30 setembro, 2008

David Fonseca - Hold Still


In this little town
cars they don't slow down
The lonely people here
They throw lonely stares
Into their lonely hearts

Entre o sono e o sonho


Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.

(Fernando Pessoa)

num momento de lucidez


conheci de perto alguns casos de suicídio ao longo da vida. pelas mais variadas razões ou sem razões aparentes. quem deixe cartas quem não diga nada. quem ande a vida toda a dizer que o vai fazer e quando já ninguém acredita faz mesmo. até conheci o caso de um homem com quem tinha estado há pouco tempo que se suicidou por engano. é verdade. o homem pensou que estava falido e acabou com avida por vergonha de enfrentar a família os amigos sei lá se calhar até só porque se sentiu falhado. o que sei é que a viúva ficou muito bem na vida (em termos de dinheiro claro e para ela isso foi muito importante) porque ele se tinha enganado e afinal a firma ia de vento em popa. mas são sempre casos que me impressionam. porque me parece que é preciso muitas vezes estar atento sobretudo quando se trata de gente nova. é que hoje soube que um amigo do meu filho mais novo se suicidou há dois dias e só deram com ele hoje. o rapaz não andava bem andava mesmo à deriva segundo se pensa teria até esquizofrenia foi internado fugiu só aparecia em casa a horas que sabia que não estava ninguém... enfim. de tal modo evidente que quando contaram ao meu filho que o amigo tinha morrido e não se sabia de quê ele disse logo matou-se. infelizmente tinha razão. não sei o que leva alguém a acabar com a vida mas neste caso parece-me que foi apenas um momento de lucidez. as minhas sinceras condolências à família.

29 setembro, 2008

Bang Bang Bang - Tracy Chapman (clica aqui)

One day he may come back
Repay us for what we've done
Then where you gonna run to
Where you gonna run
But one fine day
All our problems will be solved
Bang bang bang
We'll shoot him down

Data


Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

sendo assim fico por cá


comecei o dia a caminhar à hora das gaivotas. e era mesmo a sua hora pois encontravam-se por todo o lado na areia nas rochas sossegadas calada ou simplesmente conversando em voz baixa. pensei que no Algarve as gaivotas não estariam provavelmente tão sossegadas. e penso que afinal a culpa nem é delas mas dos homens que estão a acabar pouco a pouco com o que resta do planeta azul. o meu planeta é azul. embora se chame Terra é azul. azul como o mar que contrasta com o branco das gaivotas. ninguém se lembra de uma situação idêntica há muitos anos no Algarve. na realidade sempre foram costumeiras as cheias no Ribatejo e os fandangueiros até gostam. ano de enchente é ano de fartura. mas agora o que se passa é que as enchentes se passam nas cidades no Porto à beira Douro em Lisboa à beira Tejo no Algarve à beira mar. o homem tem feito tanta asneira que até conseguiu mudar o clima. há pouco tempo eu sabia que a Primavera estava a chegar porque era acordada pelas andorinhas. e ficava toda contente porque sabia que vinha aí o bom tempo. as folhas caídas anunciavam a chegada do Outono e eu ficava triste porque o bom tempo acabava. mas hoje já não sei quando é que começa cada uma das estações do ano. creio que dentro em pouco voltarei à infância e viverei neste país como vivia em África com apenas duas estações do ano. será que por lá passarão a existir quatro estações? é que se assim for prefiro ficar por cá.

28 setembro, 2008

That Day - Natalie Imbruglia (clica aqui)

That day,
That day
What a mess what a marvel
I walked into that cloud again
And I lost myself
And I'm sad, sad, sad
Small, alone, scared
Craving purity
A fragile mind and a gentle spirit

Mas não podemos


Mas não podemos
evitar
o sereno quando a tarde cai ---
o pensamento é como um pouso.
De novo e sempre
no mesmo ponto,
sendo diferente.
O que mudou nesse meio
- tempo entre um verso &
outro, que posso Eu
dizer de seus
olhos?

