Volta do mar
desmaia o sol
e o barquinho a deslizar
a vontade de cantar
Céu tão azul
ilhas do sul
e o barquinho é um coração
deslizando na canção
Um blog do dia a dia, com muitas estórias, alguma poesia, música, fotografia, crítica, comentários... para desabafar, porque sem um grito ninguém segura o rojão!
31 janeiro, 2009
Andorinha
a breve estória do Álvaro
lá fora o vento assobia e a chuva cai forte. as palmeiras ameaçam perder ramos a qualquer momento mas eu estou no sul de Angola e ouço Álvaro Lopes contar a sua estória. ou parte da sua estória e outras estórias. recordo algumas. o pai de Álvaro Lopes era português e branco. não sei que tipo de relação nem como conheceu a mãe do Álvaro que era uma preta do mato daquelas que nunca saíram da sua sanzala no meio do mato no meio de nada. num lugar onde quer que se perguntasse se tal sítio ficava longe nos respondia é perto longe. perto longe como perguntámos a primeira vez. perto se fores assim de jeep e longe se fores a pé como eu... sabedoria do mato. o certo é que o pai de Álvaro o trouxe para Portugal e ele fez o liceu. depois quis regressar a Angola conhecer mãe voltar às suas raízes. conheceu a mulher com quem casou na Huíla (ex Sá da Bandeira) onde ela tinha uma farmácia por era licenciada em farmácia. mas depressa o Álvaro começou a achar a cidade demasiado pequena para os seus sonhos. quando lhe propuseram gerir uma fazenda enorme perto da África do Sul não hesitou. visitava a mulher de 15 em 15 dias em Sá da Bandeira. e o casamento segundo ele era um bom casamento. estavam afastados sentiam saudades um do outro e o reencontro era sempre uma alegria. de vez em quando o Álvaro também visitava a mãe. levava-lhe de presente coisas úteis como café, arroz, cobertores, roupa... quando ela morreu descobriu dentro de uma velha arca todos os presentes que lhe dera. intactos. eram as lembranças do seu menino não ia gastá-las não é?
30 janeiro, 2009
Facil de Entender - The Gift (clica aqui)
Fim de semana
viver de trás para a frente
já deixou de o desejar. aos 84 anos já não ouço a minha mãe dizer que a vida devia ser ao contrário. nascer velho e tornar-se novo. não sei se Eric Roth tem uma mãe como a minha ou se a ideia lhe surgiu de outra maneira qualquer. sei que o Estranho Caso de Bejamin Button é extraordinariamente bem feito. imaginem um bebé que nasce velho com todos os problemas inerentes. tem artrite e cataratas e o médico não lhe dá muito tempo de vida. para além de ter nascido assim tem o azar de ter uma mãe que morreu após o parto e um pai que o vai deixar à porta de um lar de idosos. ou a sorte de o pai o ter deixado naquele lugar. porque ali ele é recebido como uma benção pela dona da casa uma preta jovem que não pode ter filhos. para além disso nos primeiros anos de vida ele é mais um velho entre os velhos. com a diferença de rejuvenescer enquanto os outros envelhecem. a estória é demasiado louca. o filme tem a marca de David Fincher e uma bela banda sonora. Brad Pitt e Cate Blanchett muitissimo bem caracterizados ao longo da estória. quase 3 horas para esquecer da vida e do tempo. que seria de mim sem o cinema os livros a música e o mar? acho que a minha avó me incutiu o bichinho com as estórias trágicas que me contava. e apesar de tantos filmes vistos ainda não vi nenhum que se comparasse em drama a qualquer das estórias que me contou... deve ser por isso que eu durmo bem. fui habituada a conviver com a tragédia.
