28 outubro, 2008

Soneto do amor extinto


Pior do que lembrar um bom passado
perdido embora, porém bem vivido,
é pensar tão-somente o quanto agora
a vida já perdeu todo sentido.

Pior que o sonho antigo e lisonjeiro
é o medo do presente assim vazio
daquela boa saudade agora ausente
e do desejo que míngua a cada dia.

É tão difícil falar do que não fala
e emudeceu por trás da própria vida
toda feita penumbra do que cala

sem revolver feridas já fechadas
sem reabrir as velhas cicatrizes
que no lugar de sangue vertem nada.

(Adeliade Amorim)

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