31 julho, 2007

125 Azul - Trovante (clica aqui)

O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada
A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa
Não partiu para parte incerta
Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar
Sem paredes, sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar

Recordo ainda


Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

(Mario Quintana)

Afinal sou como as rosas...

Os portugueses são de extremos. Se há algum acontecimento querem ser os primeiros a chegar, a ver, a contar... Se é para cumprir as suas obrigações preferem ser os últimos...
Ele há gostos para tudo. E ainda bem, porque se isto fosse tudo tão britânico quanto eu, às tantas perdia a piada. Tornava-mo-nos uma espécie de Holanda, certinha, organizada e consciente... E eu cá acho graça aos meus compatriotas.
Um sujeito esteve 30 (sim 30!) horas à espera que abrisse uma loja em Matosinhos. Mas conseguiu ser o primeiro! Pode ser que nunca consiga ser o primeiro em mais nada nesta vida, mas este primeiro lugar ninguém lho tira! Devia haver uma condecoração para este tipo de pessoas. Os primeiros nas inaugurações. Sejam elas túneis, ou exposições Berardo em Lisboa ou lojas em Matosinhos. Deviam ser condecorados mesmo no 10 de Junho. Ou noutra data qualquer especial a escolher pelo PM e pelo PR de pleno acordo, sem que nenhum queira chegar primeiro que o outro. Eu cá até nem me importo que uma parte dos meus impostos vá para uma iniciativa como esta. Porque estas pessoas merecem o reconhecimento de toda uma cidade, de todo um país, pois claro!...
Agora quanto às obrigações pois... aí assim de repente não me vem à ideia que recompensa se pode dar a alguém que interrompeu as férias para comprar o "selo do carro"... mas deve haver alguma coisa, deixa cá ver. Já sei Maria Eduarda... proponho uma estadia de 7 dias numa unidade hoteleira (estou cá com um vocabulário hoje, isto são as férias a fazer efeito) de 5 estrelas. De preferência no Allgarve... mas se a pessoa não gostar do Allgarve em qualquer sítio que escolha em Portugal. Tem é que ter 5 estrelas que menos que isso não é digno de alguém que se dá ao trabalho de interromper as férias para pagar o selinho...
Pois José, tu bem inventaste o simplex mas a malta gosta mesmo é do comlpix! Aqui para nós que ninguém nos ouve (que eu não gosto de ficar mal no retrato), eu comprei o selo aqui, sem sair de casa, como tu pediste, pela NET.
Só para veres que afinal eu sou como as rosas para ti e não tenho apenas espinhos!

30 julho, 2007

Terra - Caetano Veloso (clica aqui)

Quando eu me encontrava preso
Nas celas de uma cadeia
Foi que eu vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens
Terra, terra
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria

Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração eu tinha
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Para os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.

(Manuel Bandeira )

A nossa casa.

Começaram as férias para muita gente. Notei na ausência de trânsito aqui da zona para Lisboa.
Às 8 e pico já estavam 29ºC. Chego à praia e decido levar o chapéu de sol. Afinal estou de férias. A ver se consigo estar mais um bocadinho na praia. Uso todos os estratagemas. Estendo a toalha na areia ainda molhada da última maré cheia e numa zona da praia ainda à sombra. Abro o chapéu de sol encosto a garrafa de água de modo a manter-se o mais fresca possível. Já venho besuntada de protector solar de casa. Há uns anos comecei a fazer alergia ao sol e agora, sobretudo o braço esquerdo (devido à condução) tende a incomodar nos dias de mais calor. Por isso me protejo.
Quando era miúda também ia para a praia de manhã cedo e regressávamos antes do meio dia. Era o calor de África e o meu pai decidia assim, era assim que se fazia. Ainda bem: provavelmente senão fosse assim também já teria um qualquer cancro de pele. A falar verdade não sei de nada disso. Tenho muitos sinais mas sempre tive. Prefiro não saber.
Durante anos fiz praia às horas mais impróprias. Não o devia ter feito. Mas fiz. Está feito. Agora não faço. Mesmo que quisesse não seria capaz. Não aguento. E afligem-me sobretudo as famílias com crianças que chegam à praia quando me vou.
Devíamos saber e sabemos. Todos os anos há dias assim de mais calor. Ao contrário da maioria dos mortais durmo lindamente com calor excessivo. Deve ser uma reminiscência da infância que me dá paz. Mas o ano foi invulgarmente molhado. Tenho andado por esse país e admiro-me com o verde em todo o lado, incluindo o Alentejo. Julgo que por isso tem havido poucos fogos. Felizmente. Mesmo assim é um desespero para as pessoas verem os bens de uma vida a arder. Não faço ideia da sensação mas tenho a certeza que é horrível. É por isso que acho que deviam ser aplicadas penas pesadas a quem ateia fogos por maldade, loucura (quem ateia um fogo para protestar por uma situação laboral não está com certeza muito bem mentalmente) ou negligência.
Todos somos responsáveis pela destruição do planeta. Todos temos culpas. É preciso que não as agravemos consciente ou inconscientemente. É preciso consciencializar-mo-nos. É preciso evitar uma maior destruição. Os efeitos do que temos feito estão aí. Sãs as tempestades que arrasam cidades no norte da Europa e na Ásia e o calor intenso noutras parte do planeta.
Por muito que eu goste de calor quero um bem muito grande a esta minha, nossa casa: a TERRA.