(Lauro Marques)

sobre mais um livro de receitas


acabo de ouvir uma curta peça sobre o livro de Eduardo Punset Viagem à Felicidade agora lançado em Portugal. Não tenciono comprar o livro. não acredito em receitas para a felicidade como não acredito em receitas para vencer o stress e outros quejandos como vencer na vida que servem para encher os bolsos dos autores e que nada acrescentam à minha experiência pessoal. aprendi a ser feliz. não era uma criança feliz embora tivesse tudo para o ser. talvez devido á minha timidez e à dificuldade em me relacionar com os outros o que fazia com que eu tivesse apenas duas amigas e de uma delas detestava o feitio e má educação... na adolescência a coisa não melhorou grande coisa. a velocidade a que me apaixonava e a que me decepcionava era a mesma o que fazia de mim uma quase permanente infeliz. mas aprendi. aprendi a ser feliz. não tenho grandes sonhos por realizar excepto o das viagens. aprendi a gostar sempre do meu trabalho e já fiz de tudo um pouco. aprendo a gostar porque sei que a minha vida seria muito pior se não tirasse do meu trabalho a satisfação suficiente para me levantar todos os dias e ir trabalhar em vez de ir fazer uma bela caminhada à beira mar. gosto do sítio onde vivo. tenho o mar e s gaivotas que amo e odeio (as gaivotas claro). tenho uma família bonita que tem dificuldades como todas as famílias mas que ainda tem alguns que se interajudam o que vai fazendo com que a gente a pouco e pouco vá ficando ainda mais feliz... ajudar é sempre uma maneira de ser feliz. o que me deixa mesmo infeliz é o facto de alguém recusar a minha ajuda seja em que campo for. acho que é a única situação em que me sinto realmente infeliz... não tenho stress já aprendi a lidar com isso há muitos anos. portanto senhor Punset (acho que é cientista... ou será filósofo? vem a dar no mesmo. afinal a filosofia é a ciência maior. a da vida. e para isso não há receita) não vou comprar o seu livro. o que lhe ouvi hoje não me traz nada de novo. sou tão feliz quanto posso ser nas circunstancias actuais. abaixo as vírgulas. ponto final.

27 setembro, 2008

Fala-me de amor - Santos e Pecadores (clica aqui)

Qero te alcançar estou a pedir
Para ser como era que te conheci
Hoje eu já sabia dizer ...
Ama-me,
Leva-me, p´ra lá do meu horizonte
Fala-me de amor,
Fala-me de amor
Prende-me segue-me,
p´ra lá do meu horizonte
Fala-me de amor,
Fala-me de amor

Talvez


Amor é fato.
Amar é ato.

Se falta afeto neste fado
ou se, de fato, há fogo febril
- que nos consome num afago
que nos mata em chamas mil
- quero deixar clara a intenção
de consumir-me, não em palavras

- que estas torpes sílabas vãs
revestem justo
o que pretendo desnudar
- mas consumir-me
em consumir-te. Em
“ser”, tendo-te.

Amor volátil,
Fugaz
Que, amanhã, pode não ser.

(Beatriz Galvão)

o acaso das palavras que nunca te direi


não sei se há coincidências. se calhar há e eu chamo-lhes acasos. se calhar... é que hoje estava a ouvir o cd que gravaste para mim depois de termos tudo terminado bastante tempo depois e a que eu chamei as palavras que nunca te direi. tu já mas tinhas todas sabia-as de cor e salteado ouvi durante anos a fio declarações de amor tuas. poucas mulheres terão tido uma estória de amor tão bonita quanto a que eu vivi contigo. mas afinal para sempre é sempre longe demais. por isso quando entendi que a nossa estória estava esgotada que as coisas não eram como antes que me sentia mais só contigo do que sem ti decidi pôr um ponto final no assunto. durante muito tempo continuaste a tentar reatar mas eu quando tomo uma decisão tão especial como esta não volto atrás. nunca. há quem diga que é por orgulho mas estão enganados. eu nunca tomei uma decisão desta importância que não fosse pensada durante dias e noites a fio. e só quando tenho a certeza decido o melhor caminho...
isto não tem nada a ver agora. foi apenas um aparte escrito por estes dedos teimosos que não têm uma linha de pensamento coerente. a verdade é que há muito tempo que não ouvia o tal cd a que chamei as palavras que nunca te direi porque sabia que não voltaria a ouvi-las... e agora soube da morte de Paul Newman que vi como personagem do filme com o mesmo nome as palavras que nunca te direi. adeus Paul. fui uma apenas dos milhões de mulheres que te amaram e nunca te disse as palavras que queria dizer. não tive oportunidade. digo agora Paul. embora tivesses a idade do meu pai eu amei-te. muito. quando era ainda uma garota.
Nota: só mais um acaso? esta foto é do ano em que eu nasci...

