Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo
Um blog do dia a dia, com muitas estórias, alguma poesia, música, fotografia, crítica, comentários... para desabafar, porque sem um grito ninguém segura o rojão!
31 outubro, 2008
Como as fortalezas
A vida que hoje brota dos meus poros
não surge fertilizante e doce,
mas explode, por assim dizer,
vítima dos teus atos.
Sem esperanças estampadas
em cartazes de cinemas
ou convites de casamentos.
não surge fertilizante e doce,
mas explode, por assim dizer,
vítima dos teus atos.
Sem esperanças estampadas
em cartazes de cinemas
ou convites de casamentos.
Apenas com mágoa das verdades escondidas,
a desilusão do planeta,
a decepção dos fracos.
Apenas com o que restou dos nossos mares,
o sempre caminhar dos gigantes,
e a marca característica das fortalezas.
a desilusão do planeta,
a decepção dos fracos.
Apenas com o que restou dos nossos mares,
o sempre caminhar dos gigantes,
e a marca característica das fortalezas.
(Zaldo Rocha Filho)
obrigada pela tua amizade
ainda ontem de alguma maneira falei aqui de amizade. a amizade que se cria desde criança ou que se torna numa amizade forte com nós e não apenas laços sem que saibamos exactamente porquê. a vida não me tem corrido bem mas eu vou fingindo que sim assim como assim não vale a pena queixar-me que não ganho nada com isso e só serve para preocupar as pessoas que gostam de mim. esta treta toda só para contar que ontem quando ia desligar o PC e tinha uma mensagem de alguém que dizia "passei por aqui só para te deixar um beijinho". é da filha de uma amiga minha que é um pouco mais velha que os meus filhos e que mal conheço pessoalmente. encontrá-mo-nos 2 ou 3 vezes e mantemos contacto (mais ela do que eu) por email. acontece que a miúda telefonou à mãe a perguntar por mim se eu estava bem essas coisas que nos interessam quando gostamos realmente de alguém. a mãe disse-lhe que eu dizia sempre que estava tudo bem mas que olhar para mim é como olhar para água e sabia muito bem que eu não estou nada bem. então ela lembrou-se de enviar a mensagem para me animar. e animou. foi com lágrimas nos olhos que lhe respondi à mensagem. e cada vez mais me sinto ligada a esta miúda que mal conheço pessoalmente mas que é como se conhecesse desde que nasceu. obrigada minha querida Vanda Inglês.
30 outubro, 2008
Ela Desatinou - Chico Buarque (clica aqui)
Busquei
acabemos com os guarda chuvas caramba
não é a chuva que me irrita. juro que não. eu até acho alguma piada à chuva. não fosse o facto de toda a gente desatar a abrir guarda-chuvas e os dias chuvosos seriam muito mais agradáveis. basta pensar no chão das estações de metro todos molhados. claro que não chove (a maioria das vezes) dentro das estações de metro. no entanto o chão está tão molhado como na rua. graças a quê? aos guarda chuvas. hei-de pesquisar quem foi o idiota que inventou o guarda chuva. se ainda fosse vivo punha-lhe um processo em tribunal por ter inventado uma coisa que para além de escorrer água para as pernas de toda a gente em redor ainda pode servir de arma. pensando bem podem até cometer-se verdadeiros ataques terroristas com um simples guarda chuva. isto para não falar daqueles que são vendidos nas chamadas lojas dos trezentos e que se quedam partidos pelas ruas dando à cidade o ar mais infeliz e miserável deste mundo. há anos que me queixo do mesmo. mas ninguém me liga. que sim que tenho razão que também não gostam mas que se há-de fazer... façam como eu. não usem. não comprem guarda chuvas seja nas lojas de marca seja nas dos trezentos. arranjem-se empregos mais engraçados para os trabalhadores que confeccionam guarda chuvas. haja um inventor engenhocas que se lembre de algo mais apetecível e menos incomodativo para aqueles que não gostam de se molhar. eu cá por mim até gosto. de vez em quando.
29 outubro, 2008
Gracias a la Vida - Violeta Parra (clica aqui)
Thiago y Santiago
Thiago, a Santiago, como un vago mago,
has encantado en canto y poesía.
Sin San, has hecho de Santiago, Thiago,
un volantin de tu pajarería.
Al Este y al Oeste de Santiago
diste el Norte y el sur de tu alegría.
Muchos dones nos diste, un solo estrago:
llevaste el corazón de Anamaría.
Te perdonamos porque com tu bella,
de rosa en rosa y de estrella en estrella,
te llamará el Brasil a su desfile.
Te irás, hermano, com la que elegistes.
Tendrás razón, pero estaremos tristes,
que hará Santiago sin Thiago de Chile.
