31 janeiro, 2008

Velha Infância - Os Tribalistas (clica aqui)

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...

Infância


A Abgar Renault

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:- Psiu...
Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...
que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

(Carlos Drummond de Andrade)

De volta à infância.


Pois é Barrábas. Ainda hoje depois de falar contigo comecei a pensar que não faço ideia de como nem quando nem quem te deu essa alcunha. A verdade é que só me lembro do Nando muito pequeno, quando brincávamos aos festivais da canção com o Euclides que se esganiçava até à exaustão. Lembro-me de pensar que as veias dele iam rebentar de tal modo arroxeavam no seu pescoço pequenino. Lembras-te?
Mais tarde alguém passou a chamar-te Barrábas, talvez o Zé que sempre foi o teu melhor amigo, embora tu fosses muito mais "certinho" que ele. De qualquer modo os dois e outros como o Lito e o Zé Maria aprontavam das boas. Sabes que costumo ver a série "Conta-me como foi" e para mim o Carlinhos é o Zé eos outros dois tu e o Lito. O Zé arranjava sempre maneira de se safar e vocês ficaram algumas vezes bem encravados...
E crescemos, ficámos para sempre entre nós a Bebé e o Barrábas. Estamos juntos poucas vezes e quase sempre por más razões. E olha que realmente, nós até nem trabalhamos assim tão longe um do outro que não pudessemos de vez em quando almoçar juntos... lembras-te de te ter falado no restaurante da Av. da Repúbloica que faz moamba uma vez por semana? Vou saber qual o dia e havemos de combinar um almoço, afinal temos tantas coisas de que falar, do que vivemos em miúdos e de todo o tempo que soubemos tão pouco um do outro. E eu recordo sempre com alegria o que fazíamos.
Já vi que continuas a ser curioso uma vez que foste descobrir o meu espaço aqui na blogoesfera sem que eu te tivesse dito que tinha este espaço. É que quando tu escrevias "eu não tenho amigos/e os meus pais dão-me figos", pelos 12 ou 13 anos talvez, eu também escrevia poesia... só que não a mostrava porque eu não era capaz de fazer rimas e então achava que aquilo não era poesia de verdade... hoje sei que a prosa e a poesia andam muitas vezes de braço dado e o que conta é o que nos vai na alma... De qualquer modo criei este espaço como forma de evasão. Toda a vida escrevi para mim. Agora escrevo para quem me quiser ouvir. Por aqui vou contando mágoas e alegrias, satirizando a vida, contando velhas estórias de que tu também fazes parte.
Obrigada por teres descoberto este espaço. Obrigada por teres gostado deste espaço. Se eu te disser que o Zé não sabe que este espaço existe acreditas? É que eu continuo a ser o mesmo bicho do mato com pretensões a gente sem vergonha.
Aquele abraço.

30 janeiro, 2008

Porto Sentido - Rui Veloso (clica aqui)

Ver-te assim abandonada
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa

Berço


Recordo: um largo verde e uma igrejinha,
Um sino, um rio, um postilhão e um carro
De três juntas bovinas que ia e vinha
Rinchando alegre, carregando barro.

Havia a escola, que era azul, e tinha
Um mestre mau, de assustador pigarro...
(Meu Deus! que é isto, que emoção a minha
Quando estas coisas tão singelas narro?)

Seu Alexandre, um bom velhinho rico
Que hospedara a Princesa; o tico-tico
Que me acordava de manhã, e a serra...

Com o seu nome de amor Boa Esperança,
Eis tudo quanto guardo na lembrança
Da minha pobre e pequenina terra!

( Bernardino Costa Lopes)

Vou pedir o livro de reclamações do Metro de Lisboa

Podemos não falar hoje do José? Acho que sim... afinal até ele tem direito a uma trégua depois da troca de palavras com o Pedro no Parlamento... deixo-te pois hoje na prateleira, afinal de contas és o tipo com mais tempo de antena em Portugal e também, estou convencida, o mais nomeado (para o bem e para o mal) aqui na blogoesfera...
Portanto hoje vou falar de um assunto muito prático que atinge milhares de lisboetas. Pois. Estou a falar do utentes do Metro de Lisboa.
Uso o metro diariamente nas idas e vindas do trabalho. Há dias que, em hora de ponta, o intervalo anunciado entre dois comboios de 2,5 minutos é superior a 6 minutos o que faz com que nem toda a gente consiga entrar, apesar de já muito pouca gente se importar com o facto de andar constantemente aconchegadinho nas carruagens...
As portas automáticas, muitas vezes não funcionam. As pessoas não conseguem ultrapassar a barreira e têm que voltar para o fim da fila de outro terminal e tentar de novo, porque nem sempre há funcionários para ajudarem quem pagou o seu título de transporte a passar... e lá vai mais um comboio. E a malta a vê-los passar.
Pois. - decidi usar muitos pois uma vez que este meu sítio é visitado por muitos cidadãos do Brasil e eles estão convencidos que "pois" é uma palavra essencial no nosso vocabulário e eu não estou aqui para desiludir ninguém, pretendo apenas vender o meu peixe.
Hoje tinha sete minutos para apanhar o comboio da CP quando passei pelas bilheteiras do Metro do Cais do Sodré. Numa delas lê-se Atendimento Geral (não sei bem o que inclui, mas pronto, faz parte da nossa cultura, o que é geral não diz respeito geralmente a nada e coisa nenhuma. As outras duas possuem (estou muito inspirada não estou? possuem... tabuletas que iniciam com "Venda de Títulos". Como uma delas não estava a atender ninguém dirigi-me à funcionária,( deveria talvez dizer empregada, por cauda das confusões- que me fez sinal para me dirigir ao atendimento da colega que estava a atender outra pessoa.
Apeteceu-me dizer umas asneira daquelas bem fortes, mas limitei-me a voltar as costas e a ir apanhar o comboio... afinal amanhã também é dia, se bem que será bem pior com a mania que temos de deixar tudo para a última hora... e o Metro de Lisboa está lá para ajudar as pessoas que, como eu, gostam de se adiantar. Obrigando-nos a ir para a fila para não nos desabituarmos.
No fim disto tudo só pergunto: se num atendimento da administração pública isto acontecesse, o que teria que ouvir a funcionária que mandasse o utente para a fila da colega ao lado, para ela poder continuar a olhar para as moscas... se calhar a ver se mata alguma!
Pensando bem, amanhã vou pedir o livro de reclamações do Metro de Lisboa!