26 setembro, 2008

Deixa-me Rir - Jorge Palma (clica aqui)


Pois é, pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor
O que vai dizer Segunda-Feira

Cerimónia de passagem


"a zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume"

a rapariga provou o sangue
o sangue deu fruto

a mulher semeou o campo
o campo amadureceu o vinho

o homem bebeu o vinho
o vinho cresceu o canto

o velho começou o círculo
o círculo fechou o princípio

"a zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume"

(Ana Paula Tavares)

louca mas não tanto


numa altura em que muita gente já viu desfeito o sonho de ter acertado hoje no euro milhões penso que não sabendo o que faria com tanto dinheiro é preferível que ele seja entregue a quem saiba o que fazer com ele. é claro que nestas alturas toda a gente diz o que faria com tanto dinheiro. e a única coisa que eu gostaria de fazer era uma viagem à volta do mundo. continuaria a viver onde vivo, continuaria com o mesmo utilitário, continuaria a trabalhar. poderia com certeza ajudar muita gente fora e dentro da família e dos amigos mas para mim era só o que eu queria. viajar por todo o mundo começando em África e acabando em África. passando por todos os outros países e nele incluo Afeganistão (que deve estar a preço de saldo) e Iraque. porque não? quem quer conhecer o mundo tem que conhecer cada cantinho e a sua gente. é claro que levaria produtos europeus para China. afinal de contas sou louca mas não de todo.

25 setembro, 2008

Tarde em Itapuã - Vinicius de Moraes e Toquinho (clica aqui)

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Paraíso


Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

(David Mourão Ferreira)

como eu te quero!


corria o ano de 1917 e o namorado da minha avó morreu. acho que de tuberculose. mas para o caso pouco importa. vivendo numa terra pequena a minha avó não se coibiu de vestir luto dos pés à cabeça como se de uma verdadeira viúva se tratasse. é claro que os mexericos começaram imediatamente... o que se teria passado entre aqueles dois namorados para que ela vestisse luto carregado pela morte dele? mas ela nunca se importou com o que diziam. a minha avó sempre gostou de se mascarar e aquela era apenas mais uma oportunidade para o fazer.
pouco tempo depois estava ela num bailarico lá da terra com o seu fato completo de luto quando apareceu um rapaz bem parecido de olhos azuis que a convidou para dançar. para escândalo maior ela aceitou e dançou com ele o resto da noite. sabia que as pessoas cochichavam. ainda por cima ninguém sabia quem era o rapaz... não era lá da terra.
no dia seguinte a minha avó apareceu garridamente vestida passeando-se com o rapaz de olhos azuis... que foi o avô que infelizmente morreu quando eu tinha nove meses não me dando oportunidade de o conhecer... ficaram apenas as estórias que a minha avó contava dele que era tão diferente dela. mas a alegria dela sempre deu para dividir com quem a rodeava. como eu te quero avó!

24 setembro, 2008

Gentileza - Marisa Monte (clica aqui)


O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta

Naufrágio


A rua cheia de luar
Lembrava uma noiva morta
Deitada no chão, à porta
De quem a não soube amar.

Já não passava ninguém...
Era um mundo abandonado...
E à janela, eu, tão Além,
Subia ressuscitado...

Vi-me o corpo morto, em cruz,
Debruçado lá no Fundo...
E a alma como uma luz
Dispersa em volta do mundo...

Mas, à tona do mar morto,
Um resto de caravela Subia...
E chegava ao porto
Com a aragem da janela.

