24 fevereiro, 2007

Vamos, andando...


Deixa-me agora, envelhecer devagarinho. Deixa-me caminhar, não me apresses. Afinal, tudo pode esperar... eu é que pensava que correndo, nada na vida me escaparia. E corri, corri, fiz tudo em metade do tempo. Sou despachada, dizem-me... realmente... mas agora apetece-me envelhecer ruga a ruga. Apetece-me olhar-me no espelho e descobrir as novas pequenas rugas que se formam e as mais antigas que se aprofundam... com vagar para me olhar ao espelho. Com vagar para espreitar os novos cabelos brancos que têm sido os meus filhos a descobrir para mim... quero ter olhos para ver os meus novos cabelos brancos quando me olhar ao espelho. Quero sobretudo, ter tempo para me olhar ao espelho.
Por isso coração, peço-te, deixa de cavalgar dessa maneira louca. Não vês que não aguento esse ritmo? Deixa-me caminhar ao ritmo dos outros. Para que eles possam perceber porque é que não me entenderam nunca... deixa-me sossegar, ter tempo para reler tudo o que amei, ter tempo para olhar para o lado e dizer, eu tenho andado apressada, não tenho podido parar, mas agora quero estar aqui, quero estar contigo, quero estar na vida com a calma que se exige a uma vida que quero tranquila.
Deixa-me ficar assim, como eu gosto, sozinha... não quero que me obrigues a escolher outra vida. Corri muito para estar aqui, mas agora só quero parar e envelhecer com tempo. Dá-me tempo para ir andando, com vagar. Não me cobres a exclusividade dos amores e das amizades. Os exclusivos são muito caros e não vivo em Milão. Vivo aqui, junto ao mar, onde escolhi viver. Para poder ouvir tranquilamente o marulhar das ondas que hoje se agitam... como o meu coração hoje... deixa-me dormir, coração. Não me acordes, assim descompassado. Não quero mais sentir-te na garganta. Não me obrigues a trabalhar a esse ritmo frenético. Não me obrigues a meter pela auto estrada. Não me deixes acelerar, como hoje: leva-me pela marginal, com o sossego das velocidades controladas, das passadeiras com semáforos. Obriga-me a andar... andando. Dá-me tempo para ver os meus netos crescerem, olhando um mundo que eu quero que seja melhor, cada dia. Vamos lá, coração, andando...

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