29 janeiro, 2008

Some Guys Have All The Luck - Rod Stewart (clica aqui)


Some guys have all the luck
Some guys have all the pain
Some guys get all the breaks
Some guys do nothing but complain

Anjos


Os anjos que cantam...
o que cantam?
As vozes se entrelaçam
e envolvem meu corpo.

O que ecoa é frágil,
é latente...
o que borbulha em mim...
dúvidas.

Os anjos que dançam...
para quem dançam?
Parecem estórias
sem começo nem fim.

E eu retoco meu tempo,
escolho um verbo
e saio
à procura.

(Carla Dias)

A esperança que tenho em Ana Jorge. Como mulher.


O José começou a trocar ministros... a conta gotas. Para que não se possa dizer que faz remodelações. Aliás a ele tanto lhe dá que os outros digam. Se há homem que sabe o que quer esse homem é o José. Sabe muito bem. Os ministros deste governo são apenas testas de ferro. Quando não estão de acordo têm que engolir em seco se quiserem continuar com os seus cargos pequeninos, mas que servirão para lhes dar curriculum. Ainda há quem não esteja disposto a continuar a engolir sapos como Amaral Tomás e bata com a porta, embora devagarinho... mas pronto, bateu com a porta, não esperou que lhe fossem dizer és feio, vai-te embora, não queremos aqui gente que se porta mal. Gostamos de gente obediente. Temos um bom pastor e por isso o rebanho há-de segui-lo e as ovelhas tresmalhadas pois que fiquem pelo caminho.
No meio de todo este cenário tenho pena de Ana Jorge. Porque é uma mulher capaz que não vai poder fazer coisa nenhuma. Fará o que o José quer que seja feito e se não estiver de acordo bate com a porta. Estou sinceramente convencida que o fará. Ela não precisa de fazer mais curriculum: é conhecida e reconhecida por todos os que se interessam pelo tema saúde.
O José não precisa de ministros. Precisa de quem esteja disposto a dar a cara por ele. Será que o vais fazer Ana? Espero, sinceramente que não, mulher.

28 janeiro, 2008

A seita tem um radar - Cabeças no Ar (clica aqui)


No meio dos amigos,
aprende-se muito mais;
Do que em todos os manuais,
histórias de fazer corar;
Coisas da vida reais,
que nos querem ocultar
Quando os dias incertos,
franzem o seu sobrolho
E ate os céus mais abertos,
nos correm o seu forrolho
Quem é que não nos enjeita,
só a seita, só a seita

Trovas


Não desprezo o ex-amigo,
mas prezo a separação.
— Quando o cão morde,
é um perigo ficar por perto do cão!

Às vezes faz-se uma trova
só pela idéia incomum.
Tal como esta:
A lua nova é uma lua em jejum...

Ciência é o modo acertado de,
por nova experiência,
demonstrar que estava errado
todo o acerto da ciência...

Se tu passas pela gente,
dizem todos: — Que altivez!
E que engano...
Tu somente não olhas por timidez...

Não queira estar entre os grandes;
a glória é a soma dos nadas.
Lembra as montanhas dos Andes:
— Solitárias e geladas...

(Zalkind Piatigorsky)

Até amanhã...


O dia não esteve tão bonito quanto o fim de semana, mas ainda assim esteve um belo dia... para mim todos os dias são bons, mesmo que chova eu fico contente, o que é preciso é que os dias sejam úteis e o resto depois logo se verá. Estamos em Janeiro e tem estado um tempo de "aquecimento global" pois está-se mesmo a ver o que me faz falta são os trópicos ainda assim sou feliz, aprendi a ser feliz com pouco, como diz o Jorge Palma, reduz as necessidades se queres passar bem...
Voltando ao início. Comecei o dia com uma caminhada à beira mar e notei uma afluência de gente que se passeava o que me fez pensar que haverá muita gente no desemprego e muita gente reformada. Por enquanto ainda não tive nenhuma das experiências. Se bem que não estou nada interessada na primeira e a segunda se chegar a atingir a idade que o José pretende e ainda houver dinheiro para me pagar uma reforma ainda que reduzida, terei com toda a certeza que me dar por feliz...
Levei o resto do dia em trabalhos de bricolage e arrumações. Amanhã regresso ao trabalho, mas não fiquem para aí pensando que meti um falso atestado ou férias. Este dia já eu o tinha trabalhado ao longo do mês. Mas não tarda muito hão-de pôr-me a pagar para trabalhar... Queres um dia de folga? Trabalhaste muito durante o mês? Paciência: o país exige sacrifícios. Da Administração Pública sobretudo - um dia destes hei-de contar aqui uma conversa que ouvi entre dois funcionários de uma grande superfície, sendo que um deles era emigrante e julgava que em Portugal as leis do trabalho eram um pouco diferentes... e acho que não entendeu, não entenderá jamais o que o colega estava a tentar explicar-lhe quanto ao número de horas semanais obrigatório.
Até amanhã, camaradas colegas, companheiros, amigos...