(Branquinho da Fonseca)

eu chamo-lhes originais


venho tão cansada que decido subir pelas escadas rolantes. felizmente estão a funcionar o que nem sempre acontece. vou absorta quase adormecida a pensar na falta que me fazem umas boas horas de sono sem preocupações. quase me apetece internar-me numa clínica para poder dormir até à eternidade que durar. mas que essa eternidade valha a pena enquanto durmo. e de repente olho para o lado e vejo no sentido descendente um rapaz (impossível calcular a idade) com trissomia 21 e atrás dele uma senhora que penso ser a mãe debruçando-se para o degrau abaixo para dar um beijo ao rapaz e passar-lhe a mão na cabeça. sinto-me feliz e acordada de repente e mais uma vez penso que esta doença não é tão grave que leve a maior parte das pessoas a pensar em interromper uma gravidez quando sabem que vão ter um filho com essa deficiência.
aqui por casa há muitos anos andou uma menina assim que era a melhor amiga do meu filho mais novo. era uma criança adorável que passava o tempo aos beijos e abraços. de uma afectuosidade incrível. tenho pena de termos perdido o rasto da Inês. não sei se os pais se mudaram não sei se a menina teve mais algum problema. sei que também ela era muito amada pela família e que tinha na minha família amigos que que lhe queriam muito bem. será pois muito bom pensarmos em deixar de lado a discriminação de pessoas com este tipo de originalidade.

23 setembro, 2008

Tears in Heaven - Eric Clapton (clica aqui)

Would you hold my hand if I saw you in Heaven?
Would you help me stand if I saw you in Heaven?
I'll find my way through night and day,
'Cause I know I just can't stay here in Heaven.

Não passou


Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.

Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão- a tua mão, nossas mãos
-rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos.

Éramos?
Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.

(Carlos Drummond de Andrade)

querida avó


fazes 108 anos tu a avó que eu mais amei para falar verdade a única que eu amei porque só a ti senti como avó. tenho saudades eu e as tuas filhas e os teus netos. o que eles deliravam com os truques de magia que aprendeste aos 8 anos quando fugiste com um bando de saltimbancos e andaste quase um mês até que te encontraram. e com as estórias como aquela do namorado que o teu pai não queria ver nem pintado e tu namoravas da janela e um dia ele descobriu e arrombou a porta do teu quarto e tu não foste de modas saltaste para a rua e partiste uma perna... felizmente naquela altura os prédios eram quase todos bastante pequenos... e as bonecas de trapo que costuravas para as tuas netas. aos 92 anos ainda costuravas, era o que mais gostavas de fazer e vivias sozinha e nunca dependeste de ninguém e logo por azar adoeceste gravemente aqui em casa numas férias de Natal que costumavas vir passar com os meus filhos e foi uma questão de dias. deixei-te no hospital depois de teres feito todos os exames comigo ao teu lado porque a médica percebeu que ficarias assustada se me perdesses de vista e disse-me que te fosse buscar umas horas mais tarde e afinal já não voltaste para minha casa nem para a tua nem para outra qualquer... eu acho que tu voltaste a fugir com o bando de saltimbancos e que andas por aí de terra em terra até que um dia hás-de vir de novo passar uns dias comigo e então os teus netos voltarão para esta casa e voltarão a ouvir as tuas estórias reais e as outras em que imperavam as bruxas más e corria muito sangue. eu continuo à espera da tua visita. querida avó hoje o dia foi mais cinzento porque tu não estavas ao meu lado mas apenas dentro da saudade no meu coração

22 setembro, 2008

Samba de Orly - Chico Buarque (clica aqui)

Mas não diga nada
Que me viu chorando
E pros da pesada
Diz que vou levando
Vê como é que anda
Aquela vida à toa
Se puder me manda
Uma notícia boa

Querendo


O sol penetra
Traz as pessoas para começar o dia.

As crianças sonolentas
Os adultos quase despertos.

Na copa eståo as Marias
Na porta o Joåo
Nas ruas a solidåo.

Sobre um céu
Dentro da terra

E o mar qual distante de meus olhos
Que eståo perto do cerrado
Tristes
Encabulados.

