30 novembro, 2009

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os chicólatraschicolatras "Hoje na solidão ainda custo; A entender como o amor foi tão injusto; Prá quem só lhe foi dedicação"

A mais bonita - Chico Buarque e Bebel Gilberto

Ao me ver passar
Bonita
Hoje eu arrasei
Na casa de espelhos
Espalho os meus rostos
E finjo que finjo que finjo
Que não sei

Acaso

No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.

A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.

Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.

Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!

Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?

Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...

Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.

(Álvaro de Campos)

cimeiras e sul americanos à mistura

a cimeira ibero americana lá vai servindo de distracção a alguns parolos da nossa praça que à falta de melhor se vão entretendo a ver a rainha de espanha ou a nossa maria que não larga o seu ar de dona de casa desesperada (isto sou eu a ser boazinha porque se eu dissesse o que realmente ela me parece seria política e socialmente muitíssimo incorrecta e hoje apetece-me estar bem comportada. como se vê também eu tenho dias de bom coração). pois a cimeira lá vai sempre atrasada e baralhando as contas da segurança. agora o homem mais desejado na cimeira não pôs cá os cotos. há quem diga que ele disse que não vinha por causa do seu colega da coômbia. parece que as coisas entre os dois não andam assim lá muito bem e o hugo parece que não se quer misturar com gente que se dá com o outro. para mim isto é apenas uma boa desculpa para não ser ainda mais políticamente incorrecto do que eu. é que um passarinho me soprou que o que ele não quer mesmo é ser obrigado a comprar mais magalhães ao josé. parece que lá pela venezuela já há daquilo aos pontapés e como ele gosta do josé e não quis ser menos polido com ele (conhecido como é por ser um homem de rara educação constando até em certos meios uma esmerada educação na suíça) preferiu arranjar esta desculpa para não ter que dizer não às ofertas bem intencionadas do josé que apenas quer que os venezuelanos tenham todos um magalhães mesmo que nem todos tenham um tecto ou uma refeição diária para aconchegar a barriguita. e fico por aqui que hoje já asneirei demais.

29 novembro, 2009

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Ondjakiondjaki no grito silencioso / da pesada noite / só a Lua afinal era quieta

Naquela Estação - Adriana Calcanhotto - (clica aqui)

Você entrou no trem
E eu na estação
Vendo um céu fugir
Também não dava mais
Para tentar
Lhe convencer
A não partir...

E agora, tudo bem
Você partiu
Para ver outras paisagens
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado
Naquela estação....

Nós não somos deste mundo

Para a solidão nascemos. Outras vozes
nos chamam e invocam, outros corpos
se perfilam radiosos contra a noite.
Nós não somos daqui. Num intervalo
de campanhas esquecidas nos dizemos,
abrindo o coração aos de passagem.
Mas quando a manhã chega nós partimos,
mais livre o coração, longa a viagem.

(Luis Filipe Castro Mendes)

isso agora não interessa nada não é?

um dia de fortes aguaceiros que deixou a marginal quase deserta que bom para mim que assim pude despachar os meus afazeres e voltar a casa para preparar o almoço para a família que vive longe. e que bom poder estar com eles e saber das novidades de viva voz apesar de telefonemas muito frequentes às vezes quase diários mas é assim que podemos estar uns com os outros e é assim que estamos. e depois a visita do mais novo da família tão frágil e tão pequenino a vida é mesmo um milagre mas do homem e da mulher. e não pude estar tanto com ele como queria graças a esta constipação que resolveu tomar conta da minha vida ainda bem que estou de férias e assim não tenho que me sujeitar aos olhares suspeitos quando solto um espirro e logo eu que sou daquelas que não solto apenas um mas uma série deles. houve alguém na minha vida que dizia que eu soltava sete espirros acho que agora solto mais mas não contei deve ser da idade se calhar quanto mais velhos mais espirramos sei lá e depois o que é que isso interessa se apesar deles tive um dia feliz e completo?

28 novembro, 2009

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os chicólatraschicolatras "Do lado de lá tanta ventura; E eu a esperar pela ternura; Que a enganar nunca me vinha"

Every time we say goodbye - Annie Lennox (clica aqui)

When you're near
there's such an air
of Spring about it
I can hear a lark somewhere
begin to sing about it
Theres no love song finer
But how strange the change
From major to minor
Every time we say goodbye