29 janeiro, 2009
Chuvas de Verão - Maysa (clica aqui)
Quero saber
Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com u te dou o meu
com uma condição: não nos compreender
(Pablo Neruda )
em breve... continua
depois de um mês no meio de elefantes moscas de elefantes e espinheiras partimos em direcção à civilização. a proximidade da fazenda dos Gata na Ediva. o acampamento foi erguido ao lado de um pequeno cemitério alemão e o meu pai valia-se disso para que os trabalhadores não gastassem os seus salários semanais por inteiro na loja do mato em bebida. é claro que havia alguns como o Jeremias que não o faziam mas eram poucos. inventou a estória dos fantasmas dos alemães que se apoderariam das suas almas se eles bebessem uma vez que os mesmos alemães também gostavam de se embebedar. foram 3 semanas de sossego e podíamos passear caminhar e ler sem ter por cima um mosqueteiro fosse dia ou fosse noite. um colega do meu pai ofereceu-me um casal de periquitos que mais pareciam catatuas em miniatura. trabalho efectuado avançámos em direcção ao Cunene bem perto das quedas do Ruacaná na fronteira com a África do Sul. fomos recebidos por Álvaro Lopes um mulato grande e forte que geria uma fazenda de uma companhia de que não recordo o nome. fez questão de nos alojar na casa da fazenda. as primeiras vítimas foram os periquitos a quem o gato conseguiu filar apesar da gaiola... mas o desgosto foi esquecido bem depressa perante a força maravilhosa daquela natureza. o Álvaro Lopes levava-nos em passeios de barco apesar do medo da minha mãe que sabia que o rio estava infestado de crocodilos. o velho mulato abria o sorriso e dizia fique descansada que matei o último o ano passado. e de barco a motor ele dava umas voltas para afugentar a bicharada de modo a que pudéssemos usar alguma das muitas praias que se formavam ao longo do rio. olhávamos os hipopótamos a poucos metros e não nos pareciam perigosos. e as lontras lindas que iam escasseando à custa de serem mortas por caçadores furtivos que o Álvaro nem sempre conseguia afugentar. mas porque tudo o que recordo daquelas férias dá pano para mangas este texto terá continuação. em breve.
28 janeiro, 2009
Até Quando - Gabriel O Pensador (clica aqui)
Fervet amor
Dá para a cerca a estreita e humilde cela
Dessa que os seus abandonou, trocando
O calor da família ameno e brando
Pelo claustro que o sangue esfria e gela.
Dessa que os seus abandonou, trocando
O calor da família ameno e brando
Pelo claustro que o sangue esfria e gela.
Nos florões manuelinos da janela
Papeiam aves o seu ninho armando,
Vêem-se ao longe os trigos ondulando ..
Maio sorri na Pradaria bela.
Papeiam aves o seu ninho armando,
Vêem-se ao longe os trigos ondulando ..
Maio sorri na Pradaria bela.
Zumbe o inseto na flor do rosmaninho:
Nas giestas pousa a abelha ébria de gozo:
Zunem besouros e palpita o ninho.
Nas giestas pousa a abelha ébria de gozo:
Zunem besouros e palpita o ninho.
E a freira cisma e cora, ao ver, ansioso,
Do seu catre virgíneo sobre o linho
Um par de borboletas amoroso.
Do seu catre virgíneo sobre o linho
Um par de borboletas amoroso.
(Gonçalves Crespo)
até ser velha quero ser criança
entre um livro e outro olho para o céu cinzento. estou dentro do comboio em Alcântara Terra. faltam ainda alguns minutos para que parta e eu olho o céu carregado de nuvens. de repente fixo o olhar numa mancha negra e logo a seguir noutra. de repente elas fundem-se. fico admirada. são andorinhas. essas que chegam para anunciar a Primavera. provavelmente porque está menos frio por cá que no norte de África resolveram chegar mais cedo. espero que não se vão embora. para poder olhar o seu bailado. a maioria segue para a esquerda e um bando mais pequeno para a direita mas logo de seguida o bando mais pequeno volta a juntar-se e formam um todo e continuam voando e mostrando o seu bailado. as andorinhas anunciam sempre algo de bom. pois. mas o que seria uma vez que o tempo continua de chuva? horas depois fiquei sabendo. o Rafael que fez hoje 15 dias foi visitar-nos. lindo de morrer ao colo da mãe babada. é claro que logo que pude lhe peguei e continuou o seu soninho cheio de sonhos (com que sonhará um bebé tão pequeno?). eu não estava a sonhar. voltava a ter um bebé ao colo. o último assim tão pequenino em que peguei foi no irmão dele o Daniel que hoje tem dois anos e uma desenvoltura e independência capazes de fazer inveja a muitos adultos... mas espero que ele continue a ser criança por muito tempo. até ser velho se possível.