Procurando uma vontade
Esse tolo desejo
De mato molhado.
De um bicho ao meu lado.


(Tereza Cristina Fraga)

a parte cómica da situação


a semana começa e eu tenho apenas uma certeza. segundo o calendário e baseado no equinócio o Outono começou às 16.46 horas. e só acredito nisto porque acredito ainda no homem. porque não vejo ainda folhas das árvores pelo chão. em algumas regiões do país choveu a cântaros e as inundações do costume sucederam-se porque parece que toda agente já sabe que não é grande ideia construir sobre as linhas de água mas continua a fazer-se por todo o país com projectos com são com certeza aprovados pelas Câmara Municipais que quero crer tenham sido estudados por técnicos competentes. mas é o país que tenho...
depois há outras questões que deixam os meus pobres neurónios muito atrapalhados. quando o petróleo começou a sua escalada toda a gente dizia que era mau porque afectava toda a população embora alguns governantes achassem que só prejudicava quem tinha carro. agora ouço dizer que é mau que o crude esteja a descer por causa dos investimentos nas energias alternativas e porque agora que muita gente estava a desistir de deixar o carrinho em casa e andar de transportes públicos voltará a usar o carinho para as suas voltinhas do dia a dia. eu só falo por mim. há quase um ano que não uso o carro no meu dia a dia e não tenciono mudar os hábitos. poupo o ambiente, poupo dinheiro e ganho em elegância pois então... sem gastar um tostão no ginásio. desculpem não é tostão eu sei que é cêntimo.
para terminar os USA que pareciam o país dos sonhos e o foram durante muitos anos estão ao que parece na bancarrota e pedem ajuda ao G8 de que fazem parte ajuda. eu sei que a situação mundial é trágica. mas é que isto parece-me demasiado cómico para levar a sério. é que eu pensava que o G8 existia para ajudar países pobres. e os USA se estão como estão é só porque são o país mais consumista do mundo. desculpem-me mas vou ficar por aqui antes que desate a escrever palavrões.

21 setembro, 2008

Primeiro beijo - Rui Veloso (clica aqui)

Quero o meu primeiro beijo
não quero ficar impune
e dizer-te cara a cara
muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa

Beijo


Uma batida rouca
na porta da noite escura
de bares fechados
e mesas vazias

As mesas falam, sabia?
As cadeiras dançam
e os copos se beijam
quando brindam

O seu olhar fala
mudo, discreto e sensível
dentro de minha boca fechada
por medo de sorrir

(Lisa Lago)

proseando


o homem saído do filme de terror passou por mim com o mesmo ar de eu sou muito mau cuidado comigo o melhor mesmo é nem olharem que não é por acaso que eu tenho estas cicatrizes todas fora as que vocês não sabem se escondo com as tatuagens. nem é que o homem me transmita más vibrações é que o seu aspecto é realmente impressionante assim como a maneira de andar à gangster. aqui há uns anos teria dado um excelente actor secundário em filmes de cow boys por falar nisso não percebo porque é que quase não se fazem filmes de cowbo boys.
quando era miúda em Luanda ia a todas as matinés de sábado ao cinema da SMAE onde via os filmes de graça porque uma amiga da minha mãe trabalhava na Câmara e tinha bilhetes de borla. o que eu me divertia naquelas matinés nem vos passa pela cabeça. primeiro porque era das poucas pessoas de pele branca no cinema e depois porque a assistência ia falando alto com os actores avisando-os dos perigos que corriam e quando algo de mal lhes acontecia saía logo um eu bem te avisei não quiseste acreditar...
não sei o que vinha hoje dizer aqui mas devia ser alguma coisa muito chata. e assim os dedos escreveram o que lhes apeteceu enquanto eu pensava no meu passeio à hora das gaivotas.

20 setembro, 2008

Mãe Negra - Sofia Barbosa e Paulo Carvalho (clica aqui)

Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...
Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias

que costumavas contar

Para um negro


para um negro
a cor da pele
é uma sombra
muitas vezes mais forte
que um soco.
para um negro
a cor da pele
é uma faca
que atinge
muito mais em cheio
o coração.