27 janeiro, 2008

You Can Leave Your Hat On - Joe Cocker (clica aqui)

Baby take off your coat
real slow
and take off your shoes
I'll take your shoes
Baby take off your dress
yes yes yes
You can leave your hat on
You can leave your hat on
You can leave your hat on

Como num quadro de Goya



Na sessão de umbanda não durmo
num banco esperando minha mãe.
Ela rodopia, me abraça
um arrepio sem espírito nem luz.
Parece feliz na sua infelicidade de bruxa.
Canta, muda o corpo e a voz,
e nem sabe do abandonadinho.
As velas espiam,
os barcos navegam
o rio calmo e traiçoeiro.
Hinos
mordem meus ouvidos.
Brancos aventais
trazem todas as sombras.
(Paulo Bentancur)

Um ditador a menos.



Morreu um ditador. Fico contente. É verdade. Deixemo-nos de falsas modéstias: quem poderá ter pena da morte de um ditador senão um fascista ou fundamentalista? Pena não ter morrido há mais tempo. Menos assim, não durou tanto quanto é usual durarem os ditadores. Por norma morrem por estarem absolutamente gastos e por terem perdido a oportunidade de mandar.
A Indonésia não fica mais pobre. Espero que agora as coisas por lá melhorem mas não tenho fé. Também é normal a minha falta de fé, mas pronto, ainda assim espero que esta morte traga alguma coisa de bom, mesmo para Timor ali tão perto e que tendo um Nobel da Paz como presidente, parece que a paz é mais fácil de conseguir na teoria do que na prática.
Pronto. Já disse o que tinha para dizer. Fiquei contente com a notícia da morte de Suharto... é um estupor a menos à face da Terra. Ainda que não se tenha ganho mais nada, ainda assim ficamos a ganhar: sempre é menos um ditador.
Felicito por isso o povo indonésio (mesmo sabendo que gente como esta tem sempre imensos seguidores ou nunca chegariam onde chegaram...) e claro, por arrasto o povo timorense que tanto penou às mãos deste homem e como o abandono a que foi votado durante tantos anos por quem tinha obrigação de ter feito alguma coisa: Portugal.

26 janeiro, 2008

Love or leave me - Nina Simone (clica aqui)

I want your love, don't wanna borrow
Have it today to give back tomorrow
Your love is my love
There's no love for nobody else
Say, love me or leave me and let me be lonely
You won't believe me but I love you only
I'd rather be lonley than happy with somebody else

Agulhas

Ah, as mulheres...
Como não vê-las
como novelos
de trama atroz?
Indestrincháveis
mas amoráveis,
enrosco terno
dentro de nós.
Tecer eterno,
de amarradios,
viscoso fio,
doce retrós.
Cerzir interno
de teias fêmeas,
e queixas gêmeas,
antes e após.
Ah, linha tênue,
nó de amargura
que nos costura
juntos e sós...

(Bartolomeu Correia de Melo)

Preciso de me distrair


Ando cansada. Muito cansada. Por isso hoje levantei-me cedo, tomei o meu pequeno almoço, cuidei de mim e fui fazer a minha caminhada junto ao mar. Muito mais agradável hoje uma vez que o paredão estava quase deserto. Uma delícia...
Depois, passei por uma loja da especialidade, comprei tinta, rolo, tabuleiro, pincéis, mais uma quantidade de outras pequenas coisas que vou precisando todos os dias para as minhas actividades domésticas de bricolage e vim para casa.
O difícil por aqui não é pintar paredes. O difícil é despejar estantes que ficam a 5 cm do tecto e que estão pejadas de livros. O difícil não é pintar nem limpar o pouco que sujo. O difícil é arrumar de novo as centenas de livros. É claro que não faço tudo de uma vez. Amanhã acabo. Despejo mais umas estantes, pinto, limpo e arrumo tudo de novo.
Porque é que eu faço isto quando estou cansada? Porque se estou cansada o melhor é mesmo sentir o corpo bem fatigado. De acordo com o espírito... é claro que estou a brincar. Trabalhar com as mãos diverte-me, distrai-me, dá-me tempo para manter a mente ocupada com coisas sem importância, relacionadas com o que estou a fazer e então o meu espírito descansa e eu fico bem.
Por isso, amanhã depois de fazer a minha caminhada volto para acabar esta parte do meu trabalho. Já estou imaginando outro para ocupar as mãos...
Preciso de me distrair.

25 janeiro, 2008

Under Pressure - Joss Stone (clica aqui)

Why can't we give love that one more chance
Why can't we give love give love give love give love
give love give love give love give love give love
'Cause love's such an old fashioned word
And love dares you to care for
The people on the edge of the night
And loves dares you to change our way of
Caring about ourselves
This is our last dance
This is our last dance
This is ourselves
Under pressure

Não

Não temo a infâmia!
Saberei, definhada,
Fundar-me.

Não terás
O intervalo das coisas
Tu que és
Um único tempo

( Vera Albers )

Obrigada amiga.