29 julho, 2007

Desaparecido - Manu Chao (clica aqui)

me dicen el desparecido
fantasma que nunca esta
me dicen el desagradecido
pero esa no es la verdad
yo llevo en el cuerpo un dolor
que no me deja respirar
llevo en el cuerpo una condena
que siempre me echa a caminar
me llaman el desaparecido
que cuando llega ya se ha ido
volando vengo, volando voy
deprise deprise a rumbo perdido

Receita de mulher


As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce
relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

(Vinícius de Moraes)

Santos da casa também fazem milagres (às vezes)

A Ordem dos Advogados quer um advogado disponível para aconselhar os detidos em todas as esquadras do país. Parece-me bem. É bom para o cidadão que nem sempre é correctamente tratado quando detido e é bom para os advogados que passam a ter um emprego.
Não sei se o José estará de acordo comigo e se fará a vontade à Ordem... Afinal o que ele quer agora é desenvolver o Algarve, dando-lhe turismo de luxo e um hospital de última geração. É claro que tudo isto está interligado. Imaginemos alguém que pagou uma pequena fortuna por uma estadia no Algarve e que sofre um acidente. É evidente que se não tiver um atendimento médico em condições ficará com uma péssima imagem da região e não voltará. E eu bem sei a quantidade gente que gosta de repetir ano após ano o destino de férias. É até à exaustão. Portanto há que criar condições de luxo para clientes de luxo. O que o José escusa, cá para mim claro que sou uma chata, é de vir fazer crer que o alvo dos cuidados hospitalares tão especiais são os algarvios. Pois se ele nem deixa os alentejanos de Monchique serem atendidos em Faro, embora estejam apenas a 20 minutos, obrigando-os a deslocarem-se para Beja que lhes leva mais de uma hora... O que ele está mais é preocupado com o Zé Povinho, é, é!
Mas lá que o José está lindo lá isso está. Ali, de fato e gravata como manda a lei dos bem comportados, apesar do calor... com esta vaga é que não contavas não é José? Tu a quereres que a malta pensasse que não havia fogos por causa das medidas tomadas pelo governo e agora vem esta vaguinha de calor e lá se vai mais um bonito pelos ares... Mas deixa lá José que parece que é calor de pouca dura...
Ainda dizem que santos da casa não fazem milagres... Ai não que não fazem!
(E o que é que o burro tem a ver com isto?)

28 julho, 2007

Fields Of Gold - Sting (clica aqui)

Will you stay with me, will you be my love
Among the fields of barley
We'll forget the sun in his jealous sky
As we lie in fields of gold


See the west wind move like a lover so
Upon the fields of barley
Feel her body rise when you kiss her mouth
Among the fields of gold

Confidência do Itabirano


Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

(Carlos Drummond de Andrade)

A culpa do anticiclone

Tenho cá para mim que o anticiclone dos Açores é o culpado de tudo que vai acontecendo neste cantinho do mundo. A saber:
As gémeas loura e morena querem dar trabalho à procuradora Maria José Morgado. Ai meninas, meninas, deixem a senhora procuradora ir de férias que diabo, ninguém é de ferro e o Jorge Nuno também precisa de descansar das vossas lindas carinhas. Ou será que depois da loura viverá com a morena, só para variar? Quem pode explicar um tal desentendimento entre duas gémeas em tudo idênticas à excepção da cor do cabelo, senão o anticiclone dos Açores?
O José foi para (ou ao?) Algarve. Ouvi dizer que ia de férias mas hoje ainda andava a apregoar investimentos no Algarve (ou será Allgarve) que incluem a duplicação das unidades hoteleiras de 5 estrelas. Agora é que os portugueses se piram todos para Torremolinos e Benidorme. Pois é. Querem transformar o Algarve numa espécie de Dubai. Não estou a ver como (falta-lhe o petróleo) mas por outro lado lá está a influencia do anticiclone dos Açores... agora é que ficas rico José Carlos (é um amigo meu, não é o José de todos nós).
O pessoal chega à praia à hora a que eu vou embora. Os raios UV estão altíssimos, mas tirando eu, parece que ninguém se rala... eu se calhar até nem me ralava também não fosse o facto de o meu coração não aguentar, mau grado a paixão que tem por sol e mar. Mais uma vez, de quem é a culpa? Claro: do anticiclone dos Açores que se deslocou do sítio onde tem estado sempre muito sossegadinho. Tão sossegadinho que durante os 6 anos que vivi no arquipélago não ouvi ninguém fazer-lhe qualquer referência. E claro que ele já era famoso aqui no "contenente"... foram 6 anos tão sossegados que tive que arranjar três filhos para me entreter senão morria de tédio. E porquê? Porque o anticiclone dos Açores não se manifestava!
Agora que já escrevi uma data de baboseiras deixo-vos em paz... com o anticiclone desassossegado dos Açores, claro!