(Adão Ventura)

obrigada aos países mais pobres do mundo


no Haiti como em Cuba ou em qualquer outro país pobre do mundo as desgraças tornam as pessoas mais solidárias. penso muitas vezes que o que nos faz mal na Europa o que nos torna egoístas é o facto de termos coisas demais. coisas de que não precisamos efectivamente. armários cheios de roupa que não vestimos há anos por exemplo. sapatos que jamais calçaremos por incómodos. malas que afinal são bonitas mas não têm arrumação. óculos que já não servem para nada porque os nossos olhos estão cada vez mais cansados e precisam de algumas dioptrias a mais. nos países pobres acontecem cheias e fogos e mesmo assim eles mostram-se dispostos a partilhar o pouco que têm com os países ricos quando acontece algum desastre natural nos mesmos. isto aconteceu com a solidariedade que Moçambique mostrou com Portugal uns anos quando as nossas florestas ardiam todos os dias... isto continua a acontecer. sempre. quem mais precisa é quem mais sabe dar. obrigada pela lição que me dão todos os dias.

19 setembro, 2008

Filme Triste - Chico César

E ao chegar em casa mamãe viu
Os meus olhos vermelhos de chorar
E abraçada a ela eu expliquei
Mamãe o filme foi tão triste que eu chorei

Eu te entrego


Eu não quero só estrelas
num céu bem enluarado...
Aceito até os tormentos
e noites de trovoadas.
Tudo no amor é assim,
nem todo o amor é pecado...
por isso eu te entrego
esse amor desesperado.

(Osael de Carvalho)

só não vê quem não quer


chega ao fim mais uma semana de trabalho que não correu da melhor maneira... não o trabalho mas o que foi acontecendo ao longo da semana. para acabar bem a semana cheguei ao serviço e descobri que tinha deixado os óculos em casa. num dia de processamento como o de hoje em que estão em causa alguns milhares de euros sem os quais as pessoas a que são destinados ficam em piores lençóis do que já estão comecei a trabalhar afastando-me o mais possível do PC para poder ler e fazendo igualmente o mesmo com cada papel... só que há papéis que nem com lupa se conseguem ver e é realmente muito difícil dar rendimento num dia destes em que mais do que nunca é preciso "dar o litro e suar a camisola".
eis senão quando aqui a rapariga tem a ideia brilhante de ter visto numa loja de chineses óculos graduados. e vencendo o obstáculo de entrar numa destas lojas porque sei da exploração dos seus trabalhadores lá entrei na mais próxima. saí com uns óculos que me permitiram trabalhar um dia inteiro por € 2,50. dá quase vontade de dizer que só não vê quem não quer ver. em África quem precisa de óculos compra-os utilizando o sistema de experimentar até obter uns com que veja bem... pois. hoje até parecia que estava no Roque Santeiro. não me refiro à novela da Globo mas ao mercado existente em Luanda onde tudo se compra e tudo se vende. haja kwuanzas.

18 setembro, 2008

Voar - Tim (Xutos e Pontapés) (clica aqui)

Ó meu anjo da guarda
faz-me voltar a sonhar
faz-me ser astronauta ...e voar
O meu quarto é o meu mundo
o ecrã é a janela
Nao choro em frente á minha mãe
eu que gosto tanto dela
Mas esta dor nao quer desaparecer
vai-me levar com ela

Espaço curvo e finito


Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

(José Saramago)

a leveza das gaivotas


vejamos se posso falar de alguma outra coisa que não sejam as gaivotas sem cair na tristeza de um país triste com gente triste... difícil. de tanto observar as gaivotas estou a tornar-me um pouco numa delas. eu sinto-me uma gaivota. só tenho as asas da imaginação é verdade mas tudo o resto está de acordo. e a mais parece-me que cada vez há mais gente a reparar nas gaivotas. até o Tim dos Xutos fez uma canção com o nome a história das gaivotas. ou se calhar até nem é este o nome mas o que importa é que também ele gosta da praia à hora das gaivotas quando a maré está vazia.
e depois há toda aquela gente que vejo tentando levantar voo. ainda não cheguei aí. nem sei se se chegarei apesar de me estar a tornar cada vez mais leve de uma leveza quase insustentável não fosse a mania que tenho de me meter na vida dos outros e tentar resolver os seus problemas. como as gaivotas... tal e qual.