(Pablo Neruda)
não me pressionem
hoje apetecia-me falar de amizade. da amizade que é uma coisa tão rara e tão preciosa e que muitas vezes trocamos por possíveis amores acabando por perder o amigo e percebendo que o amor nunca existiu. descobri isto tarde demais mas ficou-me de lição. e se escrevo isto hoje aqui se me confesso é porque sei que muita gente jovem passa por este blogue com alguma frequência e convém que acreditem aqui na cota que muita gente pensa que é uma jovem que nem faz anos. uma maneira como outra qualquer de justificar um esquecimento. essa é outra parte interessante das amizades. hoje sei que há pessoas incapazes de recordarem datas. tenho uma amiga que esqueceu mesmo o aniversário do filho e nem o facto de o ver a fazer um bolo de aniversário para partilhar com os colegas a fez lembrar de tal facto. só se lembrou ao fim do dia e foi preciso que o tema fosse introduzido na conversa. é claro que ela não ama menos o filho por não se lembrar do seu aniversário. mas se calhar ele ficou chateado. eu fico. não gosto de celebrar os meus aniversários mas gosto que os amigos de quem nunca me esqueço (às vezes esqueço mas é de propósito assim uma espécie de revanche) se lembrem que eu faço anos que estou mais velha mais experiente e mais selectiva do que nunca. eu vinha falar de amizade não é? tal como um personagem de um filme diria não me pressionem que eu estive um ano no Afeganistão.
28 outubro, 2008
Fim do Dia - Mafalda Veiga (clica aqui)
Soneto do amor extinto
Pior do que lembrar um bom passado
perdido embora, porém bem vivido,
é pensar tão-somente o quanto agora
a vida já perdeu todo sentido.
Pior que o sonho antigo e lisonjeiro
é o medo do presente assim vazio
daquela boa saudade agora ausente
e do desejo que míngua a cada dia.
É tão difícil falar do que não fala
e emudeceu por trás da própria vida
toda feita penumbra do que cala
sem revolver feridas já fechadas
sem reabrir as velhas cicatrizes
que no lugar de sangue vertem nada.
(Adeliade Amorim)
só um conselho José
um dia destes numa das minhas caminhadas à beira mar que foi mais um passeio que uma caminhada porque era sobretudo para relaxar e me libertar do stress de uma semana de 45 horas lembrei-me do termo trabalhólogo usado por um amigo que há pouco reencontrei no Alentejo mais propriamente na vila morena que é a sua terra de origem embora não nos tenhamos conhecido aí mas bem mais para o litoral alentejano onde trabalha e reside. começámos exactamente por falar de trabalho porque chegámos bem depressa à conclusão de ambos éramos viciados em trabalho. ele disse então somos trabalhólogos. durante algum tempo não deixei de usar o termo que achei muito bem apanhado mas depois caiu no esquecimento provavelmente numa daquelas viagens em que fazemos de férias e em que somos capazes de esquecer tudo o que ficou no nosso país incluindo o trabalho porque afinal nem tenho com quem falar em português nessas viagens o que é realmente muito bom. mas um destes dias passeando junto ao mar e pensando na dura de semana de trabalho passada o termo voltou à minha mente. crescendo e aprendendo. para novo ninguém vai e a verdade é que quando ouço falar no aumento do horário laboral me ponho a pensar que é absolutamente inútil. todos temos os nossos limites e depois de um certo número de horas de trabalho deixa de ser possível produzir da mesma maneira. ouvi agora falar de uma mulher que trabalha 16 horas por dia. se calhar eu até trabalho mais entre o emprego e a casa. mas tenho a certeza que se trabalhasse no emprego 16 horas diárias a minha produtividade descia imediatamente. por isso José só te dou um conselho. sensibilidade e bom senso. como o nome do filme.
27 outubro, 2008
Frágil - Jorge Palma (clica aqui)
Cadentes de nós
Sumidas as cadentes
se nossos dentes nunca mais.
No denominador
denominado amor
fujo da situação
em caminhos de Marias e Joãos
perto de onde o sol nascer.
Em brindes sem querer
sequer dentro de mim
ser sim
ser não
na contramão seguir viagem.
Parte do que sou agora
metade do que sou depois
misturam-se feijão e arroz
à caminhada.
Ser no fundo o útero da dor
como flagelo e medo.
Impaciente lunna bella
Como formar roupa e chinela de algodão
sucateando beijos e carinhos
trotes e abraços
desejos e fracassos
passos fortes
ao Norte
ao Sul.
(Alana Alencar)
que sejas feliz para sempre
o que eu tinha para te dizer ontem posso dizer hoje. o que eu tenho para te dizer hoje é que tenho muitas saudades tuas. como tenho de outros amigos que estou muito tempo sem ver. a diferença é que a ti não voltarei a ver. e sabes uma coisa que eu estranho? nunca me aconteceu neste tempo todo olhar para alguma mulher e parecer que te estava a ver a ti como acontece tantas vezes`com pessoas que amámos muito e perdemos. ponho-me a pensar nisto e penso que acontece porque tu eras tão única tão fora do vulgar tudo em ti era diferente mesmo o sorriso bonito mas triste se te olhava para os olhos não estavas a sorrir mas a chorar. nunca comentei isto com ninguém. como nunca comentei das vezes em que não me deixavas sair da tua sala. pegavas numa das minhas mãos entre as tuas e era como se me estivesses a dizer não me abandones no meio destes lunáticos. e eu ficava feliz por saber que tu eras das poucas pessoas que não criticava a minha formas de vida. e das das poucas que percebia que eu gostasse de estar a sós comigo mesma. porque era o que tu querias. mas nunca te deixaram. e tu sempre foste demasiado doce para impores a tua vontade. tenho saudades tuas. é isto que eu preciso dizer. sei que falas com a filha de Pepe. possas um dia aparecer-me num sonho daqueles que nos marcam como se de realidade se tratasse. só espero que estejas feliz onde quer que estejas. que sejas agora feliz. para sempre.
26 outubro, 2008
Namoro - Fausto (clica aqui)
Voluntários da Pátria
levantada a interdição estou de volta
estive assente deste espaço não por vontade própria mas por imperativos policiais. passo a explicar. ontem quando cheguei a casa pela hora do almoço despejei as compras na cozinha arrumei o que tinha que arrumar no frigorífico tratei de adiantar o almoço e quando entrei no meu quarto para mudar de roupa deparei-me com um cenário extraordinário. a roupa tinha sido tirada das cómodas os livros das estantes o guarda roupa tinha sido todo remexido e até o meu saco de praia estava despejado no meio do chão. dirijo-me a outro quarto e cenário idêntico. saí e entrei no quarto três vezes até perceber que tinham levado o cofre que estava aparafusado à parede dentro de uma guarda roupa de parede. o resto do cenário era idêntico pela casa toda excepto a sala a cozinha e quarto de banho. telefonei ao 112 que me deu o número de telefone da esquadra de polícia da minha área. para lá liguei e 15 minutos depois tinha um casal de agentes em casa. dei as informações que me pediram e a outras que se calhar nem são relevantes mas mais vale dizer demais que de menos nestas coisas não é? daí a pouco tinha casa invadida por agentes à paisana que me fizeram várias perguntas a que respondi conforme pude. disseram-me então que os agentes que viriam tratar das digitais só viram hoje e que até lá era preciso tocar o menos possível no que quer que fosse. resumindo e concluindo. para além de me estragarem várias facas de cozinha e um sabre que trouxe de uma viagem a Marrocos e levarem o cofre da parede e o que continha levaram 20 euros que estavam por aqui e um telemóvel velho que penso que já nem funcionava. se conseguirem abrir o cofre terão alguma coisa que valha a pena é verdade mas o trabalho que tiveram para fazer o trabalho não sei se compensa. hoje os agentes que vieram explicaram-me que se trata de grupos de indivíduos que tocam às campainhas dos prédios até conseguirem que alguém lhes abra a porta e depois vão experimentando porta à porta tocando primeiro a campainha. se ninguém responde metem um cartão multibanco e se a porta estiver apenas no trinco como por uma série de coincidências infelizes estava a minha ontem entram e rapidamente levam ouro e dinheiro. de facto deixaram tudo o resto e só uma das peças que tenho em casa vale 1000 vezes mais do que o que continha o cofre. e até era mais fácil de transportar. felizmente hoje até os ladrões são ignorantes. já não há peritos em coisa nenhuma... e pronto. tive sorte que afinal nem toda a polícia se encontra atenta a quem pisa a faixa amarela do metropolitano. vão-se os anéis ficam os dedos. e o pc e tudo o resto. paciência. este ano tem-me acontecido de tudo um pouco. daqui ao fim do ano a ver o que falta acontecer. haja paciência e boa disposição. pelo menos neste momento já me posso mover pela casa toda e já tenho tudo limpo.
24 outubro, 2008
Sexto Andar - Clã (clica aqui)
Aos que se foram
Não sei dos homens que ficaram
E guardam seus segredos
No fundo dos olhos banhados de medo
a ruminar a verde folhagem da esperança
a embalar a coragem que ainda não nasceu.
E guardam seus segredos
No fundo dos olhos banhados de medo
a ruminar a verde folhagem da esperança
a embalar a coragem que ainda não nasceu.
Sei dos homens que se foram
E se perderam
Com seu medo
Desejos e sonhos secretos.
E se perderam
Com seu medo
Desejos e sonhos secretos.
Desconheço todos os homens de fé
E todas as formas de felicidade
Que espalham-se em inumeráveis cartazes
a sujar com seu estrume todas as faces da cidade
a subjugar os miseráveis com sua faca de dois gumes.
E todas as formas de felicidade
Que espalham-se em inumeráveis cartazes
a sujar com seu estrume todas as faces da cidade
a subjugar os miseráveis com sua faca de dois gumes.
Não sei dos homens que ficaram
A tramar o futuro.
Sei dos homens que se rebelaram
E voaram ara desencontrá-lo.
A tramar o futuro.
Sei dos homens que se rebelaram
E voaram ara desencontrá-lo.
(Nelson Nunes)
a mulher da burka
durante toda a semana ao fim do dia fiz de conta que estava em Londres e em vez de apanhar apenas uma linha de metro do emprego para casa (duas no máximo) decidi utilizar três uma vez que apesar do desconforto ganho algum tempo e para quem está tantas horas fora de casa este é um dado muito importante. e foi assim que apanhei há uns dias um tipo na estação do metro na linha azul para me dizer que não pisasse o traço amarelo ou a policia judiciária havia de me passar uma multa ou até prender... fiquei a perceber porque é que a polícia judiciária tem tantos casos por resolver... hoje entro na estação da baixa chiado em direcção ao cais do sodré e não sei bem dizer se apanhei um susto ou se foi apenas espanto: agarrada ao varão estava uma mulher de burka negra. coloquei-me atrás dela e observei que o vestido era bordado a lantejoulas negas e tentei perceber como a burka era realmente feita. depois olhei para as mãos dela tentando perceber que idade teria. eram mãos mal cuidadas de mulher que trabalha no duro e percebi que não devia pertencer a nenhuma importante família muçulmana. até porque transportava um daqueles sacos pretos que vejo constantemente pessoas usarem quando entram ou saem no metro no martim moniz suponho que indo ou vindo do centro comercial situado na estação e frequentado em grande parte por muçulmanos. ao sair pus-me ao lado dela e notei que ela era muito mais baixa que eu. olhei para os seus olhos. eram negros e inexpressivos. fiquei a pensar se ela usa burka em Portugal porque quer ou porque a família o exige.
23 outubro, 2008
À Espera do fim - Jorge Palma (clica aqui)
Sereia
Reparem nesse bronze, veia a veia,
Cornucópia de seios e de escama,
Obra de um japonês, em que o Fusi-Iama
Adora o mar em enluarada areia.
Canta, e essa harmonia nos golpeia.
É duma triste e solitária gama,
Porém aumenta desse bronze a fama
O olhar amortecido da sereia.
Penso que sonha o pólo e o nevoeiro,
E a pálida talhada de um crescente
Num céu de véus de noiva e jasmineiro.
E, como búzio a referver, ressoa
Numa langue preguiça de serpente,
Num êxtase nostálgico de leoa.
(Óscar Rosas)
o José também
um chinês defensor dos direitos do homem foi distinguido com o prémio Sakarov. a China condenou-o a 3 anos de cadeia e considera o prémio uma ingerência nos assuntos internos do país. A China organizou muito provavelmente os mais grandiosos jogos olímpicos de sempre mas continua a bater recordes de violação dos direitos do homem. E enquanto governantes como a chanceler alemã recebe o Dalai Lama personna non grata na China como todos sabemos o José faz de conta que o homem não existe. Não sei se é porque teme a partida em massa dos chineses e das suas lojas que vieram dar cabo das tradicionais lojas portuguesas oferecendo primeiro mau e barato e agora pior e caro. Não percebo muito bem porque é que o José tem tanto medo dos chineses. Como não percebo porque continua este país a agacahar-se a tudo e a todos como se lá por ser pequeno não tivesse personalidade. É verdade que tudo isto tem contribuído para a perda de personalidade e não só de Portugal. Mas afinal quem sou eu para dar lições ao José que nem sequer as aceita dos seus ex-colegas do parlamento. nem sequer de alguns do seu próprio grupo parlamentar com muito mais saber e experiência que ele como Manuel Alegre. a China deixa-me com os cabelos em pé. o José também.
22 outubro, 2008
Azul - João Afonso (clica aqui)
Uma amiga
Aqueles que eu amei, nao sei que vento
Os dispersou no mundo, que os nao vejo...
Estendo os bracos e nas trevas beijo
Visoes que a noite evoca o sentimento...
Os dispersou no mundo, que os nao vejo...
Estendo os bracos e nas trevas beijo
Visoes que a noite evoca o sentimento...
Outros me causam mais cruel tormento
Que a saudade dos mortos... que eu invejo...
Passam por mim... mas como que tem pejo
Da minha soledade e abatimento!
Que a saudade dos mortos... que eu invejo...
Passam por mim... mas como que tem pejo
Da minha soledade e abatimento!
Daquela primavera venturosa
Nao resta uma flor so, uma so rosa...
Tudo o vento varreu, queimou o gelo!
Nao resta uma flor so, uma so rosa...
Tudo o vento varreu, queimou o gelo!
Tu só foste fiel - tu, como dantes,
Inda volves teus olhos radiantes...
Para ver o meu mal... e escarnecê-lo!
Inda volves teus olhos radiantes...
Para ver o meu mal... e escarnecê-lo!
(Antero de Quental)
mais uma vez sobre a falta de vírgulas... ou será sobre cegonhas?
ouço falar do orçamento geral do estado e não percebo nada. de nada. só fiquei a perceber que afinal o meu patrão é o senhor Francisco Van Zeller. o preço dos combustíveis vai baixando menos que o do barril de petróleo e isto acontece sempre dois dias depois de eu ter enchido o depósito. é a minha capacidade divinatória com toda a certeza a funcionar. saio de casa de noite e entro em casa à noite. o cansaço vence-me e em que penso eu quando venho de olhos fechados a ouvir música no comboio? nas vírgulas. pois claro agora não vejo as gaivotas. está demasiado escuro e tenho andado pelo interior onde de vez em quando vejo umas cegonhas. mas gaivotas não. acho que é por isso que penso nas vírgulas que me atrofiam como se se tratasse de um soutien. apertam-me incomodam-me. decididamente já que no emprego tenho que continuar a usar cada vírgula no seu devido lugar aqui só as usarei quando deixar de sentir que me incomodam... um dia alguém perguntou aqui porque é que eu escrevia todas as palavras que se devem escrever com maiúsculas excepto a palavra deus. respondi que não acredito no deus que por aí se apregoa. para mim é apenas um paganismo. deus é o homem enquanto todo. por isso antes que me perguntem porque não uso vírgulas vou já explicado que é porque elas me sufocam. como os soutiens.
21 outubro, 2008
Woman - John Lennon (clica aqui)
"Estão podres as palavras"
Estão podres as palavras - de passarem
por sórdidas mentiras de canalhas
que as usam ao revés como o carácter deles.
E podres de sonâmbulos os povos
ante a maldade à solta de que vivem
a paz quotidiana da injustiça.
Usá-las puras - como serão puras,
se caem no silêncio em que os mais puros
não sabem já onde a limpeza acaba
e a corrupção começa? Como serão puras
se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres: e com elas apodrece o mundo
e se dissolve em lama a criação do homem
que só persiste em todos livremente
onde as palavras fiquem como torres
erguidas sexo de homens entre o céu e a terra.
por sórdidas mentiras de canalhas
que as usam ao revés como o carácter deles.
E podres de sonâmbulos os povos
ante a maldade à solta de que vivem
a paz quotidiana da injustiça.
Usá-las puras - como serão puras,
se caem no silêncio em que os mais puros
não sabem já onde a limpeza acaba
e a corrupção começa? Como serão puras
se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres: e com elas apodrece o mundo
e se dissolve em lama a criação do homem
que só persiste em todos livremente
onde as palavras fiquem como torres
erguidas sexo de homens entre o céu e a terra.
(Jorge de Sena)
a falta que não me fazem as vírgulas
podia hoje falar por exemplo das obras públicas que parece que agora já ninguém quer excepto o José. podia falar dos crimes hediondos que ocorrem com crianças ou do caso Esmeralda Joana Maddie. podia voltar a falar aqui do Rui Pedro que não seria demais. podia até contar-vos que descobri há uns dias que o meu patrão se chama Francisco Van Zeller. mas hoje apetece-me falar das maiúsculas que não uso senão em alguns casos mas nunca após os pontos. hoje apetece-me falar explicar porque é que ultimamente deixei de usar maiúsculas e vírgulas como me ensinaram logo na escola primária. e olhem que eu não errava uma. só que assim de repente a maior parte das vezes sinto as vírgulas como uma prisão. como uma coisa que não me deixa andar aqui onde pretendo que haja espaço. não é que esteja a inovar alguma coisa. trata-se de uma necessidade quase fisiológica. ter espaço. para poder respirar andar e escrever. conforme me sai assim dos dedos.
20 outubro, 2008
O nosso amor a gente inventa - Cazuza (clica aqui)
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)
ser deus deve dar cá uma trabalheira!
o menino que queria ser deus é apenas um menino de 6 anos que entrou este ano para a escola e está aprendendo a juntar as letras. tal como previra o menino saberá ler quando os dentes lhe tiverem caído uma vez que o primeiro começou a abanar logo que ele começou a juntar letras. o menino que queria ser deus é um menino muito especial porque aos 6 anos todos os que o conhecem sabem que será actor como os pais. o menino que queria ser deus decora peças de teatro inteiras dos pais e depois de cada refeição oferece uma sessão de teatro aos presentes e é claro que exige que o aplaudam tal como no teatro. para o menino que queria ser deus a vida não será provavelmente muito fácil mas de certeza que seria muito mais difícil se ele tivesse conseguido tornar-se deus como queria antes de entrar na escola. amo muito o menino que queria ser deus e sinto-me também um pouco responsável por ele ter desistido da ideia embora o lado bom que ele argumentava fosse realmente muito apelativo: não crescer não namorar não casar não ter filhos e sobretudo não envelhecer e não morrer. mas o meu argumento não é menos importante: ser deus deve dar cá uma trabalheira!
19 outubro, 2008
Cada lugar teu - Mafalda Veiga (clica aqui)
Timidez
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
— mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
— palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
— que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
— e um dia me acabarei.
(Cecília Meireles)
às vezes até me esqueço que tenho saudades
cheguei há pouco da vila morena do Zeca onde almocei uma bela moamba feita pela Filomena mulher nascida e criada na Cela em Angola. uma moamba que até parecia que estávamos na terra com um belo pirão. pois é. na vila morena do Zeca que também gostava tanto de África. e quando a Filomena e o marido partiram de regresso para a Covilhã fomos dar uma volta a pé pela vila. não passava por lá há mais de 10 anos e confesso que sendo uma terra agradável perdeu muito do encanto típico de vila alentejana. casas com portadas e janelas debruada a azul quase não vi. construíram-se prédios embora de 3 andares e a a arquitectura está um pouco misturada mas enfim... é o sinal dos tempos. por muito que tenha saudades da velha Grândola sei que ela não volta. foi uma coisa que eu gostei de ver na nova aldeia da Luz foi o manter a tradição da aldeia com as suas casinhas brancas e debruadas a azul ou amarelo. mas às tantas não tarda nada está também descaracterizada. basta a invasão dos supermercados para destruir a paisagem. agora do que eu gostei mesmo foi de encontrar no meio da rua um amigo daqueles que fazemos nos pubs. há anos conheci-o num pub. conversámos os dois a noite toda e chegámos à conclusão que nenhum de nós acreditava no amor. o que para mim foi fantástico porque ainda não tinha encontrado ninguém que pensasse tal como eu que o amor foi criado como uma religião para ajudar as pessoas a suportar um dia a dia que de outra maneira seria insuportável. bebemos muito é verdade. falámos durante muitas horas até amanhecer. depois um dia fui a casa dele em Sines assistir (esqueci-me de dizer que este alentejano é músico e de muita qualidade) à gravação que ele tinha do concerto Graceland na África do Sul. estivemos à conversa mais umas horas desta vez sobre música. há cerca de um ano encontrei-o na festa de aniversário de um amigo comum. hoje soube que ele abriu em Sines o Musical Bar e estou inquieta para lá ir... porque gosto muito deste alentejano doce e calmo que toca como tenho visto poucos tocarem instrumentos de corda. e nem me tinha apercebido das saudades que tinha dele...
18 outubro, 2008
Aquele Abraço - Gilberto Gil (clica aqui)
A vida é esta
A vida abana, sacode
É um leque
A vida é esta
Queima, pica
É piri-[iri
Fogo a arder.
A vida é esta
Cifrão p'rá frente
Cifrão p'ra trás
Tudo a contar,
Descontar, conter.
A vida é esta
Um berlinde
Gira, rola,
Salta, desliza
Um ping-pong
Bate, resvala
A vida é esta.
Um elástico
Puxa, estica
Torce, dobra
A vida é esta.
Uma dança
Baila, rebola
Ginga, contorna
A vida é esta.
Um jogo
Disputa, goleia
Ganha, perde
A vida é esta.
Uma ferida
Amola, remói
Dói, dói, dói-dói...
E é assim a vida
Enfim, uma grande dor.
É um leque
A vida é esta
Queima, pica
É piri-[iri
Fogo a arder.
A vida é esta
Cifrão p'rá frente
Cifrão p'ra trás
Tudo a contar,
Descontar, conter.
A vida é esta
Um berlinde
Gira, rola,
Salta, desliza
Um ping-pong
Bate, resvala
A vida é esta.
Um elástico
Puxa, estica
Torce, dobra
A vida é esta.
Uma dança
Baila, rebola
Ginga, contorna
A vida é esta.
Um jogo
Disputa, goleia
Ganha, perde
A vida é esta.
Uma ferida
Amola, remói
Dói, dói, dói-dói...
E é assim a vida
Enfim, uma grande dor.
(José Armelim)
o verde fica sempre bem
pois cá estou eu de novo para as parvoeiras do costume. mas como só lê quem quer escusam de dizer mal. eu por exemplo não gosto dos programas da Teresa Guilherme e por isso não os vejo pura e simplesmente... afinal nem sei quantos canais de TV tenho ninguém me obriga a ver algo que me agonia só para dizer mal depois. prefiro não arriscar e ficar bem disposta. pois por aqui é a mesma coisa. quem não gostar tem milhares de outros blogues para ler. nem sei para que é que estou para aqui a desconversar. afinal até tenho que vos dizer que fui ontem assistir a "A Verdadeira Treta" e levei quase duas horas a rir. Zé Pedro Gomes faz um trabalho notável. António Feio mais apagado em termos de tempo de antena mas sempre engraçado. e por falar nisto sempre vos posso dizer como ele diria não vejo os programas da Teresa Guilherme mas são brutais. tenho a certeza.
hoje assisti ao espectáculo poderoso da natureza da tempestade que se abateu sobre Lisboa sobretudo na zona onde trabalho. o edifício onde trabalho meteu água literalmente as caves ficaram inundadas e a loja dos chineses deve ter tido um belo prejuízo porque eles estavam a tirar água da cave com mangueiras e ela saía com uma força como diria o Feio brutal. consegui chegar a casa sem ter um acidente e sem parar como vi muita gente. não encosto e pronto. o carro só pára quando tiver que para não é? pois se às vezes até onde devia não paro e passo semáforos verde tinto... desde que sejam verdes está sempre tudo bem.
16 outubro, 2008
Desafinado - Gal Costa (clica aqui)
Rui morto
Cerebração complexa e o primeiro
dos grandes homens nacionais em tudo.
Continente a viver do conteúdo
de si mesmo, na Pátria e no estrangeiro.
dos grandes homens nacionais em tudo.
Continente a viver do conteúdo
de si mesmo, na Pátria e no estrangeiro.
De virtudes, um másculo pioneiro;
da nossa Liberdade, eterno escudo;
deram-lhe tudo, menos sobretudo,
a direção do povo brasileiro!
da nossa Liberdade, eterno escudo;
deram-lhe tudo, menos sobretudo,
a direção do povo brasileiro!
Vivo, não fora a tanto necessário...
Morto, é tão grande, é tão extraordinário,
que encontra, em cada Estrela, um cemitério!
Morto, é tão grande, é tão extraordinário,
que encontra, em cada Estrela, um cemitério!
De onde passo a ilagir, um tanto aflito:
ou o Rui foi menos do que se tem dito,
ou este nosso Brasil é um caso sério...
ou o Rui foi menos do que se tem dito,
ou este nosso Brasil é um caso sério...
(Quintino Cunha)
Nota:
soneto feito de improviso,
numa mesa do bar Rotisserie,
em Fortaleza,
a pedido de Leonardo Mota,
quando da morte de Rui Barbosa.
soneto feito de improviso,
numa mesa do bar Rotisserie,
em Fortaleza,
a pedido de Leonardo Mota,
quando da morte de Rui Barbosa.
os Abreu que afinal são Silva
o rapaz ficou de tal maneira zangado que deixou a casa do pai e do avô e a própria terra. andou andou até que deixou mesmo o distrito. foi sempre andando ajudado pela caridade das pessoas que o acolhiam e lhe davam guarida e comida. o rapaz continuava tão zangado tão zangado que nem pensava nos bens da família e no que tinha para herdar. continuou a andar pelo país fora até que conheceu um homem de apelido Abreu que para além de lhe dar guarida e comida o acarinhou deu-lhe trabalho e às tantas tratava-o como se seu filho fosse. o rapaz ficou tão agradecido e começou a amar de tal maneira aquele homem que para ali vivia abandonado pelos sobrinhos e que a ele se apegara daquela maneira que decidiu mudar o apelido para Abreu. um dia o rapaz apaixonou-se por uma rapariga. com a aprovação do senhor Abreu combinou o casamento com o pai da moça e um belo dia casaram-se. o rapaz deu como apelido na conservatória o nome Abreu em homenagem ao homem que tão bem cuidava dele. e a partir daí a família Silva deixou de existir para aquele homem e seus descendentes. hoje todos se chamam Abreu. os bisnetos queixam-se que devido à "maluquice" do avô não herdam nem dos Silva nem dos Abreu. mas no fundo acham graça ao que o "velho" fez.
15 outubro, 2008
Eu te amo - Chico Buarque (clica aqui)
Meu canto Europa
Agora,
agora que todos os contatos estão feitos,
as linhas dos telefones sintonizadas,
os espaços de morses ensurdecidos,
os mares de barcos violados,
os lábios de risos esfrangalhados,
os filhos incógnitos germinados,
os frutos do solo encarcerados,
os músculos definhados
e o símbolo da escravidão determinado,
agora que todos os contatos estão feitos,
as linhas dos telefones sintonizadas,
os espaços de morses ensurdecidos,
os mares de barcos violados,
os lábios de risos esfrangalhados,
os filhos incógnitos germinados,
os frutos do solo encarcerados,
os músculos definhados
e o símbolo da escravidão determinado,
Agora,
agora que todos os contatos estão feitos,
com a coreografia do meu sangue coagulada,
o ritmo do meu tambor silencioso,
os fios do meu cabelo embranquecidos,
meu coito denunciado e o esperma esterilizado,
meus filhos de fome engravidados,
minha ânsia e meu querer amordaçados,
minhas estátuas de heróis dinamitadas,
meu grito de paz com chicotes abafado,
meus passos guiados como passos de besta,
e o raciocínio embotado e manietado,
agora que todos os contatos estão feitos,
com a coreografia do meu sangue coagulada,
o ritmo do meu tambor silencioso,
os fios do meu cabelo embranquecidos,
meu coito denunciado e o esperma esterilizado,
meus filhos de fome engravidados,
minha ânsia e meu querer amordaçados,
minhas estátuas de heróis dinamitadas,
meu grito de paz com chicotes abafado,
meus passos guiados como passos de besta,
e o raciocínio embotado e manietado,
Agora,
agora que me estampaste no
rosto
os primores da tua civilização,
eu te pergunto, Europa,
eu te pergunto:
AGORA?
agora que me estampaste no
rosto
os primores da tua civilização,
eu te pergunto, Europa,
eu te pergunto:
AGORA?
(Tomás Medeiros)
hoje estou no mundo real
a euforia durou dois dias. afinal o mundo está mais atento do que eu pensava. parece que já todos percebemos que há crise e que está instalada e que não é com paliativos que se resolve um problema deste tamanho. um problema que eu que não percebo nada de política mas gosto de mandar também as minhas bocas uma vez que há por aí uns tipos que são bem pagos e não acertam uma e falam todos os dias em todo o lado um problema que foi provocado pela economia mais liberal do planeta. o país do USA e deita fora. importámos como bons meninos todos os maus hábitos americanos e acho que nos esquecemos de importar os bons que agora assim de repente não me lembro de nenhum mas hão-de ter que ninguém é só defeitos nem só virtudes. pelo menos no mundo real. e hoje eu estou no mundo real o que nem sempre acontece. de vez em quando fujo para o país de Alice...
14 outubro, 2008
Mulher eu sei - Chico César e Ana Carolina (clica aqui)
No Outono
Escuta-me! Só sou, verdadeiramente, no Outono.
Só sou, verdadeiramente, quando as folhas
iniciam o processo de amarelecimento nas árvores.
Começo a ser com as primeiras nuances
a desprenderem-se, brandamente, dos ramos,
a balançarem, quase imperceptivelmente, no ar,
a pousarem, tímidas, a um canto da calçada.
Cresço no acumular de ousadias douradas pelo passeio.
Sou nas primeiras manhãs de céu encoberto,
as árvores despojando-se de véus esvoaçantes na aragem...
Esquece o Verão insensato em que não fui.
Procura-me no Outono.
Só sou, verdadeiramente, quando as folhas
iniciam o processo de amarelecimento nas árvores.
Começo a ser com as primeiras nuances
a desprenderem-se, brandamente, dos ramos,
a balançarem, quase imperceptivelmente, no ar,
a pousarem, tímidas, a um canto da calçada.
Cresço no acumular de ousadias douradas pelo passeio.
Sou nas primeiras manhãs de céu encoberto,
as árvores despojando-se de véus esvoaçantes na aragem...
Esquece o Verão insensato em que não fui.
Procura-me no Outono.
(Ilona Bastos)
como nos filmes a preto e branco
sinto-me tão triste tão desalentada com tão pouca vontade de viver que me sento num banco da estação do metro e fico a ver os comboios a passar. nos intervalos olho para a plataforma onde sai e entra gente dos comboios. outros como eu esperam. mas entram no próximo comboio. e eu fico ali a olhar como se estivesse a realizar e actuar ao mesmo tempo num filme a preto e branco. penso que devia chorar que me fazia bem talvez conseguisse apanhar o próximo comboio. tempos houve em que não chorava em público. para que ninguém percebesse que eu era tão cheia de fraquezas como qualquer ser humano. tempos houve em que não mostrava as minhas fraquezas a quem quer que fosse. chegava a casa e em frente do espelho chorava. julgo que no fundo precisava que alguém me visse chorar. à falta de melhor assistência fazia-o para mim mesma e era como se a pessoa do outro lado do espelho não fosse eu como se fosse alguém que não tinha nada a ver comigo. mas hoje não tenho lágrimas para chorar. continuo sentada na mesma posição. de repente reparo num homem do outro lado da plataforma. é um funcionário do metro sei porque está fardado. tem entre 30 e 40 anos e é um tipo alto e bem parecido. parece procurar alguma coisa nas linhas do metro e penso que talvez seja um rato que às vezes vejo por ali. depois reparo que ele vai andando de um lado para o outro e olha-me com aquele ar de "flirt" que`há muito tempo não vejo senão nos filmes antigos. nos filmes a preto e branco. primeiro respondo com o meu ao olhar dele. ele sorri e eu disfarço o meu sorriso. mas de repente perdi a vontade de chorar. e entro no próximo comboio.
13 outubro, 2008
A Fisga - Cabeças No Ar (clica aqui)
O poema
a Mário Quintana
a Manuel Bandeira
a Fernando Pessoa
a Manuel Bandeira
a Fernando Pessoa
Quem és tu?
_ Eu?, sou a ânsia de saber quem sou;
o esgar de minha boca
não é meu.
Herdei não sei bem de quem.
_ Eu?, sou a ânsia de saber quem sou;
o esgar de minha boca
não é meu.
Herdei não sei bem de quem.
_ Eu?, vim com a chuva de Stroncio,
sou a Rosa de Hiroshima,
vermelha e fatal.
sou a Rosa de Hiroshima,
vermelha e fatal.
Quem és tu, afinal?
_ Eu?, não tenho face,
uso essa estranha máscara,
mais verdadeira e real
do que minha própria face,
se a tivesse...
_ Eu?, não tenho face,
uso essa estranha máscara,
mais verdadeira e real
do que minha própria face,
se a tivesse...
(Alceu Brito Correa)
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