Tenho muito poucos amigos. Conheço muita gente, é verdade, que diz ser minha amiga. Mas amigos mesmo tenho muito poucos, e os que tenho é para mimar, para conservar e para conversar.
Qual é a principal diferença entre um amigo e um conhecido? Com um amigo converso sobre todas as coisas, as que me afligem e as que me alegram, sem ter que me preocupar com segundos sentidos dados às minhas palavras. Essa é uma diferença fundamental. Poder falar sem pensar primeiro. Um encontro com um amigo é um momento de relax e não um momento de stress.
Já me tem acontecido pensar que alguém é meu amigo, mas depois percebo que afinal estava enganada, que não posso falar sem pensar duas vezes no que vou dizer e sobretudo não posso nunca pronunciar a palavra amo-te... e a verdade é que eu amo os meus amigos, porque a amizade é isso mesmo: amar, ou seja gostar muito de alguém. Com as mulheres é mais fácil: entendemo-nos perfeitamente, podemos ter gestos carinhosos e sabemos que nesses gestos não existem segundas ou terceiras intenções. A única intenção é mesmo a de demonstrar o quanto gostamos umas das outras.
Já com os homens a coisa fia mais fino. O meu melhor amigo disse-me que as mulheres não têm amigos. Que o que todos os homens querem é dormir com as amigas. Outros já me têm dito o contrário. Seja como for o meu melhor amigo continua sendo o meu melhor amigo. Queria dormir comigo mas como eu não quero dormir com ele. Paciência... ficamos amigos como sempre, ou talvez até mais, porque não há nada que ele me esteja a esconder...
Tinha saudades da filha de Pepe. Hoje tive tempo para conversar com ela. Para lhe dizer muitas das coisas que aqui escrevi. Só me esqueci de lhe dizer amo-te, porque contigo posso falar de tudo sem ter que medir as palavras... porque sei que tu estás apenas a ouvir-me e não a julgar-me.
Obrigada pois pelo tempo que me dispensaste, hoje. Sei que não é para agradecer mas sinto que tenho o dever de o fazer. Porque é o que te devo no mínimo.
Obrigada pois.

24 janeiro, 2008

You go to my Head - Rod Stweart - (clica aqui)

You go to my head
With a smile
That makes my temperature rise
Like a summer with a thousand Julys
You intoxicate my soul with your eyes

Iniciação Amorosa


A rede entre duas mangueiras
balançava no mundo profundo.
O dia era quente, sem vento.
O sol lá em cima, as folhas no meio,
o dia era quente.
E como eu não tinha nada que fazer vivia namorando as pernas morenas da lavadeira.
Um dia ela veio para a rede,
se enroscou nos meus braços,
me deu um abraço,
me deu as maminhas.
A rede virou,
o mundo afundou.
Depois fui pra cama
febre 40 graus febre.
Uma lavadeira imensa, com duas tetas imensas, girava no espaço verde.
(Carlos Drummond de Andrade)

Cada um tem o que merece.


Milhares de funcionários públicos franceses saíram hoje às ruas pelo aumento do poder de compra. Em Portugal quando se marca uma manifestação aparecem sempre os mesmos (admito que não faço parte dos mesmos) e quando toca a fazer greve parece que os mesmos são ainda menos... (aqui eu sou das que fazem todas).
Em França os trabalhadores privados apoiam as manifestações dos funcionários públicos. Toda a gente percebe que não se pode ser bem servido por gente que recebe salários de miséria... é por isso que volta não volta vêem à baila os casos de corrupção, que se sentem em todo o lado mas que são mais evidentes nas autarquias e nas forças policiais. Creio que se fossem mais bem pagos a tentação seria bem menor. Não estou aqui a desculpabilizar os corruptos nem os corruptores. Todos tiram partido de uma mesma coisa por falta de carácter, sem dúvida, mas creio que os salários de miséria também contribuem... não sei como é agora, mas ainda há pouco tempo quem quisesse ver um assunto bem resolvido e depressa, untava as mãos dos então contínuos... sempre foram mal pagos. Hoje mudaram-lhes o nome mas continuam a pagar salários indignos para não dizer coisa pior...
Para terminar: em Portugal quando o governo decide que os culpados da situação são os funcionários públicos, os outros aplaudem. Só deixam de aplaudir quando lhes toca também a eles, como os casos da Justiça, Saúde e Educação. É claro que estou a falar da generalidade pois sei que hoje já muita gente percebeu que o funcionário público não passa de um bode expiatório para o governos... os sucessivos governos melhor dizendo. A diferença entre Sarkozi e Sócrates... o primeiro faz política de direita e assume-se como um homem de direita (os franceses não deixarão que faça tudo o que quer) e Sócrates faz política de direita mas quer fazer de conta que é de esquerda... (os portugueses deixarão que o homem continue a fazer tudo o que não prometeu e a deixar na gaveta as famosas promessas eleitorais de esquerda).
Cada um tem o que merece.

23 janeiro, 2008

Morena de Angola - Chico Buarque (clica aqui)


Será que quando vai pra cama a morena se esquece do chocalho?
Será que namora fazendo cochicho com seus penduricalhos?Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela?
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Morena, bichinha, danada, minha camarada, vem me velar.