17 setembro, 2008

Tim Maia - Azul da cor do mar (clica aqui)


Ver na vida algum motivo
Prá sonhar
Ter um sonho todo azul
Azul da cor do mar...

Rapariga


Cresce comigo o boi com que me vão trocar
Amarraram-me já às costas, a tábua Eylekessa

Filha de Tembo
organizo o milho

Trago nas pernas as pulseiras pesadas
Dos dias que passaram...
Sou do clã do boi -

Dos meus ancestrais ficou-me a paciência
O sono profundo de deserto.
A falta de limite...

Da mistura do boi e da árvore
a efervescencia
o desejo
a intranquilidade
a proximidade
do mar

Filha de Huco
Com a sua primeira esposa
Uma vaca sagrada,
concedeu-me
o favor das suas tetas úberes.


(Ana Paula Ribeiro Tavares)

Para a Solange em especial


Recebi hoje um comentário a "Que saudades África Minha" que é apenas uma carta minha a uma amiga muito querida. Como não tenho o costume de comentar os comentários que me enviam (julgo que por isso as pessoas comentam pouco), mas a verdade é que não abri este blogue com intenção de fazer concorrência ao Hi5 e congéneres. Aqui eu digo o que penso das coisas mais variadas e todos os comentários desde que não sejam anónimos são publicados.
Vamos pois ao que interessa. Começando pelo fim Solange, eu sou apenas uma gaivota de 50 anos que tem em cima das costas mais de 80 bem vividos. Muita luta, muito sofrimento mas também uma alegria que ninguém nem nada conseguem apagar. O livro "Querida Mathilda" foi-me emprestado por uma amiga a quem escrevo regularmente aqui ou em conversa. É. Estamos juntas quase todas as semanas e as nossas conversas são como cartas. Desabafamos uma com a outra, comentamos política, modos de vida pedimos conselhos uma à outra e foi nesse sentido e porque eu lhe tinha falado em "Vai onde te leva o coração" que ela me emprestou as cartas da Susanna. Confesso que não li mais nada dela mas vou fazê-lo com toda a certeza até porque como já confessei na mensagem que comentou eu admito que sou muitas vezes preconceituosa. Julgo por uma pequena coisa e depois fico na minha... até que me dá um clique e eu reajo. Isso aconteceu-me há pouco tempo com outra escritora portuguesa: Rosa Lobato de Faria. Decidi comprar a Flor do Sal e gostei da escrita dela do princípio ao fim. Por falar nisso uma amiga ofereceu-me um livro de poemas dela de que também estou a gostar bastante.
De qualquer modo Solange fico contente por a ter trazido a este blogue ainda que por caminhos tortos. Quanto à religião eu aceito que todas têm pontos bons e pontos maus... a começar pela minha em que deus tem um nome qualquer parecido com "gente".

16 setembro, 2008

Não Queiras Saber de Mim - Rui Veloso e Mariza (clica aqui)

Dança tu que eu fico assim
Porque eu estou que não me entendo
Não queiras saber de mim
Hoje não me recomendo
Amanhã eu sei já passa
Mas agora estou assim
Hoje perdi toda a graça
Não queiras saber de mim

A vida é esta


A vida abana, sacode
É um leque
A vida é esta
Queima, pica
É piri-[iri
Fogo a arder.
A vida é esta
Cifrão p'rá frente
Cifrão p'ra trás
Tudo a contar,
Descontar, conter.
A vida é esta
Um berlinde
Gira, rola,
Salta, desliza
Um ping-pong
Bate, resvala
A vida é esta.
Um elástico
Puxa, estica
Torce, dobra
A vida é esta.
Uma dança
Baila, rebola
Ginga, contorna
A vida é esta.
Um jogo
Disputa, goleia
Ganha, perde
A vida é esta.
Uma ferida
Amola, remói
Dói, dói, dói-dói...
E é assim a vida
Enfim, uma grande dor.