27 janeiro, 2009
Ne Me Quitte Pas - Maysa (clica aqui)
A criança que pensa em fadas
A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
(Fernando Pessoa)
ó que te posso dar...
a vida prega-nos cada uma amiga! pois agora já não importa dirão. mas importa. importa que nunca mais te veja. importa que nunca mais te ouça. importa que nunca mais possa atender as tuas chamadas com o meu tradicional espanhola trapalhona. há cerca de dois meses passei perto da tua porta e pensei em ti. mas ia para uma noite num bar com amigos com quem não te davas... mal sabia eu que quando passei à tua porta tu já lá não estavas... como foi possível partires assim sem que eu soubesse de nada. como é que num mundo tão pequeno e ainda mais pequeno aquele em que vivias... como é possível que ninguém me tenha avisado que tinhas piorado? como é possível que eu apanhasse de chofre com a notícia hoje porque tinha pedido a um amigo que tentasse obter o teu contacto já que mais uma vez perdi o telemóvel (acho que por mais tempo que passe não consigo gostar daquele bicho e é por isso que o perco constantemente) e com ele mais uma vez a agenda. eu sei que muita gente há-de pensar que é desculpa mas olha que não. há quem se especialize a perder os óculos. eu é mais os telemóveis... se aqui estivesses havias de rir e falar no teu português atabalhoado e abraçar-me quase pendurada no meu pescoço por seres tão pequenina... não sei se a tua mãe ainda está por este mundo. em Toro ou em França com uma das tuas irmãs mas vou tentar saber porque se ela te sobreviveu está com certeza a sofrer horrores. as tuas filhas hei-de procurá-las quando for a Sines. e conhecer as tuas netas que afinal nunca conheci. estou muito triste amiga. e sinto-me muito mal por ter deixado passar tanto tempo sem te visitar... acho que esta é uma das poucas culpas que hei-de carregar comigo até ao fim dos meus dias. mas arrepender-me não serve de nada. por isso vou tentar que nada de semelhante volte a acontecer com alguém de quem goste tanto como de ti. no meu coração estás viva. para sempre. e deixo-te a lágrima que cai sem que eu possa impedir que aconteça... é só o que te posso dar por agora.
26 janeiro, 2009
A Formiga no Carreiro - Jacinta (clica aqui)
Os ombros suportam o mundo
Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
(Carlos Drummond de Andrade)
o mundo do cada um por si
quando a minha casa foi assaltada há cerca de 3 meses a um sábado à hora de almoço parece que a única pessoa que ouviu alguma coisa foi a vizinha de cima que referiu ter ouvido um grande estrondo que suponho tenha sido quando o cofre foi arrancado da parede. a polícia parece não ter descoberto coisa nenhuma e os casos aqui na zona foram tantos que dez dias depois recebi uma carta dizendo que a minha queixa apresentada contra terceiros tinha sido arquivada. fiz os possíveis para que todos os vizinhos tomassem em consideração o que acontecera e que não abrissem a porta da rua do edifício a quem quer que se identificasse como o carteiro ou distribuidor de publicidade ou qualquer outra pessoa desconhecida. um dia destes tocaram à porta e pelo interfone percebi que alguém já tinha aberto a porta. passados alguns minutos tocou a campainha de minha casa e quando perguntei quem era o sujeito disse qualquer coisa relacionada com SIDA. pedi desculpa por não abrir a porta e ele foi imediatamente embora. no sábado último ao fim da tarde a minha vizinha do lado bateu à minha porta porque se tinha esquecido da chave na fechadura e precisava de tentar empurrar a chave de modo a poder abrir a porta com a chave suplementar que é guardada pela mãe que vive próximo. tentámos mas não fomos capazes. recorremos à anunciada técnica da radiografia mas está visto que aquilo é para quem sabe. entretanto falou com os bombeiros que anunciaram que cobrariam € 120,00 pelo serviço. desistiu. ligou para a mãe que lhe falou de um sujeito que era jeitoso para essas coisas e que já tinha safo alguns vizinhos dela. a minha vizinha esperou em minha casa que o tal senhor chegasse o que aconteceu mais ou menos 20 minutos depois. trazia uma maleta e a primeira coisa que tentou foi a técnica da radiografia. fiquei a ver para ver se aprendia... quem sabe quando precisarei de a usar... enquanto metia a radiografia debaixo para cima na ranhura da porta dava pontapés estrondosos na mesma. olhei para a minha vizinha e comentei como vê bem se pode arrombar uma casa neste prédio que ninguém dá por nada. este é o mundo do cada um por si. será que o homem que hoje foi resgatado das águas em Gondarém o teria sido se quem fosse a passar fossem portugueses em vez de imigrantes? sinceramente acho que neste momento ele não teria uma estória destas para contar. e é pena. e já agora dizer que o homem não conseguiu abrir a porta mas conseguiu empurrar a chave para o chão o que permitiu à minna vizinha abrir a porta com a chave suplente.