Terra longe



Aqui, perdido, distante
das realidades que apenas sonhei,
cansado pela febre do mais-além,
suponho
mimha mãe a embalar-me,
eu, pequenino, zangado pelo sonho que não vinha.
"Ai, não montes tal cavalinho,
tal cavalinho vai terra-longe,
terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente"
A doce toada
meu sono caía de manso
da boca de minha mãe:
"Cala, cala, meu menino,
terra-longe tem gente gentio
gente-gentio come gente".
Depois vieram os anos,
e, com eles, tantas saudades!...
Hoje, lá no fundo, gritam: vai!
Mas a voz da minha mãe,
a gemer de mansinho
cantigas da minha infância,
aconselha ao filho amado:
"Terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente".
Terra-longe! terra-longe!...
- Oh mãe que me embalaste-
Oh meu querer bipartido!

(Pedro Corsino Azevedo)

A branca pobre que era dona de uma fazenda.



Tanta coisa de que falar, mas lá fora a lua cheia traz-me à memória África e as noites passadas no mato, ou na fazenda da D. Florinda...
A D. Florinda era uma mulher de mais de 60 anos e farto bigode. Usava o cabelo preso em carrapito e vivia na sua enorme fazenda de palmar a 200 quilómetros do Dondo, com apenas 6 trabalhadores. A fazenda era o seu ganha pão e parece que até tinha sido um bom ganha pão até que rebentou o terrorismo em Angola, a guerra começou e o marido da D. Florinda foi morto e deixou-lhe de herança uma fazenda enorme, dois filhos e meia dúzia trabalhadores que conseguiram escapar à fúria assassina da guerra e se recusaram a fugir como muitos dos outros que conseguiram escapar...
Eu e a minha irmã nessa "campanha" dormíamos num quarto da fazenda da senhora, há muito abandonado por todos, excepto pelos morcegos que gostavam de ir beber água ao copo com água que a minha irmã teimava em levar para o quarto... quando a meio da noite tinha sede ela destapava o copo, bebia o que queria e deixava o copo destapado. Era então que ouvíamos um "ploff" e começava a nossa guerra aos morcegos, atirando-lhes sapatos... só conseguíamos voltar a dormir quando o dia clareava e os lindos bichos voltava a esconder-se no tecto com vigas de madeira do quarto...
Nas noites de lua cheia, sentávamo-nos todos ao redor da D. Florinda que contava estórias de quando era solteira e e depois do homem com quem casou... eu e o meu irmão costumávamos chamar-lhe em privado a D. "E assim sucessivamente", porque era desta maneira que ela terminava todas as frases...
Passámos umas férias bem divertidas apanhando girinos no rio sanguissa que dava nome à fazenda, e metendo-os em latas de marmelada até que eles se tornavam rãs e então lá os levávamos de novo para o sanguissa...
Só para terminar. A fazenda que fazia fronteira com a da D. "E assim sucessivamente" pertencia a um alemão, tinha uma belíssima vivenda com piscina e pavões que se passeavam pelos jardins...
Moral da estória: afinal sempre assim foi. Todos somos iguais só que há uns que são muito mais iguais que outros...

22 janeiro, 2008

You are my destiny - Paul Anka (clica aqui)

You are my destiny
You are what you are to me
You are my happiness
That's what you are
You have my sweet caress
You share my loneliness
You are my dream come true
That's what you are

Memórias de Março


Quando amanheço... leito manso e lento
Nesta manhã sob este sol silente
A cidade desperta calmamente
Ao meu olhar atônito e em tormento.
Uma canoa tangida pelo vento
Com as lembranças da última enchente
Em mim desliza e a cidade sente,
À margem, nos degraus, um leve alento.
Mas a tristeza morre neste instante
Quando, no Pontal, o Itacaiúnas
Vem, farto de canoas, desaguar...
E sou, portanto, este olhar brilhante
Cheio de lembranças, de botos, de buiúnas...
Que corre lento assim de encontro ao mar...
(Abilio Pacheco)

Porque raio...


Volto hoje ao tema do terrorismo, não só porque a linha verde do Metro esteve encerrada grande parte do dia, por causa de um embrulho suspeito... cá para mim alguém esqueceu um saco com umas coisitas para fazer uns arranjinhos de electricidade lá em casa e pronto: vai de parar o Metro!
E por outra razão: uma amiga do meu filho mais novo, só ontem se apercebeu da estória dos paquistaneses suspeitos se encontrarem em Portugal e por isso hoje não foi trabalhar... que não se arrisca a andar de Metro! Se calhar arrisca-se a perder o emprego, mas então, que se pode fazer?
Perguntei ao meu filho se ela tinha alguma fobia... pelos vistos tem várias: se vai ao médico e ele diz que está constipada mete-se na cama e dali não sai dali ninguém a tira até que o mesmo ou outro médico lhe diga que está bem... então, mesmo que esteja com febre ela fica "boa"!
Ora o que o terrorismo pretende é mesmo isto: assustar as pessoas, pô-las em pânico, infernizar-lhes a vida e até em casos extremos como este, fazer com que as pessoas alterem as suas rotinas...
Cá por mim vou continuar o meu dia a dia... estou exposta a tantos perigos a toda a hora e em tantos lugares porque raio hei-de temer mais este do que os outros?

21 janeiro, 2008

Graceland-Paul Simon (clica aqui)


And she said losing love
Is like a window in your heart
Everybody sees you're blown apart
Everybody sees the wind blow

Agora aqui...


Agora aqui;
Longe daquela terra;
A minha terra;
Aquela que me viu nascer;
Apreendi a minha maior;
Essência.
Todos me levam
e ninguém me trás.
Levam tudo sim.
Carne, pele e ossos.
Até meu tutano conseguem sugar
Levam tudo sim.
O melhor que há em mim.
Trazer-me, nunca.
Senão o pior que neles há.