27 julho, 2007

A gente vai continuar - Jorge Palma (clica a qui)

todos náo pagamos por tudo o que usamos o sistema é antigo
e não poupa ninguém
somos todos escravos do que precisamos
reduz as necessidades se queres passar bem
que a dependência é uma besta
que dá cabo do desejo
e a liberdade é uma maluca
que sabe quanto vale um beijo





Labirinto ou não foi nada



Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.


É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua. . .
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!


Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.


É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.


Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.


(David Mourão Ferreira)

Procuro a minha alma gémea.

Aqui há uns dias, no cabeleireiro, uma senhora que estava a ser penteada (e já não me lembro a que propósito veio a conversa) foi-me apontada como parecendo muito mais jovem do que na realidade é. E quando ela perguntou que idade lhe dava, eu, já de tendo em conta o facto de me dizerem que ela parecia muito mais jovem do que a realidade "dei-lhe" 55 anos.
Ela desatou a rir e disse que lhe desse pelo menos 60!
Palavra de honra que tenho vontade de ver o bilhete de identidade da dita senhora. É que, segundo ela, tem 75 anos... e nada, mas absolutamente nada, desde a ponta do cabelo à unha do pé indica que ela possa ter essa idade...
É claro que lhe pedi logo ali a receita. E ela sorrindo deu-ma. "Um casamento muito feliz, uma vida profissional que me realizou plenamente, filhos que não me deram problemas... mas sobretudo o meu casamento, feito de paixão até hoje.
Já tinha ouvido dizer que o amor faz bem à pele. Mas francamente, esta senhora (que até nem é especialmente bonita), é uma jovem de 75 anos que parece ter 50.
E parece que tem sido mesmo a paixão que a mantém assim... embora houvesse logo por ali umas línguas viperinas a falarem de plásticas feitas no Brasil e etc, etc. Francamente eu acredito na senhora. Porque tudo nela é tão sincero, desde o olhar ao sorriso que é impossível não acreditar...
E disse-me que realmente é uma excepção, que é muito difícil encontrar a alma gémea como ela encontrou, que o filho com menos de um ano de casamento lhe disse que o casamento dos pais tinha muito mais "pica" que o dele...
E segundo me contaram o marido parce tão jovem quanto ela. Sinal de que a juventude deste casal se deve mesmo à paixão que nutrem um pelo outro.
Pois é. Eu vou continuar a procurar... enquanto há vida há esperança. E eu até sou uma optimista.

26 julho, 2007

Uns Versos - Adriana Calcanhoto (clica aqui)

Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo

Dava a última camisa por um poema

Dava a última camisa por um poema.
Domingo ao fim da tarde só restam cinzas.
Todos. Tudo inteiramente consumido. Tudo,o quê?
Segunda, sobrava alguma palavra intacta na lareira?

Terça
tão comprida como um ano

quarta, outra vez a esperança
Não, sem poema não se pode viver!

Quinta a memória entra em pânico
A pouca claridade que restava anoiteceu

também na sexta as vagonetas com o meu minério
perdem-se no túnel.

Sábado:
trabalho em vão!
Domingo tudo recomeça e voltava a dar
a última camisa por um poema

(Jan Kostra)

O que quero hoje.

Casei muito nova, fui mãe muito nova e fui avó nova. Ouvi todo o dia cantar loas às avós. Ser avó é muito mais fácil que ser mãe. No percebo para que é tanto banzé. A gente escolhe quando quer ser mãe mas não escolhe quando quer ser avó.
Eu gosto de ouvir os meus netos chamando-me avó e nona. Gosto. Acho piada. Mas sei que não sou uma avó à moda antiga.
Fui avó antes dos 40. Muitos dos meus amigos ficaram estarrecidos. Alguns pensam ainda em ser pais. Eu acho que há um tempo para tudo e acho que, embora um pouco adiantada, fiz as coisas no tempo devido. Não seria, com certeza voluntariamente, mãe aos 40! Tudo tem um tempo. Acho que fui uma mãe razoável embora muito jovem. Um dia destes o meu filho do meio que fez agora 27 anos dizia-me, ainda me lembro de quando tinhas 27 anos e agora sou eu que os tenho. Pois, é a vida! Mas os 27 anos dele, acho que pesam mais do que pesaram os meus. A vida é diferente e embora eu me tenha divorciado quando o meu filho mais novo era bebé, fui mais feliz do que é o meu filho. Pelo menos este. Que carrega a vida como um fardo. Porque é muito crítico consigo mesmo, acaba sendo muito crítico com tudo o que o rodeia. Sinto-o um tanto amargo, como se tivesse 72 anos e não 27. E eu ainda me sinto na mesma. O facto de ser responsável nunca me pôs um peso em cima dos ombros. Ao contrário dele que vive dividido entre vários amores, por várias profissões, por vários países de que não gosta igualmente.
Não sei o que aconteceu com o meu filho. Mas gostava que ele aprendesse a ser feliz.
Tudo o que eu quero hoje, que dizem que é o dia das avós, é que os meus filhos e os meus netos sejam felizes.
E já agora, se não for pedir muito, que todas as crianças tenham o essencial para serem felizes: paz, pão saúde, educação... e pais e avós e tios que os amem.