25 janeiro, 2009
Domingo no Mundo - Sergio Godinho (clica aqui)
Entre os teu lábios
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
(Eugénio de Andrade)
tentar não custa
meu caríssimo Filipe vou deixar a pópia cujo termo era usado pelo meu pai. não o fui buscar a lado nenhum. existe e não foi ele e muito menos quem o inventou... adiante. bates palmas ao facto de eu andar ao frio e à chuva de bicicleta. há quem fique horrorizado com o facto. a verdade é que terás que bater palmas a muito mais gente que usa a bicicleta no seu dia a dia como meio de transporte. e sabes que mais? mesmo sem nos conhecermos respeitamo-nos. sabemos qual é o lugar de cada um e não o ocupamos. de resto devo dizer-te que pedalar é uma das melhores formas de afastar o frio. podes crer que quando chego à estação ou a casa não tenho nem um pouquinho de frio. antes pelo contrário. portanto como vês são apenas vantagens. poupamos o ambiente e dinheiro e de caminho ganhamos em saúde. que te parece? olha que tentar não custa. é claro que dependendo do sítio onde moras e do percurso que tens que percorrer terás que escolher uma bicicleta conveniente. a mim basta-me uma de cidade dessas que se dobram e se podem meter no autocarro se for preciso (até agora não foi pois só ando de comboio e agora muito raramente uso o Metro). mas não me espanta a tua reacção. antes de ter começado a usar a bicicleta como meio de transporte teria provavelmente a mesma reacção que tu. aplaudia. mas não é digno de tanto. isso posso garantir. e quanto à chuva sabes a única coisa que me lixa são os chapéus de chuva que sempre me recusei a usar. por isso te digo que agora apanho menos chuva do que quando andava à procura de um lugar para enfiar o carro e depois tinha que ir do sítio onde o deixava para a estação a pé... sem contar que agora não tenho que me levantar tão cedo porque o meu lugar está sempre garantido e é à porta da estação!
24 janeiro, 2009
Smile - Chaplin by Nat King Cole (clica aqui)
Cerimónia de passagem
"a zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume"
a pedra produziu lume"
a rapariga provou o sangue
o sangue deu fruto
o sangue deu fruto
a mulher semeou o campo
o campo amadureceu o vinho
o campo amadureceu o vinho
o homem bebeu o vinho
o vinho cresceu o canto
o vinho cresceu o canto
o velho começou o círculo
o círculo fechou o princípio
o círculo fechou o princípio
"a zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume"
(Ana Paula Tavares)
fui
por toda a Europa se faz sentir o mau tempo ou o tempo quente demais. parece que estamos a entrar numa era onde já ninguém se entende. talvez seja até causado pelos efeitos climatéricos que os psicopatas matam sem que se perceba porquê. na minha terra chamam-lhes cacimbados. é a voz do povo. e a voz do povo está sempre certa. excepto é claro nas excepções que servem para confirmar a regra. cacimbados porque o cacimbo é um tempo assim aparecido com alguns dos dias que temos vivido por aqui. nem chove nem deixa de chover. mas chove. aquela coisa miudinha... esta semana em que fui para a estação como sempre de bicicleta, decidi não vestir a capa de chuva e a conclusão a que cheguei foi que apesar de chover não fiquei molhada. o vento encarregou-se de ir secando o que a chuva molhou. daí que afinal a frase chove e não molha se aplicou perfeitamente. a meteorologia anuncia mais do mesmo. por aqui não se tem sentido grande coisa, mas já se sabe que "errare humanum est". e vou ficar por aqui porque já vi que hoje estou para os clichés que afinal até é uma coisa que não me agrada nada. fui.
23 janeiro, 2009
Num Corpo Só - Maria Rita (clica aqui)
Crepúsculo
É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.
(David Mourão Ferreira)
tudo o que a Pilar me ensinou
conheci a madrilena Pilar Puebla há cerca de 10 anos. passou uns dias em minha casa e depois levá-mo-la a conhecer o litoral alentejano. a miúda tinha pouco mais de 20 anos mas já era uma romancista excelente. li "abuelo el cielo es gris". como explica Isabel Allende quando se escreve um romance convém falar de uma realidade que conhecemos. a Pilar na viagem de comboio na linha de cascais não despegou os seus belos olhos verdes do rio. eu falava com ela e ela absorta na contemplação daquilo que para ela era mesmo o mar. vivendo em Madrid só nas férias ia à praia embora tivesse família em Barcelona. lembro-me muito dela. sei que se dedica a fazer dobragens de programas para a televisão espanhola. deixámos de nos escrever perdemo-nos ela mudou de endereço deixou a casa dos pais e partiu. deixou o curso que estava a fazer de educação de infância (foi por isso que tive a sorte de a conhecer) largou tudo e fez de tudo um pouco. que eu saiba não editou o romance que me deu a ler. e é pena. porque é um bom romance. porque é real. porque mostra a Pilar sensível que existe dentro da Pilar independente aventureira. hoje lembrei-me mais dela. é que a Pilar ensinou-me que a meteorologia é sempre acertada. basta saber aceitar os dias de sol e os dias de chuva. é assim como aceitar a vida digo eu. com saudades da Pilar que nos revisitou com uma bela garrafa de vinho tinto como oferta e agradecimento pela hospitalidade. eu nunca terei como agradecer tudo o que a Pilar me ensinou...