(Ana Branco)

Afinal isto é para a Inês!


O cansaço que desceu sobre mim fez com que fizesse com calma os poucos quilómetros diários que percorro na ida e volta para casa. Faço esta caminhada por um circuito de manutenção e tento não prestar atenção às "torres". Viro-me sempre para o lado das vivendas, onde de vez em quando aparece um cão que ladra a quem passa. Hoje essa caminhada foi mais lenta. Tentava despir o cansaço. Tentava o esquecimento...
Mas foram lembranças que me assolaram quando passei próximo do edifício que serviu de escola durante algum tempo ao meus filho mais velho, e aquela escola traz-me sempre à lembrança um certo professor de Matemática, detestado por muita gente mas com quem me dava tão bem que era capaz de se desviar do seu percurso para me dar boleia onde quer que eu fosse... talvez um dia destes fale dele por aqui. Porque nunca mais o vi desde que a escola fechou e não sei mesmo se ainda trabalha, mas suponho que sim pois é pouco mais velho que eu... e ficou uma pessoa diferente porque fez a guerra de África... nunca se queixou disso, mas admitia que era uma pessoa diferente quando voltou...
Mais adiante passo no edifício que foi o ATL dos meus filhos. De todos. E lembro-me da Inês, a menina com trisomia 21 que só obedecia ao meu filho mais novo. Quando decidia trepar uma árvore e ficar lá por cima, só o meu filho a conseguia convencer a descer... Eram mesmo muito amigos.
Tão amigos que quando ele fez 9 ou 10 anos e eu lhe perguntei quem ia convidar para a festa de aniversário ele enumerou vários amigos, estando entre eles a Inês. E quando eu lhe expliquei que tinha que optar entre todos os amigos e a Inês e lhe expliquei que os outros meninos não eram capazes de aceitar a diferença da Inês e ela ia sentir-se muito infeliz, ele não hesitou e abdicou da presença de todos os outros e ficou só com a Inês, que nos fez uma companhia extraordinária nessa tarde, conversou, brincou e quando o pai a veio buscar teve que ser o aniversariante a convencê-la que a festa tinha acabado e era hora de regressar a casa...
Um dia deixámos de ver a Inês. Ninguém sabe o que foi feito dela. Mas cá por casa falamos dela muitas vezes e com muita saudade.

20 janeiro, 2008

Beatriz - Ana Carolina (clica aqui)

Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Uma negra convertida

Minha avó negra, de panos escuros,
da cor do carvão...
Minha avó negra de panos escuros
que nunca mais deixou...

Andas de luto,
toda és tristeza...
Heroína de ideias,
rompeste com a velha tradição
dos cazumbis, dos quimbandas...

Não xinguilas, no obito.
Tuas mãos de dedos encarquilhados,
tuas mãos calosas da enxada,
tuas mãos que preparam mimos da Nossa Terra,
quitabas e quifufutilas - ,
tuas mãos, ora tranquilas,
desfilam as contas gastas de um rosário já velho...
Teus olhos perderam o brilho;
e da tua mocidade
só te ficou a saudade
e um colar de missangas...

Avózinha,
as vezes, ouço vozes que te segredam
saudades da tua velha sanzala,
da cubata onde nasceste,
das algazarras dos óbitos,
das tentadoras mentiras do quimbanda,
dos sonhos de alambamento
que supunhas merecer...
E penso que... se pudesses,
talvez revivesses
as velhas tradições!

(Mário António)

Sem medos, sem sobressaltos.


Há uma ameaça terrorista contra Portugal, pelo menos segundo as autoridades espanholas, dois terroristas paquistaneses poderão encontrar-se em Portugal para cometer um atentado enquanto o presidente do seu país faz uma digressão por vários países europeus que não inclui Portugal.
Ouvi com agrado uma autoridade portuguesa explicar que não devemos tomar como terroristas os paquistaneses que trabalham e vivem em Portugal, segundo o mesmo é uma comunidade que se encontra bem identificada e dificilmente dois elementos se poderiam integrar nessa comunidade sem que as autoridades portuguesas disso tivessem conhecimento.
Não sei até que ponto os nossos serviços "secretos" sabem da vida de cada um, da minha sabem mais do que eu gostaria, mas achei de muito bom senso este alerta.
De facto as coisas vão mudando um pouco em Portugal, devagar mas vão mudando. Já não é comum ler num cabeçalho de jornal coisas como "preto mata branco", agora já vão dizendo cabo verdiano, angolano ou mesmo homem mata homem...
Também não me parece que os portugueses estejam preocupados com este alerta lançado pelas autoridades espanholas... amanhã seguirei com certeza com a mesma tranquilidade de todos os dias de comboio para Lisboa, juntamente com milhares de pessoas, apanharemos o metro e cada um tentará - espero bem - fazer o seu trabalho o melhor possível.
Sem medos, sem sobressaltos. Afinal de que valeria?

19 janeiro, 2008

Dedicaçon - Gil Semedo (clica aqui)

Um mundo di so verdadi
Mas canto tempo nhu sta permiti es sofrimento
Kuse ki dja nu fazi ku nos mundo
Ma nos nu ka sta para di luta nau
Nhordeus nhu abencuano

Vieram muitos...


"A massambala cresce a olhos nus"

Vieram muitos
à procura de pasto
traziam olhos rasos da poeira e da sede
e o gado perdido.

