23 janeiro, 2008

A branca pobre que era dona de uma fazenda.



Tanta coisa de que falar, mas lá fora a lua cheia traz-me à memória África e as noites passadas no mato, ou na fazenda da D. Florinda...
A D. Florinda era uma mulher de mais de 60 anos e farto bigode. Usava o cabelo preso em carrapito e vivia na sua enorme fazenda de palmar a 200 quilómetros do Dondo, com apenas 6 trabalhadores. A fazenda era o seu ganha pão e parece que até tinha sido um bom ganha pão até que rebentou o terrorismo em Angola, a guerra começou e o marido da D. Florinda foi morto e deixou-lhe de herança uma fazenda enorme, dois filhos e meia dúzia trabalhadores que conseguiram escapar à fúria assassina da guerra e se recusaram a fugir como muitos dos outros que conseguiram escapar...
Eu e a minha irmã nessa "campanha" dormíamos num quarto da fazenda da senhora, há muito abandonado por todos, excepto pelos morcegos que gostavam de ir beber água ao copo com água que a minha irmã teimava em levar para o quarto... quando a meio da noite tinha sede ela destapava o copo, bebia o que queria e deixava o copo destapado. Era então que ouvíamos um "ploff" e começava a nossa guerra aos morcegos, atirando-lhes sapatos... só conseguíamos voltar a dormir quando o dia clareava e os lindos bichos voltava a esconder-se no tecto com vigas de madeira do quarto...
Nas noites de lua cheia, sentávamo-nos todos ao redor da D. Florinda que contava estórias de quando era solteira e e depois do homem com quem casou... eu e o meu irmão costumávamos chamar-lhe em privado a D. "E assim sucessivamente", porque era desta maneira que ela terminava todas as frases...
Passámos umas férias bem divertidas apanhando girinos no rio sanguissa que dava nome à fazenda, e metendo-os em latas de marmelada até que eles se tornavam rãs e então lá os levávamos de novo para o sanguissa...
Só para terminar. A fazenda que fazia fronteira com a da D. "E assim sucessivamente" pertencia a um alemão, tinha uma belíssima vivenda com piscina e pavões que se passeavam pelos jardins...
Moral da estória: afinal sempre assim foi. Todos somos iguais só que há uns que são muito mais iguais que outros...

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