22 janeiro, 2009
Ali não havia
Ali não havia eletricidade.
Por isso foi à luz de uma vela mortiça
Que li, inserto na cama,
O que estava à mão para ler —
A Bíblia, em português (coisa curiosa), feita para protestantes.
E reli a "Primeira Epístola aos Coríntios".
Em torno de mim o sossego excessivo de noite de província
Fazia um grande barulho ao contrário,
Dava-me uma tendência do choro para a desolação.
A "Primeira Epístola aos Coríntios" ...
Relia-a à luz de uma vela subitamente antiqüíssima,
E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim...
Sou nada...
Sou uma ficção...
Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
"Se eu não tivesse a caridade."
E a soberana luz manda, e do alto dos séculos,
A grande mensagem com que a alma é livre...
"Se eu não tivesse a caridade..."
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade! ...
(Álvaro de Campos)
uma espécie de de desacordo ortográfico e umas coisitas mais
ora bem. sai-me na rifa um caluanda provocador mas um pouco ignorante dos dialectos da sua terra. eu bem sei que são muitos mano mas eu conheço Angola de uma ponta à outra. é por isso que sei coisas que os caluandas que não deixaram de ser "calcinhas" não sabem. usam apenas uma linguagem urbana rica sem dúvida e com palavras muitas vezes inventadas para enganar a policia. é claro que hoje a polícia as sabe todas e essas palavras já não enganam ninguém. mas antes de te explicar o que quer dizer pópia vou pedir-te que procures um cota um mais velho sabes... a ver se esse mais velho sabe tanto como eu. é que eu aprendi com o meu pai. e o meu pai ensinou-me tudo o que eu podia ter aprendido num jardim de infância. e é tudo o que precisamos de saber na vida. o que aprendemos no jardim de infância. quanto ao teu blogue sim gosto dele e não te surpreendas por eu não deixar comentários. é que eu sou assim uma espécie de bicho do mato e não é qualquer atrevidote que me põe a falar. e depois eu gostava de chegar ao teu blogue e VER o teu rosto e não essa espécie de disfarce com que apareces. como saber o que posso ler nos teus olhos se não os vejo... isto são coisas de uma mulher do mar que não se dá muito bem com as cidades. e há outra coisa que talvez possas resolver. é que o tempo de abertura da página é imenso. suponho que tenha a ver com o conteúdo. nem sempre se pode ter tudo mas devo confessar que vale a pena esperar um pouco mais para poder entrar em tua casa. os amigos que tenho "ganharam-me". tal como no Principezinho percebes? e quanto às ideias sim. tenho-as todos os dias várias vezes ao dia. é por isso que a maior parte das vezes quem escreve são os meus dedos. é que se eu me puser a pensar ponho a malta toda doida. a minha imaginação foi fertilizada pelas estórias terríveis que a minha avó materna me contava. eram tantas bruxas... é por isso que não acredito nos contos de fadas. aquele abraço querido caluanda. e olha para a margem direita do meu blogue a ver se descobres algo de novo.
21 janeiro, 2009
Às vezes
Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto?
Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
(Álvaro de Campos)
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto?
Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
(Álvaro de Campos)
dos caluandas e da voz da experiência
anda por aí um caluanda por isso tenham cuidado. é que os caluandas têm muita pópia. quem não sabe o que é paciência. linguagem de caluanda é para caluanda e não para tugas. mas a verdade é que este caluanda que passa pela minha vida passando por este espaço faz com que eu me sinta muito bem. eu sei exactamente quantas pessoas passam por aqui todos os dias. mas não sei exactamente quais se dão ao trabalho de ler alguma coisa ou parar um pouco a desfrutar de uma música que nem sempre tem um grande som ou uma grande imagem mas pretende passar um pouco de mim. do meu estado de espírito. da minha ternura ou da minha raiva... porque a música faz parte das nossas vidas. quem não se lembra de uma música em que começou a namorar alguém? quem não se lembra da música que tocava quando trocou o primeiro beijo? a menos que nem o tal namorado nem o beijo tenham tido qualquer significado na nossa vida o que também é bastante frequente. falo por mim. conheço alguém com muita experiência de vida que costuma dizer que só há um amor na vida. porque do primeiro pensamos sempre ser o último e do último julgamos sempre que é o primeiro. não sei porque misturo as coisas. a culpa é dos dedos. mas a voz da experiência não é para ser esquecida.