Vieram muitos
à promessa de pasto
de capim gordo
das tranqüilas águas do lago.

Vieram de mãos vazias
mas olhos de sede
e sandálias gastas
da procura de pasto.

Ficaram pouco tempo
mas todo o pasto se gastou na sede
enquanto a massambala crescia
a olhos nus.

Partiram com olhos rasos de pasto
limpos de poeira
levaram o gado gordo e as raparigas.

(Ana Paula Tavares)

Uma ONG e uma ideia diferente...

Não sei se as crianças são o melhor do mundo como ouço muitas vezes dizer. Há crianças extremamente cruéis, que se tornarão em adultos ainda mais cruéis. Portanto, não sei mesmo se são o que há de melhor no mundo. Mas sei que me emociona o nascimento de cada criança, mesmo que não conheça, mesmo que não veja, basta-me olhar uma grávida para me emocionar... Talvez as crianças não sejam o melhor do mundo, mas são com toda a certeza o futuro.
Na Índia onde existem milhões de crianças órfãs ou abandonadas, entregues a si mesmas, uma ONG criou um Banco de crianças para crianças. E são os putos que vivem de apanhar lixo nas ruas (a ver se nesses países existe lixo como em Nápoles...) que com o que de pouco conseguem com o seu trabalho, comem, (dizer alimentam-se talvez seja, é com certeza um pouco demais), e ainda conseguem poupar o equivalente a uns cêntimos para depositarem no seu Banco. Todas têm contas à ordem e contas a prazo.
Outras ONG's têm tentado acabar com o trabalho infantil na Índia. Tarefa completamente impossível... como é que um país tão pobre pode cuidar de milhões de crianças verdadeiramente deserdadas da vida? Esta ONG consegue pelo menos dar uma noção decente de vida às crianças que consegue abranger...
São iniciativas como esta e o micro crédito que podem ainda fazer alguma coisa pelos países mais pobres do mundo.
Fiquei emocionada com a notícia e não pude deixar de a partilhar convosco.

18 janeiro, 2008

Bridge Over Troubled Water - Paul Simon & Art Garfunkel (clica aqui)


I'm sailing right behind,
Like a bridge over troubled water,
I will ease your mind.
Like a bridge over troubled water,
I will ease your mind.

Rapariga


Cresce comigo o boi com que me vão trocar
Amarraram-me já às costas, a tábua Eylekessa

Filha de Tembo
organizo o milho

Trago nas pernas as pulseiras pesadas
Dos dias que passaram...

Sou do clã do boi -
Dos meus ancestrais ficou-me a paciência
O sono profundo de deserto.
A falta de limite...
Da mistura do boi e da árvore
a efervescência
o desejo
a intranquilidade
a proximidade
do mar
Filha de Huco
Com a sua primeira esposa
Uma vaca sagrada,
concedeu-me
o favor das suas tetas úberes.


(Ana Paula Tavares)

A vida não é fácil!


Ouço muita gente dizer que não gostaria de viver muitos anos. Suponho que isto se deve ao facto de se ver cada vez as pessoas mais novas e mais senis. Não sei porque é que isto acontece, mas realmente a esperança de vida aumentar para que as pessoas estejam apenas assim a modos que vivas como vegetais e não consigam levar uma vida normal não me parece assim uma coisa tão boa. Não me parece sobretudo que seja caso para alardear aos quatro ventos que cada vez vivemos mais...
As minhas avós morreram muito velhas e uma delas viveu sempre sozinha. Quando começou a dizer coisas sem nexo foi internada num hospital e morreu quatro dias depois. Tinha 92 anos e tenho a certeza que não teria querido que fosse de outra maneira.
Vejo muita gente que diz que gostaria de morrer. Porque se sentem sós, porque têm às vezes a lucidez de perceber que deixaram de ser úteis e sentem-se como fardos que outros têm que carregar.
Niemeyer disse quando fez 100 anos que a vida não é fácil. Não foi propriamente uma descoberta. Todos sabemos que a vida não é fácil. Criamos os filhos, às vezes ajudamos a criar os netos e quando podíamos finalmente descansar um pouco, temos a maior parte das vezes de "criar" pais, mães, avós...
Tenho a certeza que a maior parte dos que têm que carregar esses fardos se queixam mas é apenas por cansaço, por desabafo, enfim... porque ninguém é de ferro! No fundo o que todos queremos é manter connosco aqueles que amamos por muito trabalho que tenhamos... mesmo quando na sua insanidade mental nos magoam profundamente.
A verdade é que a vida não é fácil. O que eu gostava mesmo era que fosse autorizada a eutanásia, não apenas para quem se encontre doente em estado terminal, mas para qualquer um que esteja farto de viver... porque quando chegar a altura de começar a avariar, gostava de poder dizer "ajudem-me a morrer" qualquer que for o meu estado físico...
Mas se for possível, o que quer mesmo é fazer um século como Niemeyer... A trabalhar, ou a viajar, ou a ler e escrever com a cabecinha muito fresca.
Para que também eu pudesse dizer "a vida não é fácil".

17 janeiro, 2008

First We Take Manhattan - Leonard Cohen (clica aqui)

I'm guided by a signal in the heavens
I'm guided by the birthmark on my skin
I'm guided by the beauty of our weapons
First we take manhattan, then we take berlin

Contigo aprendi


Contigo aprendi coisas tão simples como
a forma de convívio com o meu cabelo ralo
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
Só tu me acompanhastes súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já a minha única viúva
Não posso dar-te mais do te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente
(Ruy Belo)

Apenas porque vale a pena!