(José Armelim)

sem medo


as semanas passam a uma velocidade que que me deixa zonza. por mais que tente ter um pouco mais de tempo para mim está difícil. como me dizia a filha de Pepe hoje os dias curtos dão-nos neura. e tem toda a razão. não há horas que cheguem para tudo o que tenho que fazer. tento acudir a todos e qualquer dia estou de rastos e então ninguém poderá contar comigo para mais nada. por isso o melhor mesmo é tentar voltar a organizar a minha agenda e não deixar que ma baralhem de novo. é claro que eu falo de cor porque no fundo sou eu que não me dou tempo porque a inquietude toma conta de mim e eu tenho que estar ocupada com várias coisas ao mesmo tempo para não pensar em coisas que me haviam de deixar bem pior se parasse um pouco para pensar. às vezes o melhor é mesmo atalhar e seguir em frente sem olhar para trás. o que passou passou é preciso é não voltar a permitir que aconteça. quem varri está varrido. o chão está limpo. posso pois caminhar. sem medo.

15 setembro, 2008

Optimista céptico - Jorge Palma (clica aqui)

Há assassinos que não se arrependem
há tantos pensadores que nunca aprendem
e há quem insista sempre em aprender
mas não quer pensar
Por isso eu tornei-me um optimista céptico...
Gostava de ser ecologista exótico
sem perder de vista o meu perfil erótico

Mutilação e Degredo


resgato a minha pena
com recatadas oferendas
nêsperas no areal
leite de coco em grandes folhas verdes
e mariscos que apanho nos recifes

depois dos marinheiros saciados
saio do meu abrigo e lavo-me no mar

sofro com cada vela que se enfuna
porém eu sei que a lenda
e os ventos de sudeste
me dão continuidade

único humano
nesta paisagem de poentes tropicais
com o pedaço de língua
que a faca do algoz deixou ficar
vou praticando as minhas guturais

(Luis Amorim Sousa)

aonde entra o meu mau feitio


entro no centro comercial e procuro uma loja especializada em telefones mas a mesma não existe por ali... o segurança indica-me o nome de outra e onde fica. vejo a loja e olho as duas montras. quando entro já sei exactamente aquilo que quero. a empregada está a espanar uma das montras. a levantar pó portanto. há quantos anos eu não via um espanador... mas enfim devo ser eu que sou esquisita. continuou a espanar como se nada fosse. só quando terminou se virou para mim e vi que era uma miúda com mais ou menos 20 anos, mulata e bonita. e muito antipática. tive vontade de sair porta fora quando ela me perguntou o que eu queria como se eu lhe devesse alguma coisa há que tempos e não lhe pagasse... saí o mais depressa que pude com aquilo que queria e tão mal impressionada com a loja que acho que nunca mais lá entro. é aqui que entra o meu mau feitio claro.

14 setembro, 2008

Bom Prazer - Sergio Godinho (clica aqui)

Amanhã já não muda a hora
nem eu vou, nem tu vens de fora
nada te demoveu
bom prazer que me deu
Bom prazer é para reparar na lua
e desenhar a cara
pousar no fundo amor que do fundo sai

Tempo


Onzes de janeiro de dois mil e dois
haverá aos bilhões.

Agora é daqui
há pouco.

Dez minutos
sequer têm tempo
para esses seiscentos segundos
que os recheiam.
As hélices dos ponteiros,
as sombras girassóis,
a areia que esvazia,
enquanto anunciam,
sonham perenidades ínfimas,
prenhes de acasos remotos,
nanoabismos de augúrios
que orbitam num infinito
de culpas, anseios e júbilos.

Agora,
o agora
já era:

brilho cansado,
expira no olhar do bebê
– a mesma luz anciã
que sorriu nas pupilas fundas
do seu avô quando nasceu.

Seiscentos mil milésimos de tempo:
memórias de letras
que terminam nunca;
nódoas que não vemos
num fotograma negativo
daquele ímpeto que viria se.

Tempo é,
faz tempo.

Minutos, segundos, milênios
(é?)
são momentos.

Mas o tempo
– esse dá medo.

(Guilherme Scalzilli)