20 janeiro, 2009
Quatro quadras soltas - Sérgio Godinho (clica aqui)
Breve o dia
vale tudo. até tirar olhos!
cheguei a casa e liguei a televisão na esperança de ver um pouco do que se passou hoje nos states. afinal de contas hoje é um dia histórico não só para os americanos mas para o mundo. espero que a chanceler alemã não tenha razão. isto é espero que tenha sido eleito um presidente preto e não um presidente de cor. é que como todos sabem eu não gosto de gente de cor e tenho esperança que este Hussein seja um preto brilhante e não um homem de cor. mas hoje toda a gente vai falar disto e eu quero desabafar. é que há cerca de 2 meses fui contactada telefonicamente pela AIG (companhia de seguros americana) dizendo-me que por ser cliente da Sofinloc (instituição de crédito que me financiou o último automóvel) tinha direito a dois meses de seguro de saúde grátis e que entretanto receberia em casa os papéis para ler e assinar se estivesse interessada em continuar a beneficiar do dito seguro pagando acho que € 15,00 por mês. e digo acho porque a malandrice é tanta que as pessoas do lado de lá falam com uma rapidez impressionante e tive que interromper várias vezes a senhora para lhe lembrar que não estava a concordar com nada daquilo e que leria os tais papéis quando os recebesse e entretanto decidiria... o tempo foi passando e dos papéis nem rastro. descobri através do netbanco que tinha agendada uma transferência bancária que desconhecia e por isso mesmo cancelei-a... bendito netbanco! hoje quando abro o correio vejo uma carta da Sofinloc. pensei para mim é desta que vou sentir a baixa dos juros... pobre crédula! a carta referia que tendo eu aceite o dito seguro o mesmo passaria a ser debitado por transferência bancária a partir de 01 de Fevereiro. liguei imediatamente para o número indicado e falei com um rapaz que me garantiu que provavelmente eu não tinha recebido os papéis por falha dos CTT. perguntei então como é que se não tinham nada assinado me tinham atribuído um número de apólice e ele respondeu que as chamadas eram gravadas e por isso a minha anuência tinha feito com que me considerassem interessada. lembrei-lhe que durante a tal conversa eu tinha frisado diversas vezes que não me comprometia com nada daquilo pelo telefone. que teria que ler primeiro o contrato... pediu desculpas que tinha sido um lapso e que estivesse descansada que o seguro está cancelado a partir de hoje mas que se até ao dia 31 deste mês eu sofresse algum acidente e tivesse que ser internada estava segura. respondi lagarto lagarto lagarto e cruzes canhoto. o tipo do lado de lá riu e pediu desculpa mais uma vez. o que eu pergunto é como é possível alguém mexer no nosso dinheiro sem que tenha sido previamente autorizado. não há dúvida que estamos já no país do vale tudo. até tirar olhos!
19 janeiro, 2009
All at Once - Jack Johnson (clica aqui)
Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
(Eugénio de Andrade)
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
(Eugénio de Andrade)
como sempre estás comigo
pois é amiga. já passaram 3 anos sobre a tua morte e continuas sempre presente. a vida é apenas uma soma de dias uns melhores que outros. todos temos o direito de parar a contagem. ou fazer os possíveis para que a contagem pare o mais depressa possível. é claro que até se pode pensar que foi uma atitude egoísta. mas será que quem te acusa disso se lembra que levaste a vida inteira a dar? que ensinaste tudo o que sabias sem pedir nada em troca. que quando precisavas do apoio de alguém vinhas pé ante pé sem saber o que fazer à timidez corando por tudo e por nada quando eu brincava com essa maneira de ser que nunca mudou enquanto te conheci. eu lembro sobretudo o momento em que me agarraste pelo braço e pediste fica comigo. esse medo de ficar só. querias morrer mas tinhas medo. julgo que no fundo será assim para todos nós. por isso são tão felizes os que morrem de repente sem que ninguém o espere. mas tu... tu podias ter vivido muito mais do que os 50 anos que viveste. tu podias. mas não quiseste. estavas farta de medicamentos de médicos e a perspectiva de uma nova cirurgia apavorava-te. estou aqui e embora não pareça estou do teu lado. apoiaria qualquer escolha que fizesses. a minha amizade por ti sempre foi incondicional. e tu sabias. por isso o disseste tantas vezes à filha de Pepe. hoje apeteceu-me escrever-te. não no dia do aniversário da tua morte que foi há dias mas no dia do aniversário da morte da Elis Regina, do nascimento de Martin Luther King e na véspera do dia de tomada de posse do primeiro presidente preto dos USA. vá lá não cores. tu sabes que o termo preto não é depreciativo. é a constatação de um facto. e também sabes que eu não gosto mesmo é de gente de cor duvidosa. por isso amanhã já sabes. vai até à casa branca por mim e sopra uns conselhos sábios como aqueles que tantas vezes me deste ao novo homem da casa branca.