Acabei há poucos dias de ler "O terrorista de Berkeley, Califórnia" de Pepetela. O autor segue o caminho do humor de Jaime Bunda, o seu detective preferido. Ando há uns dias para escrever aqui sobre o livro mas têm-se metido outras coisas, outros dedos outras palavras, enfim... os poucos que me lêem frequentemente sabem do que falo e os outros pois, se quiserem saber terão que passar os olhos pelas palavras de vez em quando, aqui no meu tempo...
Mas a ocasião para falar do terrorista de Berkeley não podia ser melhor. De facto a estória do gás que afinal não era gás, do frasco com produto tóxico que afinal não é tóxico pôs muitos lisboetas a viajar pelo mundo de Bin Laden. Os portugueses estão a precisar de se sentirem importantes, nem que seja à custa de um pequeno atentado que afinal não provocou grandes danos, mas apenas um internamento de uma funcionária do ISCTE e algum mau estar entre outras pessoas. Pessoalmente devo dizer que, trabalhando de facto ali tão perto, senti um cheiro forte a gás mas nada que não tivesse sentido já noutras ocasiões...
Houve também quem achasse que tinha sido uma brincadeira de um aluno da Faculdade de Farmácia... afinal não passou de ignorância pura de uma funcionária que vendo o frasco rachado e estando o pessoal do laboratório "não quis incomodar" - isto é tipicamente português, contra mim falo. Espero que haja o bom senso de não impor um castigo à senhora... afinal ela não tem culpa, não fez por mal, ninguém é ignorante por querer... bem, não será bem assim, mas neste caso parece-me que é.
Pois se o FBI de Pepetela se pusesse a investigar este caso, teria com certeza um "caso terrorista" em mãos. Ainda bem que temos uma PJ e não um FBI...
De qualquer modo leiam o livro de Pepetela: porque está bem escrito, porque qualquer português consegue ler a sua escrita neste livro, e porque é uma caricatura aos medos hoje existentes em todo o mundo acerca do terrorismo...
Leiam. Apenas porque vale a pena!

16 janeiro, 2008

Canta, canta, minha gente - Simone (clica aqui)

Canta, canta, minha gente
Deixa a tristeza pra lá
Canta forte, canta alto
Que a vida vai melhorar

Quem canta seus males espanta
Lá em cima do morro ou sambando no asfalto
Eu canto o samba-enredo
Um sambinha lento e um partido-alto

A vazia sandália de S. Francisco


A gratidão da macieira e a amnésia do gato
nunca pautaram o curso dos meus dias.
Fiquem onde estão!
foi a minha ordem para a macieira e para o gato,
anda bem exteriores ao meu fraco por eles.

Salvei-os (e salvei-me!)
de uma fábula cuja moral necessariamente devia ser eu, o parlante
amigo de macieiras e conhecidos de gatos.

Dá um certo desconforto malbaratar assim
amigos em dois reinos da natureza.
Mas também dá liberdade.

Há uma gente que desponta do outro lado do vale.
Está a correr para cá.
São os meus semelhantes.
Com eles vou desentender-me (mais que certo!),
mas a ideia que deles faço é ainda um laço.

Repousem em paz as macieiras e os gatos.

(Alexandre O'Neill)

Estou farta!


Ando cansada e triste. Acho que andamos todos. Cansados de trabalhar e não ver o fim do mês quase ali, cansados de vermos os nossos impostos voarem não se sabe para onde, cansados de ver serviços privatizados tornarem-se piores e mais caros, cansados. Estou cansada e estou farta!
Farta de ouvir dizer que a administração pública não funciona, farta de não ter ferramentas de trabalho por causa das burradas que o José comete (digo o José, porque estou sinceramente convencida que os ministros deste governo não passam de testas de ferro do José)... é o que eu penso e ainda que me mandem calar, continuarei dizendo o que penso e quando mudar de opinião também o farei saber aqui e em qualquer outro lugar do mundo...
Chamei através do ACP de que sou sócia há muitos anos, e cujos serviços usei uma vez apenas, o serviço de assistência no lar que o ACP proporciona. Fui ao site, li as condições do serviço e ninguém me avisou, nem mesmo quando telefonei esta manhã a solicitar o serviço (tirar um esquentador e colocar outro) que o custo de serviço de tudo o que está relacionado com gaz não é €20, 00/hora (conforme anunciado quer no site quer na revista), mas €50,00 na primeira hora, e € 25 nas seguintes... ninguém me avisou e eu estou zangada. E amanhã apresentarei reclamação, não junto da empresa que me fez o serviço (e que de resto foi impecável) mas junto do ACP que não faz parte da Administração Pública, que vive com o dinheiro dos sócios como eu e que não os serve como devia.
Estou cansada. E estou farta!

15 janeiro, 2008

Right to be wrong - Joss Stone (clica aqui)

You're entitled to your opinion
But it's really my decision
I can't turn back I'm on a mission
If you care don't you dare blur my vision
Let me be all that I can be
Don't smother me with negativity
Whatever's out there waiting for me
I'm going to faced it willingly
.........................................
I've got a right to be wrong
So just leave me

Lembro-me ou não? Ou sonhei?


Lembro-me ou não ? Ou sonhei ?
Flui como um rio o que sinto.
Sou já quem nunca serei
Na certeza em que me minto.
O tédio de horas incertas
Pesa no meu coração,
Paro ante as portas abertas
Sem escolha nem decisão.
(Fernando Pessoa)