21 janeiro, 2008

Afinal isto é para a Inês!


O cansaço que desceu sobre mim fez com que fizesse com calma os poucos quilómetros diários que percorro na ida e volta para casa. Faço esta caminhada por um circuito de manutenção e tento não prestar atenção às "torres". Viro-me sempre para o lado das vivendas, onde de vez em quando aparece um cão que ladra a quem passa. Hoje essa caminhada foi mais lenta. Tentava despir o cansaço. Tentava o esquecimento...
Mas foram lembranças que me assolaram quando passei próximo do edifício que serviu de escola durante algum tempo ao meus filho mais velho, e aquela escola traz-me sempre à lembrança um certo professor de Matemática, detestado por muita gente mas com quem me dava tão bem que era capaz de se desviar do seu percurso para me dar boleia onde quer que eu fosse... talvez um dia destes fale dele por aqui. Porque nunca mais o vi desde que a escola fechou e não sei mesmo se ainda trabalha, mas suponho que sim pois é pouco mais velho que eu... e ficou uma pessoa diferente porque fez a guerra de África... nunca se queixou disso, mas admitia que era uma pessoa diferente quando voltou...
Mais adiante passo no edifício que foi o ATL dos meus filhos. De todos. E lembro-me da Inês, a menina com trisomia 21 que só obedecia ao meu filho mais novo. Quando decidia trepar uma árvore e ficar lá por cima, só o meu filho a conseguia convencer a descer... Eram mesmo muito amigos.
Tão amigos que quando ele fez 9 ou 10 anos e eu lhe perguntei quem ia convidar para a festa de aniversário ele enumerou vários amigos, estando entre eles a Inês. E quando eu lhe expliquei que tinha que optar entre todos os amigos e a Inês e lhe expliquei que os outros meninos não eram capazes de aceitar a diferença da Inês e ela ia sentir-se muito infeliz, ele não hesitou e abdicou da presença de todos os outros e ficou só com a Inês, que nos fez uma companhia extraordinária nessa tarde, conversou, brincou e quando o pai a veio buscar teve que ser o aniversariante a convencê-la que a festa tinha acabado e era hora de regressar a casa...
Um dia deixámos de ver a Inês. Ninguém sabe o que foi feito dela. Mas cá por casa falamos dela muitas vezes e com muita saudade.

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