23 fevereiro, 2007

Aniversários...


O Miguel faz hoje 7 anos. É um menino como os outros. A última vez que o vi, no princípio deste mês, estava sentado à mesa da cozinha a fazer os trabalhos de casa. Mesmo antes de me cumprimentar disse-me "tia, eu não gosto de fazer os trabalhos de casa". Apeteceu-me dizer-lhe, "não faças, vem antes rebolar pelo chão com a tia mais os teus irmãos". Tenho pena do Miguel e de todos os meninos como o Miguel que fazem os trabalhos de casa com amargura... é destestavel para um adulto fazer o que não gosta. Para uma criança é uma violência. Ah, se eu pudesse Miguel... se eu pudesse rasgar os teus livros e cadernos e dizer "brinca meu querido, é hora de brincar: agora e sempre enquanto és pequenino, que daqui a nada cresces e exigem-te mais isto e mais aquilo e aqueloutro, e quando olhares para trás a infância voou e não deste por nada, porque estavas compenetrado a fazer os trabalhos da escola..."
Faz um ano que deixei de fumar. Olhei para o último cigarro que restava no maço e perguntei-me "quando for tomar café, compro outro ou não?" E a imagem do engenheiro veio-me à cabeça e cresceu uma raiva dentro de mim e lembrei-me do Zé a dizer-me na noite anterior "o teu cabelo cheira a tabaco" e decidi que não voltava a fumar. E não voltei, pelo menos até hoje... que isto é como tudo na vida, um dia após o outro... mas no fim não é assim tão difícil quanto se possa imaginar... o que me chateia é que tenho tão poucos prazeres na vida e o engenheiro tirou-me mais este... porque o tabaco não é apenas uma coisa má. Segundo o Dr. House (que é o meu único herói da medicina) é óptimo para controlar infecções intestinais... razão tinhas tu Antunes, quando dizias que se mandasses, cada doente que entrasse no Centro de Saúde "espetava-lhe um cigarro na boca!"
Faz 20 anos que Zeca Afonso partiu. Como o tempo passa, amigo! Ainda ontem me estava a lembrar daquela vez que a Ana Maria Grande chamou o meu pai ao liceu, para lhe dizer que tivesse cuidado, porque eu era comunista... aproveitava todos os "furos" das aulas, pegava no meu grupo de companheiros, cada um com o instrumento que tocava e cantávamos as cantigas do Zeca de fio a pavio... ainda hoje as canto. Tenho toda a tua discografia em LP, CD e na cabeça! Zeca tão querido que amavas África, que foste um excelente professor, que comeste o pão que o diabo amassou, mas não vergaste... foi preciso essa estúpida doença que te levou, tão lentamente, com tanto vagar, como se tudo o que fizeste merecesse um tal castigo... querem que eu acredite em quê?... devo estar surda: não vos percebo!

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