16 agosto, 2008

No Sopia Sopia


Foram 5 km debaixo de uma chuva miudinha que me fez lembrar o cacimbo em Angola. Nesta altura do ano eu estava sempre de férias fora de Luanda, acampada no mato, às vezes em sítios que não passam pela cabeça de ninguém, tal o isolamento. No Sopia Sopia só havia elefantes, espinheiras e moscas. Para podermos ler tivemos que improvisar uma tenda mosquiteiro. Metíamo-nos lá dentro e era a única maneira de se conseguir estar em sossego. Os 45 km que nos separavam da estrada principal eram feitos num Land Rover em 3 horas com vários furos pelo caminho. Por isso a única vez que fomos buscar provisões o pão durou mais de 15 dias o que fez com que eu ainda hoje guarde uma cicatriz no indicador da mão esquerda que não levou pontos porque a missão miais próxima ficava a mais de duas horas de viagem.
Em todo o tempo que ali estivemos só avistámos uma preta e a sua filha que tinha mais ou menos a minha idade. Comunicavam muito mal em português e quando o meu pai lhe perguntou como a miúda se chamava ela olhou para mim e perguntou como eu me chamava. Quando o meu pai disse que eu era Eduarda ela respondeu a minha é Induarda. Acabava ali de baptizar a filha com um nome mais ou menos português....
À noite, deitados nas tendas éramos acordados pelos elefantes que passavam a alguns quilómetros do acampamento mas que mesmo assim se faziam ouvir com intensidade.
Há muitas estórias para contar sobre férias passadas em Angola. Esta nem é uma estória. É apenas uma recordação. Algo de que me lembro sempre que olho para o meu indicador esquerdo, ou seja, todos os dias.

Sem comentários: