10 julho, 2010

cadela como nós


ela chegava e ficava sentada perto da porta da rua. só saía dali se a chamássemos. enorme ali ficava tão sosegada que nem se percebia que dentro de casa estava uma cadela enorme. passeou pelo mundo com a dona. acompanhou-a pela europa dentro da velha carrinha amarela. estava acostumada a defendê-la e por isso desde que não sentisse a ameaça à família mantinha-se quieta. olhava-nos com um olhar muito doce. o olhar de alguém como nós. em milão num apartamento minúsculo com um bebé não se dava por ela. dormia debaixo da cama dos donos e zelava pelo pablo. só se ouvia quando sentia alguém estranho naquele sétimo andar. querida melanina. envelheceu e adoeceu. vive há muito tempo com grandes dificuldades.foi preciso arranjar um carrinho para fazer de andarilho para que pudesse andar. hoje foi à praia. nadou com sempre. gosta de mar. até nisso a melanina é como nós. são as suas últimas idas à praia. o fim está anunciado. o pedro chora convulsivamente quando recebe a notícia. está aqui ao pé de mim e eu não sei como consolá-lo. faço um esforço para não fazer coro. tenho um nó na garganta. o pablo não sabe ainda do fim anunciado. saberá apenas quando o facto estiver consumado. não poderei estar ao pé dele como estou agora com o pedro. quando nasceu a melanina já não era nova. aceitou-o imediatamente como fazendo parte da família. com ternura e zelo. fizeste parte das nossas vidas melanina e deixas saudades e lembranças felizes. também tu és uma cadela como nós.

Sem comentários: