21 fevereiro, 2007

Como quando eu era pequenina!


A minha mãe, coitada, bem tentou educar-me. Bem se esforçou. À sua maneira, já se vê. Não resultou. Pela força não conseguia (nunca paguei a quem me mandasse) e pelo método da compra, também não, porque eu sabia que acabava sempre por fazer o que queria. Vencia-a pelo cansaço. Ela não aprendeu nada com os filhos e continuou, continua, a fazer o mesmo com os netos. Só que os tempos são outros e agora a miudagem não respeita mesmo ninguém que lhes dê asinhas e ela queixa-se de que os miúdos não lhe obedecem e pergunta como é que eu consigo pô-los na linha... e olhem lá que eu estrago os netos e os sobrinhos. Não ando cá para os educar mas para os estragar. Os pais que os eduquem que eu já fiz a minha parte.
Já o meu pai, ensinou-me. Tudo o que eu devia aprender no jardim de infância... o meu pai ensinou-me! Que devia respeitar os outros, que devia fazer o que me desse na gana desde que não magoasse terceiros, que a minha liberdade acabava onde começa a liberdade dos outros, que a honestidade está acima de tudo, que não devia fazer nunca (insistiu sempre muito neste ponto) algo de que me pudesse arrepender mais tarde...
E tenho conseguido pai. Sabes que para mim não é fácil, temperamental como sou, impulsiva... mas tenho conseguido pai! Se morrer hoje vou sem um remorso. Não há nada que eu tenha feito de que me arrependa! Nada! Há algumas coisas que ainda não consegui concretizar, mas pode ser que tenha ainda tempo suficiente para partir também sem o arrependimento do que não fiz!
E eu passei praticamente metade da minha infância e da minha adolescência sem o pai presente. Mas escrevia-me e não parava de me ensinar... O meu pai ensinou-me a vida toda. Até ao dia em que partiu: sempre!
Tenho lembranças muito antigas da minha infância, sem o pai nem a mãe por perto. Quem estava sempre por ali era a tia Emília, que eu adoro e que um dia resolvi começar a chamar de mãe. A tia Emília mimava-me tanto que eu acho que me estragava... mas era tia... lá está! Eu adoro a minha tia Emília, que era uma bela mulher (ainda hoje é: tem uma quantidade de pretendentes, essa é que é essa!) e que me deixou aos 5 anos de idade para cumprir o seu destino de casar e tratar com um amor e uma ternura infinitos o homem com quem viveu até ele partir... E foi difícil: ele teve uma doença prolongada, mais uns acidentes vasculares cerebrais pelo meio... mas ela nunca desistiu! Não sei se era amor... eu acho que era algo bem maior, algo que eu nunca conheci em mais ninguém.
É assim a minha tia Emília... que não vivendo muito próxima de mim, eu visito sempre que posso e no dia da Mãe gosto de estar com ela. Porque eu fui a sua bebé como ela ainda hoje diz quando lhe bato à porta, sempre de surpresa, sempre sem avisar "olha a minha bebé!".
Um dia destes vou visitar-te tia... tenho tantas saudades tuas e tanta falta do mimo que me dás ainda, tal e qual como quando eu era pequenina"!

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