Eu por mim acho normal que quem gosta de calor goste de água. E chuva não é mais do que água... ou será e eu não dei por isso? Porque é que as pessoas não encaram a chuva como encaram o sol?.
Pois... há o dia e a noite. Há quem só goste do dia e há quem só goste da noite. Eu, gosto dos dois. Gosto de opostos. Gosto de avessos. Gosto de mim como sou e também gosto de mim quando estou virada do avesso. Sou eu. Sempre eu.
Como toda a gente. Só que as pessoas quando agem de maneira menos comum, dizem coisas do tipo, sabes eu geralmente não sou assim, nem sei o que me deu... Eu geralmente sou assim: tal como sou: um lado solar e um lado lunar. Um lado de alegria e um lado de tristeza. Um direito e um avesso.
É verdade que convivo melhor com o meu lado solar, mas isto é só uma questão de tempo: a gente acostuma-se a tudo. E eu hei-de acostumar-me ao meu lado lunar, porque já percebi que conforme o tempo vai passando, mais espaço vai dando ao lado lunar... é como diz o povo "não há rosa sem espinho"... é aguentar e cara alegre.

16 fevereiro, 2007

Olhos nos Olhos - Chico Buarque por Maria Betania


... e quantas águas rolaram,/quantos homens me amaram, /bem e mais e melhor que você...

Faz-me o favor...


Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.


É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.


(Mário Cesariny)