18 janeiro, 2009
Autumn Leaves - Diana Krall (clica aqui)
Começa a haver
Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...
Vai tudo dormir...
Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! —
Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...
Vai tudo dormir...
Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.
(Álvaro de Campos)
aproveita o dia
dia de inverno mesmo. ainda não percebi muito bem se chove ou é apenas a humidade do nevoeiro que molha a rua. é que não saí de casa. aproveito estes dias mais feios para adiantar coisas que são chatas de fazer e levam tempo. assim durmo mais um pouco e depois deito-me ao trabalho. e também decidi escrever já porque logo tenho outras coisas combinadas e assim já que aqui estou aproveito e faço tudo de uma só vez. o que mais me custa em Portugal é o clima. não fui feita para o inverno. detesto o frio. o sol faz-me falta mas não me importo tanto com a chuva. afinal fui habituada com as tempestades tropicais que nada têm a ver com estes dias de chuva seguidinhos a maioria das vezes uma chuva que nem chega a ser chuva de verdade. mais parece cacimbo. uma chatice que me incomoda e me tira a vontade de sair de casa. se é um dia de domingo pois é certo que aproveito o tempo. aproveito sempre. o meu lema é aproveita o dia. portanto mesmo não gostando dos dias de inverno como hoje é o que faço. aproveito o dia.
17 janeiro, 2009
Mel - Caetano Veloso (clica aqui)
Noite
Noites africanas langorosas,
esbatidas em luares...,
perdidas em mistérios...
Há cantos de tunguru luas pelos ares!...
Noites africanas endoidadas,
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros...
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros...
Noites africanas tenebrosas...,
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das historias de feiticeiros
que as amas-secas pretas,
contavam aos meninos brancos...
E os meninos brancos cresceram,
e esqueceram
as histórias...
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das historias de feiticeiros
que as amas-secas pretas,
contavam aos meninos brancos...
E os meninos brancos cresceram,
e esqueceram
as histórias...
Por isso as noites são tristes...
endoidadas, tenebrosas langorosas,
mas tristes...
como o rosto gretado,
e sulcado de rugas, das velhas pretas...,
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terras enormes
mas desabitadas...
endoidadas, tenebrosas langorosas,
mas tristes...
como o rosto gretado,
e sulcado de rugas, das velhas pretas...,
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terras enormes
mas desabitadas...
É que os meninos brancos...
esqueceram as histórias,
com que as amas-secas pretas
os adormeciam,
nas longas noites africanas...
esqueceram as histórias,
com que as amas-secas pretas
os adormeciam,
nas longas noites africanas...
Os meninos brancos... esqueceram!...
(Alda Lara)
o dia ficou muito mais bonito
quando eu era criança e o meu pai estava em casa (o que só acontecia durante cerca de metade do ano por força da sua profissão) costumava ficar ao colo dele à noite na varanda da casa gozando o calor das noites angolanas e o resto da família (mãe manos e tia ou avó) enquanto me fazia cafuné. quando eu começava a ficar com sono punha-me a coçar a cabeça e o meu pai mandava-me então para a cama. como eu queria continuar a gozar daquele bem estar que tinha durante tão pouco tempo respondia que não tinha sono mas caspa. a resposta ficou de tal maneira presente que até ao fim dos seus dias sempre que me via coçar a cabeça perguntava-me se eu estava com caspa. é que ainda hoje faço o mesmo quando estou com sono. e foi assim que ontem publiquei o comentário do Filipe. a caminho da cama passei para desligar o PC e vi a mensagem e publiquei. depois desliguei e deitei-me adormecendo como é meu costume logo de seguida. de manhã levantei-me e fiz o que o Filipe me disse e que de resto já me tinha prometido a mim mesma uma vez que por motivos vários já não ia caminhar para o paredão desde o dia de natal. e tudo aquilo me faz bem. as mudanças que observo todos os dias. hoje por exemplo enquanto a maré subia as gaivotas mostravam-se extremamente irrequietas sem porém "gritarem". mas levantavam voo com frequência. pouco habitual nelas quando a maré está baixa e como observa o Tim e muito bem é a sua hora. pois bem. tomei o meu pequeno almoço arranjei-me peguei na na câmara e lá fui fazer aqueles "petits cinq kilométres" como gosto de lhes chamar. e fico refeita de uma semana de trabalho duro e o cansaço sai pelos poros e as boas notícias vão chegando e o dia fica muito mais bonito.