25 julho, 2007

Torn - Natalie Imbruglia (clica aqui)

I'm all out of faith, this is how I feel
I'm cold and I am shamed lying naked on the floor
Illusion never changed into something real
I'm wide awake and I can see the perfect sky is torn
You're a little late, I'm already torn. Torn.

Um verso vem


Um verso vem. Calculo o peso da neblina
que envolve o seu teor, o preso ritmo
da esfera em movimento: cerro o olhar na alma tensa
que ao longo do percurso mais ensina. O verso
vem por si em si da imagem que vier
no imaginar do corpo em sua ascese leve, peso
de uma estrutura fina ao seu redor.

Um verso vem. O olhar na alma mais se inclina.

(Luís Adriano Carlos)

A ver se não me esqueço...

Começo por agradecer a presença e incentivo constantes de Bartolomeu. Um bloguista que se dá ao trabalho de visitar as páginas dos colegas e deixar escrito o que pensa. Portanto, Bartolomeu, aqui o meu obrigada e o desejo de que não desapareças nunca da minha modesta página, pelo menos enquanto eu me encontrar por aqui.
Ao contrário de Bartolomeu, que sabe muitas coisas que nos tem ensinado nos seus comentários em diversas ocasiões, os políticos belgas são, pelos vistos, completamente ignorantes da História do seu país.
Pior: há quem confunda o hino belga com o hino francês. Uma vergonha! Aqui há uns tempos alguém tentou fazer passar a imagem de que em Portugal as pessoas não conhecem o hino nacional. É verdade que deve haver muito pouca gente que o conhece por inteiro (acho que o Bartolomeu o conhece, deve ser dos poucos), mas aposto que ninguém se poria a cantar o hino de "nuestros hermanos" se lhe pedissem para trautear o hino de Portugal. E as estrofes mais cantadas do nosso hino, são, penso eu, conhecidas da maior parte dos portugueses. Quando eu era miúda aprendia-se na escola. Não sei se ainda se aprende. Tenho que perguntar ao meu neto se foi na escola que aprendeu ou se foram os pais que lho ensinaram. A ver se não me esqueço...
Quanto à Bélgica, pois, começo a perceber porque é tratada como o Alentejo da Europa. Sem qualquer desprestígio para o Alentejo que eu amo e que não tem culpa de não ter sido alfabetizado a tempo e horas, ao contrário da Bélgica.
E como passam por aqui também belgas ou portugueses lá residentes, fica o meu apelo: não votem em quem não sabe o hino do país nem porque razão o 21 de Julho é o dia nacional do país. Não merecem o vosso voto.

24 julho, 2007

Sailing - Rod Stewart (clica aqui)

We are sailing, we are sailing,
home again 'cross the sea.
We are sailing stormy waters,
to be near you, to be free.

Os putos

Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.

Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.

Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.

As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo

Um berlinde abafado na escola
um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.

(José Carlos Ary dos Santos)

Continuando por aqui...

Escrever às vezes é como pintar. A gente escreve uma coisa e o leitor interpreta de uma maneira completamente diferente. Isto é engraçado quando não causa incómodos. Nem sempre é o caso. Já tive alguns aborrecimentos graves com amigos por coisas deste género. A língua portuguesa é traiçoeira? Não sei escrever? Não me sabem ler? É iliteracia?
Ou também pode ser que eu esteja a ler mal as respostas que me são escritas. Pode ser. Às tantas não sei ler nem escrever e esse é o problema.
Prometo pensar seriamente neste assunto e questionar-me se devo ou não continuar a escrever por aqui, arriscando-me a ser mal lida ou a ler mal.
Mas enquanto penso e não penso (eu às vezes sou muito lenta a pensar, vou adiando os assuntos, ponho a ida à praia à frente de qualquer pensamento por muito importante que ele possa parecer), vou continuar por aqui, tentando fazer-me entender. E tentando entender.
Enquanto o professor Fernando Charrua aguarda que lhe paguem o que lhe devem eu vou continuar por aqui.
Enquanto a directora da DREN não for demitida vou continuar por aqui... pois é, vocês a pensarem que se livravam de mim assim com a maior ligeireza, não queriam mais nada! Enquanto ele estiver lá eu estou aqui. E se ela sair, o mais provável é eu continuar por aqui.

