22 julho, 2007

Um lapso à escuta



1

Não há exaltação
este novelo de sombras
e nos ouvidos
a carne descansa o seu
abecedário.

Tornei-me este planeta por ofício.
Alguns colegas pedem: capelas,
luxos, alquimias.
E outros puxam, palavra
por palavra,
peixes de silêncio.

São atletas de Deus.
E eu confirmo.
também já conheci
os mais puros exercícios
do espírito.

E eu ainda: devagar,
em órbita fechada,
no tempo,
o melhor templo.

2

Inclino na folha
a imprecisão de Deus

Quieto na idade
eu já ouvira
o verbo feito luz

Tacteio o nome
incerto

Fixo o lamento
para a eternidade

3

Na sala ouvia os animais
que nunca vira
e a mão de Deus
batia nos pinhais

Estou só e cheio
do pavor do espaço
o céu abre-se ao meio
e cai-me no regaço

Tão feminino
seu gesto na brancura
dá-me o destino
a troco da loucura

(Armando Silva Carvalho)

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