pessoas transformaram-se em gaivotas. ocuparam a rocha delas e pude ver gaivotas a ler o jornal de papo para o ar e até uma na praia a levantar voo. os braços tomavam balanço numa tentativa frustrada de levantar voo. a gaivota era uma mulher muito magra com mais de 60 anos que queria a todo o custo voar. estou certa de que se lá estivesse alguma gaivota tê-la-ia ensinado como fazer. ou talvez até um gato. mas isso já é mais difícil. é frequente ver cães nas praias mas gatos não. decididamente os gatos não gostam de praia. e assim a mulher correu correu embalando o corpo com os braços mas nunca levantou voo. digo eu. pode muito bem ter levantado voo sem que eu tivesse visto. afinal agora já tenho idade para saber que tudo é possível. tudo. até a morte. mas sobretudo a tristeza e a alegria de estar triste. o choro transformado em riso ou viceversa como se tudo não passasse de um circo em que não aprendemos a voar no trapézio e nos estatelamos no chão. nem sempre claro. só de vez em quando. e mesmo assim sempre uns mais do que outros. porque já se sabe que uns são mais iguais que outros. uns nas quedas outros na falta delas.
de qualquer maneira esta prosa é só para dizer que hoje aprendi que qualquer pessoa se pode transformar em gaivota. como aquelas (gaivotas) que há uns anos revolviam caixotes de lixo na alta de Lisboa em busca de comida. suponho que o Tejo estava tão poluído que nem peixes havia. ou então eram apenas gaivotas preguiçosas que esperavam traineiras que não chegavam nunca porque não se queriam fazer ao mar mergulhar e buscar o seu próprio alimento. ou eram gaivotas que se estavam transformando em gente.
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