16 janeiro, 2009
Águas de Março - Tom Jobim & Elis Regina (clica aqui)
III
não sei dizer este azul que encaminha
os céus...
sei respirá-lo intenso
na vibração densa, descompassada
dos olhos que se entornam nele...
não sei morrer noutra cor.
antes esta tonalidade
assim-breve
assim-escorregadia
desintegrando a noite
reinventando o dia.
e eu...
eu não sei escrever este azul
que dá luz á manhã...
os céus...
sei respirá-lo intenso
na vibração densa, descompassada
dos olhos que se entornam nele...
não sei morrer noutra cor.
antes esta tonalidade
assim-breve
assim-escorregadia
desintegrando a noite
reinventando o dia.
e eu...
eu não sei escrever este azul
que dá luz á manhã...
(Ondjaki)
preciso dedicar-me ao budismo
todos somos diferentes e geralmente atraídos por pessoas que são o nosso oposto. foi isso que aconteceu há uns anos quando foi trabalhar comigo uma mulher da minha idade e que aparenta sempre uma serenidade fantástica. encarregue de a ensinar só a via sair do sério frente ao computador. ela realmente não suportava aquele bicho que não lhe obedecia... e quando me pedia ajuda dizia que não percebia porque é que ele me obedecia a mim. mas rapidamente porque é muito inteligente o PC se tornou numa ferramenta de trabalho sem qualquer mistério para ela. eu ria de todas as vezes que a via zangada com ele. outra característica que nos distinguia era a arrumação. eu sou uma pessoa organizada o que não significa que seja sempre arrumada. quer dizer: eu não arrumo nada. organizo. por isso para terceiros pode parecer que as minhas coisas estão desarrumadas mas a verdade é que eu sei sempre onde está cada coisa. esta minha amiga costumava arrumar a minha secretária depois de eu sair. e quando eu entrava de manhã cedo a sorte dela era chegar mais tarde porque eu ficava furiosa por não encontrar nada do que queria. quando ela entrava vinha com o seu ar de felicidade tranquila e dizia-me então hoje tinha tudo arrumadinho... e eu agradecia como se ela tivesse feito algo que me tivesse facilitado a vida. foi assim que comecei a arrumar as coisas fora do alcance da sua vista para não ter que encontrar tudo arrumadinho mas fora do lugar que eu destinara... a vida profissional separou-nos mas continuámos muito amigas. a empatia nunca terminou e de há uns meses para cá desde que voltou a trabalhar em Lisboa almoçamos juntas uma vez por mês. é preciso marcar o dia em que nos vamos encontrar no mês seguinte porque se assim não for ela não aparece. mas como tem o hábito de cumprir todos os compromissos se o dia estiver agendado ela não falha. como não falhou hoje. gostava de reagir com a tranquilidade dela a todas as tormentas. mas tenho mau feitio sou explosiva e tanto me emociono até às lágrimas como me apetece bater em toda a gente... a minha consolação é que saber que no fundo sou boa pessoa... apenas demasiado emotiva. preciso de me dedicar ao budismo. é o que eu acho.
15 janeiro, 2009
Danca Ma Mi Criola -Tito Paris (clica aqui)
Desejos
Queria ser um poema lindo
cheirando a terra
com sabor a cana
Queria ver morrer assassinado
um tempo de luto
de homens indignos
Queria desabrochar
— flor rubra —
do chão fecundado da terra
ver raiar a aurora transparente
se r´bera d´julion
em tempo de são João
nos anos de fartura d´espiga d´midje
riso
flor
fragrante
em cânticos na manhã renovada
cheirando a terra
com sabor a cana
Queria ver morrer assassinado
um tempo de luto
de homens indignos
Queria desabrochar
— flor rubra —
do chão fecundado da terra
ver raiar a aurora transparente
se r´bera d´julion
em tempo de são João
nos anos de fartura d´espiga d´midje
E ser
riso
flor
fragrante
em cânticos na manhã renovada
(Vera Duarte)
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