23 julho, 2007

Mil Perdões - Chico Buarque e Daniela Mercury (clica aqui)

Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair

A meu maior amigo


Quando eu morrer, eu sei, tu escreverás
Triste soneto à morte prematura;
Dirás que a vida cansa em amargura
E, pálido e frio, tu me cantarás.
Nas quadras, reflectido se lerá
De como, vã e breve, a vida expira
E como em terra funda, dura e fria,
A vida, má ou boa, acabará.
A seguir, nos tercetos, tu dirás
Que a morte é mistério, tudo fugaz,
Verdadeira, talvez, a vida além.

Por fim porás a data, assinarás.
E, relido o soneto, ficarás
Contente por tê-lo escrito bem.

(Alexander Search)

Agora fica escrito!


Na Madeira as mulheres que queiram interromper uma gravidez têm que pedir licença ao senhor Alberto. O senhor Alberto não é dado a modernices. Ainda por cima deve ser a região do país que menos déficit de natalidade apresenta. Sei do que estou a falar. Faz parte do meu trabalho. Na Madeira as famílias são numerosas. E pobres. Muito pobres.
As aparências enganam. Na Madeira mais do que noutras regiões. Os turistas ou os visitantes não se dão conta da miséria, das dificuldades das famílias. Mas eu sei. Pelos pedidos de ajuda que recebo diariamente.
Mas o senhor Alberto diz não ter dinheiro para implementar a medida. Diz que está à espera que o Tribunal se pronuncie. Mas ele não pediu a nenhum Tribunal que se pronunciasse. É apenas mais uma Jardinice... a ver se pinga mais algum para mais um ou outro túnel. Não é que eu seja contra os túneis, não me interpretem mal. Eu sou é a favor da melhoria das condições de vida dos madeirenses e contra gastar todo o dinheiro que pinga em obras que são muito bonitas e fazem muito felizes os turistas mas que não melhoram as condições de vida das famílias.
Eu sou é contra o senhor Alberto. Quem me conhece sabe. Mas agora fica escrito!

22 julho, 2007

Thinking about you - Norah Jones (clica aqui)

Here I am lookin' for signs of leaving
You hold my hand, but do you really need me?
I guess it's time for me to let you go,
And I've been thinkin' about you
I've been thinkin' about you

Um lapso à escuta



1

Não há exaltação
este novelo de sombras
e nos ouvidos
a carne descansa o seu
abecedário.

Tornei-me este planeta por ofício.
Alguns colegas pedem: capelas,
luxos, alquimias.
E outros puxam, palavra
por palavra,
peixes de silêncio.

São atletas de Deus.
E eu confirmo.
também já conheci
os mais puros exercícios
do espírito.

E eu ainda: devagar,
em órbita fechada,
no tempo,
o melhor templo.

2

Inclino na folha
a imprecisão de Deus

Quieto na idade
eu já ouvira
o verbo feito luz

Tacteio o nome
incerto

Fixo o lamento
para a eternidade

3

Na sala ouvia os animais
que nunca vira
e a mão de Deus
batia nos pinhais

Estou só e cheio
do pavor do espaço
o céu abre-se ao meio
e cai-me no regaço

Tão feminino
seu gesto na brancura
dá-me o destino
a troco da loucura

(Armando Silva Carvalho)

O Zé que não existe

O Zé tem 25 anos. Não existe. É alentejano e trabalha no Porto. Entroncado, de cabelo e olhos claros, passaria bem por um tripeiro de origem inglesa. Ou por galego. Falador e respeitador. O Zé é um encanto de rapaz.
O Zé que conheci este fim de semana é zeloso dos seus deveres laborais. Como um jovem com ambição, pensa de mais em trabalho. Nem o fim de semana fez com que deixasse de falar em trabalho. Até cansar. Quando percebeu que estava a falar só de trabalho, pediu desculpa. Como pede desculpa por tudo e por nada.
O Zé, embora seja independente respeita pai e mãe. Um rapaz, como diria a minha mãe, à moda antiga. Na verdade não me lembro de conhecer nenhum rapaz como o Zé. Uma total ausência de rebeldia. Uma total compreensão dos motivos de toda a gente. Mesmo quando se queixa, o Zé vai explicando que não tem nada contra.
Mas até o Zé, às tantas conseguiu descontrair. O stress tomou conta dele. Está sozinho numa cidade estranha. Por companhia tem a Internet. E o trabalho.
O Zé não existe. Porque não tem os 25 anos que diz ter. Há-de fazê-los e ficou feliz por conseguir que o patrão lhe permitisse tirar dois dias para ir a casa festejar os anos. Com os pais e os amigos.
Qualquer dia o Zé há-de ter férias. Não quando quiser mas quando puder. Sem prejudicar o trabalho. Porque, como ele diz, respeita muito quem lhe paga o ordenado...
O Zé não existe. Definitivamente!

20 julho, 2007

The Scientist - Coldplay (clica aqui)

Tell me your secrets
And ask me your questions
Oh let's go back to the start
Running in circles
Coming up tails
Heads on a silence apart
Nobody said it was easy
Oh it's such a shame for us to part

A menina pó de arroz


A menina pó de arroz,
Nascida à beira do mar
Com o oceano nos olhos
E com sorrisos de lua
Nos seus lábios pequeninos
Que nunca ninguém beijou,
A menina pó de arroz,
Com seus cabelos de cobre
Onde o vento vem brincar,
Assoma à sua janela
P'ra ver a noite estrelada,
Para ouvir os sons da noite,
Para beber o luar.
Para ter em suas mãos
Macias, longas e brancas,
A noite tépida e branda,
A velha noite calada.
A menina pó de arroz,
Que por uma abreviatura
Do seu nome arrevesado
É chamada entre família
Por um nome miudinho
De marca de pó de arroz,
Com seu corpinho de fada
Que saiu de alguma fonte
Que há pouco perdeu o encanto,
Com a cabeça nas mãos,
Enquanto na casa dormem,
Veio pôr-se na janela
Para que a noite a beijasse.
A menina pó de atroz
Estará enamorada?

(António Rebordão Navarro)

Sem um ai.

Antes de partir para norte, e desta vez acompanhando um amigo, quero deixar aqui o meu apreço pelas medidas hoje anunciadas pelo José, no que diz respeito à protecção familiar. Não era sem tempo e mais vale tarde que nunca. Talvez estas medidas não sejam o suficiente para incentivar os casais ou as mulheres, simplesmente a terem filhos...
Porque francamente José quem é que se atreve a pôr meninos neste mundo sem a segurança de um emprego? Eu tive 3 filhos José e um emprego que pelo menos na altura era garantido. Mas hoje a maior parte dos jovens não tem emprego ou quando o tem é apenas um emprego precário e na maior parte dos casos muito mal pago.
E os licenciados parece que ainda estão pior. Porque ninguém quer gente qualificada para empregos desqualificados. As leis do trabalho cada vez dão menos segurança. Os patrões fazem o que querem (pelos vistos ainda não tanto como querem... ainda hoje ouvi dizer que querem mexer na Constituição para poderem despedir trabalhadores sem justa causa, como se não o fizessem já, e por causas ideológicas e políticas)... também te vi a ti José, reagir indignado a esta notícia mas também sei que a tua escola de teatro foi melhor que a minha. Portanto... fico aguardando se essa indignação é a valer ou se acabas por fazer a vontade aos grandes senhores do capital deste país, que estão cada vez mais ricos enquanto que a classe média vai desaparecendo, sem que ninguém dê um ai...

19 julho, 2007

Tom's Diner - Suzanne Vega (clica aqui)

Once upon a time
Before the rain began...
I finish up my coffee
It's time to catch the train

O Binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo


O Binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó---óóóóóó óóó---óóóóóóó óóóóóóóó


(Álvaro de Campos)

Gente de cor... duvidosa!

Sou capaz de tudo para não falar de Condoleeza Rice. Irrita-me o tratamento que este mulher de cor duvidosa, tem por parte dos políticos de todo o mundo. Irrita-me que Bush, outro homem de cor mais do que duvidosa, tendo sido eleito presidente dos USA pense que é o dono do mundo. Mas ainda me irrita mais pensar que se ele se arroga esse estatuto é porque os presidentes dos países europeus lho atribuem. Irrita-me muito ouvir, ver e falar de gente de cor duvidosa... Irrita-me tanto que prefiro voltar para a minha praia.
Que por enquanto ainda está sossegadinha.
Acontece que ontem duas raparigas acharam que não tinham espaço suficiente para estender as toalhas e resolveram estendê-las mesmo ao pé de mim... eu sei que sou gira e coisa e tal, mas que diabo!, com tanto espaço tenho que estar a ouvir as confidências das outras criaturas deste mundo?
Lembrei-me então da última viagem que fiz no pino do Verão para fora de Portugal (e jurei para nunca mais). Indo para Salou, desembarquei em Barcelona onde aluguei um Corsa para as minhas férias. Em boa hora fiz as contas ao preço do "transfer" e ao preço da carripana alugada. Porque se não fosse o carrito acho que tinha dado em doida.
Eu não gosto de multidões. Detesto. Mas decidi um dia verificar como era a praia em Salou. Cheguei bem cedo como é meu hábito e devo dizer que se estava mesmo bem. O areal limpo, a água convidativa a grandes provas de natação... só que por volta das 10 da manhã, a praia estava cheia. Tão cheia que as pessoas conforme iam chegando iam dobrando ao meio as toalhas dos que lá estavam (no mar) e poisavam as suas também dobradas.
Decidi então levantar acampamento, porque mau grado a minha timidez, não sei do que seria capaz se chegando do mar visse que as minhas coisas tinham sido mexidas por estranhos...
Pronto. Já sei que não sei o que é partilhar... mas é que para mim tudo tem limites. E aquilo ultrapassava todos os meus limites.
Tal como as pessoas de cor de quem falo no início deste texto.

18 julho, 2007

Mundo ao contrario - Xutos & Pontapés (clica aqui)


Se gosto de ti,
Se gostas de mim,
Se isto não chega
Tens o Mundo ao contrário.

Amargo estilo novo


Tudo é fácil quando se está brincando com a flor entre os dedos
quando se olham nos olhos as crianças,
quando se visita no leito o amor convalescente.
É bom ser flor, criança, ou ser doente.
Tudo são terras donde brotam esperanças,
pétalas, tranças,
a porta do hospital aberta à nossa frente.

Desde que nasci que todos me enganam,
em casa, na rua, na escola, no emprego, na igreja, no quartel
com fogos de artifício e fatias de pão besuntadas com mel
E o mais grave é que não me enganam com erros nem com falsidades
mas com profundas, autênticas verdades.

E é tudo tão simples quando se rola a flor entre entre os dedos
Os estadistas não sabem,
mas nós, os das flores, para quem os caminhos do sonho não guardam segredos,
sabemos isso e todas as coisas mais que nos livros não cabem

(António Gedeão)

Lá se vai o meu sossego...

Costumava ser só minha a praia. Durante anos fiz segredo da sua localização. Era o meu sítio de sol, mar e sossego. Por mais que fosse Verão, por mais que fosse domingo, ela lá estava à minha espera e de mais meia dúzia de pessoas que se deram ao trabalho de a descobrir.
É verdade que as suas condições eram mínimas, mas aí estava o seu encanto. Tinha apenas os plásticos para depósito de lixo, um bar bastante rasca (onde nunca entrei, de resto) e até o salva vidas era um galego que duvido muito soubesse nadar... mas dava para o gasto, chateando os mergulhadores e pedindo constantemente a intervenção da polícia marítima o que dava a agitação necessária ao sossego existente.
Eis senão quando um conhecido fadista da nossa praça, descobriu o recanto e começou a aparecer com a sua corte de amigos e amigas.
Não sei se foi coincidência, mas este ano a praia tem uma escada toda modernaça (lá se vão as caminhadas sobre rochas, tem-te não caias para não torcer um pé), um restaurante com esplanada e cúmulo dos cúmulos cadeiras-cama!
Por enquanto ainda se encontra bastante deserta mas estou a ver que por este caminho todos os tios e tias das proximidades tomarão conta do pedaço...
E lá se vai o meu sossego não tarda nada!

17 julho, 2007

The Promise - Tracy Chapman (clica aqui)

If you wait for me then
I'll come for you
Although I've traveled far
I always hold a place for you in my heart
If you think of me
If you miss me once in a while
Then I'll return to you

Frutos

Quando a amada oferece
o seu corpo, ela sabe
que dos frutos apenas
se colhe o sabor.
É entãoque os dedos
separam as películas,
que a lâmina desce e a água
e o fogo se misturam.
E é então que a vida
e a morte convivem
sob o mesmo tecto.

(Albano Martins)

É preciso variar.

Estou no século XXI neste momento, usando a Internet para me comunicar com o mundo. De manhã estive na pré-história que também se comunica connosco graças às novas técnicas arqueológicas ao dispor do homem. São os avanços da civilização. Às vezes parece que nem sempre sabemos muito bem o que andamos a fazer, mas de vez em quando lá acertamos uma e é uma festa.
Não é a primeira vez que sigo indicações na estrada, quando me encontro com todo o tempo do mundo para as seguir. Esta manhã acertei na primeira indicação e consegui ver um menir e um cromeleque, dos maiores da península ibérica, com um conjunto de 92 menires, supõe-se que de um total de mais de cem.
Depois tentei a indicação na estrada de recinto megalítico, com o desenho de uma anta. Fiz a estrada de uma lado para o outro e não consegui ver qualquer recinto a não ser o de uma unidade de vitinicultura... para muitos seria com toda a certeza mais importante. Acontece que não era exactamente o que eu procurava e por isso fiquei desiludida.
A seguir segui a placa para a gruta do Escoural... hoje é que seria bom, hoje tinha todo o tempo do mundo, hoje é que conheceria a famosa gruta...
Pois é. Encontra-se fechada (temporariamente dizia a indicação), mas pelos vistos sem tempo determinado para reabrir...
Isto é o tipo de coisa que não pode acontecer numa terra que procura o turismo como saída para a desertificação. Via alguns turistas em Évora, mas não acredito que fiquem muito bem impressionados com coisas deste tipo.
Ontem visitei o templo de Diana. Não meus amigos. É claro que conheço o templo de Diana há muitos anos. Mas nunca o tinha visitado de noite. Como todas as coisas, diferente conforme a luz ou a falta dela, ou à luz do sol ou à luz artificial.
Deixo-vos uma das fotos que tirei e digo-vos que quando puderem façam como eu: visitem o templo de Diana à noite. E como eu, tomem a bica de frente para o templo... em vez de frente para o mar como é meu costume.
É que às vezes é preciso variar.

15 julho, 2007

A culpa é da vontade - António Variações - Humanos (clica aqui)

A culpa não, não é do Sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa não, não é do Sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te abraçar

Limiar


Somos ainda o limiar - espessa
nuvem embrionária. Verdes,
imaturos crustáceos
emergimos
à superfície grávida
das ondas. Somos
o medo ou sua
improvável renúncia. O que
sabemos do
amor, da morte, é só
difusa,
opaca,
luminosa fábula.

(Albano Martins)

Quer eu queira quer não.

Chego a casa depois de um dia bem passado, festejando o aniversário do meu filho do meio que veio a Portugal de propósito para isso. Juntar toda a criançada possível e conversar. Ele que vive em Itália, a prima que chegou há pouco de Macau, o mais velho que veio de Santarém só para podermos estar todos um pouco mais juntos. Porque vivemos todos tão longe um dos outros que é difícil arranjar maneira de estarmos juntos. Sobretudo com as crianças. Que são primos e mal se vêem. É a vida que nos empurra de um lado para o outro. Mas amanhã parto com o meu filho para umas voltas por este país. Necessariamente um ou dois dias porque ele veio por uns dias, também muito poucos e ainda quer gozar um pouco de praia. E eu... que é uma das coisas que me dá mais gozo: sol e água para nadar, mergulhar, sentir-me sempre mais viva de cada vez que volto à superfície.
"Mas é preciso respirar, todo o dia".
Mas quero que ele conheça um pouco mais deste nosso país. Porque passamos a vida a estrangeirar e depois não conhecemos o que temos ao pé de nós.
E ao pé de mim tenho a cidade de Lisboa. Onde não voto. Onde não vivo há muitos anos. Mas onde trabalho. Mas de que gosto muito (ainda hoje andei pelo bairro das colónias, Graça, Alfama). E parece que, mais uma vez quem ganhou foi mesmo a abstenção... O costume para não variar.
Quanto ao resto, bem, o Costa como era de esperar foi o primeiro dos candidatos... mas a acreditar nas projecções que dão o segundo lugar a Carmona Rodrigues, mais uma vez fico com a certeza de que o José vais bisar também nas próximas.
Quer eu queira quer não. Como é o caso.

14 julho, 2007

The Obvious Child - Paul Simon & Olodum (clica aqui)

And in remembering a road sign
I am remembering a girl when I was young
And we said
These songs are true
These days are ours
These tears are free

Segredo

Nem o Tempo tem tempo
para sondar as trevas

deste rio correndo
entre a pele e a pele

Nem o Tempo tem tempo
nem as trevas dão tréguas

Não descubro o segredo
que o teu corpo segrega

(David Mourão Ferreira)

Dois dedos de conversa


Primeiro dedo
Costumo almoçar quando trabalho ao sábado, num restaurante, sempre o mesmo, e é costume ser atendida sempre pelo mesmo empregado. Género atrapalhado mas como quero sempre a mesma coisa ele só pergunta se é o costume e, se digo que sim, ele repete o que eu quero do primeiro prato ao café, passando pela bebida. Certinho. Sem enganos. Rapidíssimo.
Hoje o restaurante era o mesmo mas o empregado vi-o ali pela primeira vez. Homem da minha idade mais ou menos, ficou atrapalhado quando pedi tudo de uma vez como de costume. Pediu-me que fosse pedindo uma coisa de cada vez e tratou-me por menina.
E voltei aos velhos bairros desta Lisboa que está há anos cheia de velhas meninas. O costume foi-se perdendo, por isso hoje achei tanta piada ao empregado que se dirigia a mim por "menina" de cada vez que se queria certificar de alguma coisa que eu pedira.
A minha tia avó tinha uma loja género retrosaria em Alfama, mas onde havia um pouco de tudo: de pronto-a-vestir a sapatos, ou como dizia o empregado, o senhor Correia, "aqui temos tudo desde a agulha ao alfinete", às meninas de 80 anos que entravam porta adentro, para fazer os seus "avios" e depois deixavam as contas penduradas no sebento livro de dívidas dos clientes.
Vai-se perdendo, mas afinal ainda existe a Lisboa das "meninas".

Segundo dedo
Ouço com espanto que alguém põe em causa os objectores de consciência. Parece que há quem pense que há médicos que objectam consciência para praticar a IVG nos hospitais públicos para depois a praticarem nos estabelecimentos privados, uma vez que esta situação não está prevista na lei. Melhor: não está explícita.
Ora isto faz-me uma imensa confusão. Então alguém que é objector de consciência é um vigarista que quer apenas ganhar mais algum por fora?
Não quero acreditar que haja quem objecte consciência com esta visão. Porque me parece que essa situação seria completamente indigna de profissionais como os médicos.
Prefiro pensar que se trata apenas de umas cabecinhas "sujas" que resolvem levantar este tipo de questão.
Tomara que não seja eu quem esteja enganada...

13 julho, 2007

Dancemos no Mundo - Sérgio Godinho (clica aqui)

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só


Sinais de fogo

Sinais de fogo, os homens se despedem.
exaustos e tranquilos, destas cinzas frias.
E o vento que essas cinzas nos dispersa
não é de nós, mas é quem reacende
outros sinais ardendo na distância
um breve instante, gestos e palavras.
ansiosas brasas que se apagam logo.


(Jorge de Sena)