A palavra mágica

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

(Carlos Drummond de Andrade)

as palavras

as palavras depois de ditas não há nada a fazer. é por isso que há que haver cuidado com o seu uso. porque se dizemos a primeira que nos vem à cabeça podemos muito bem estar a magoar alguém de tal forma que não haja retorno. porque a palavra desculpa que também existe serve para pedir desculpas ma não apaga o que ficou dito. e é assim que muitas vezes as relações se vão degradando. há quem aceite desculpas umas duas ou três vezes. há quem aceite desculpas sempre. mas não creio que só porque se aceitou um pedido de desculpas se deixe ficar tudo na mesma. é claro que tudo isto depende da gravidade e da intenção com que as coisas são ditas. às vezes as palavras são apenas um remoque que logo se desculpa e fica tudo quase como dantes. e digo quase porque haverá então com certeza uma segunda vez talvez mais grosseira e assim por diante. confesso que não tenho feitio para aceitar desculpas. como também não tenho para pedir. é verdade que peço desculpas muitas vezes mas por coisas do tipo aquela teima em que estava convencida que algo era de uma maneira e afinal era de outra. e chegada à conclusão verdadeira peço desculpa pela minha teimosia. por magoar alguém não peço desculpas quase nunca. porque se magoo alguém é porque tenho a intenção de o fazer. quero mesmo que essa pessoa fique magoada comigo e deixe de fazer parte do meu círculo de amigos. ora estas coisas passam-se muito raramente durante uma vida inteira de modo que os meus dedos me levam por aqui a pensar que nunca magoei ninguém que eu achasse que valia a pena. mas é preciso pensar antes de abrir a boca. e eu penso cada vez mais vezes. coisas dos meu tempo.

27 novembro, 2009

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os chicólatraschicobuarque "Diz quem foi que inventou o analfabeto e ensinou o alfabeto ao professor"

Nunca me esqueci de ti - Rui Veloso (clica aqui)

Tudo muda, tudo parte
Tudo tem o seu avesso.
Frágil a memória da paixão...
É a lua. Fim da tarde
É a brisa onde adormeço
Quente como a tua mão

Procuro-te

Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.

(Eugénio de Andrade)

estou cansada

não sei contar desta dor dentro de mim. não sei contar a tristeza. não sei ou melhor sei mas não vou contar porque aqui já não sou eu que escrevo é algo que dentro de mim se rebelou e me deixou assim como se tudo dentro de mim fosse mágoa. estava alegre e por uma coisa de quase nada poder-se-ia dizer mesmo nada esta dor ferrou-se no meu peito como faca acabadinha de amolar. devia estar feliz afinal as férias ainda que curtas estão aí devia estar mesmo muito feliz mas não posso porque esta dor de olhar à minha volta e não conseguir perceber o que me faz chorar me deixa esta mágoa que é mais uma dor algo que não sei contar porque quem escreve aqui não é a maria eduarda quem escreve aqui são dedos dezenas de dedos que se atrapalham e atropelam sem pedir licença todos querem passar à frente nenhum respeita a sua vez e eu aqui a olhar para eles a tentar impor alguma disciplina e só consigo sentir a mágoa só consigo sentir a dor e deixo que façam o que quiserem no fundo que me importa a mim o que escrevem se não sou eu que falo se são eles que falam de si não de mim que estou triste e magoada já que eles felizes por poderem brincar à vontade no teclado porque eu não tenho paciência nem vontade de escrever. escrevam pois por mim. o que quiserem. estou muito cansada. escrevam pois por mim.

26 novembro, 2009

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os chicólatraschicobuarque "Preciso conduzir; Um tempo de te amar; Te amando devagar; E urgentemente"

Je Sais - Jean Gabin (clica aqui)

Toute ma jeunesse, j'ai voulu dire je sais
Seulement, plus je cherchais, et puis moins j' savais
Il y a 60 coups qui ont sonné à l'horloge
Je suis encore à ma fenêtre,
je regarde, et je m'interroge
Maintenant je sais, qu'on ne sait jamais!
La vie, l'amour, l'argent, les amis et les roses
On ne sait jamais le bruit ni la couleur des choses
C'est tout c'que j'sais !
Mais ça, je le sais... !

Homem

Inútil definir este animal aflito.
Nem palavras,
nem cinzéis,
nem acordes,
nem pincéis
são gargantas deste grito.
Universo em expansão.
Pincelada de zarcão
desde mais infinito a menos infinito.

(António Gedeão)

isto não é um país a sério

pois é. o rei da sucata continua em prisão preventiva apesar de alegar motivos de saúde a ordem é continuar em prisão preventiva. o rei da sucata imagine-se está preso. e outros senhores que pelos vistos por ele foram comprados passeiam e hão-de continuar a passear por aí com a maior cara de pau como dizem os nossos amigos do brasil. eu não acho bem. estou no meu direito não? afinal rei é rei. como é que se mantém um rei preso ainda por cima um rei muito competente que construiu um império à custa da sucata e de saber muito bem a que porta bater e quanto pagar para continuar sendo rei. é verdade que não tem cara de rei. mas o godinho é sem dúvida o rei da sucata de portugal que afinal é mesmo um país de sucata e de sucateiros que se vendem por tuta e meia. eu nunca vi tanta gente bem na vida a deixar-se comprar por aquilo que a mim me parece tão pouco. e olhem que eu sou mesmo pelintra. daquela classe que anda por aí a contar tostões para chegar ao fim do mês sem calotes pendurados. e sabe deuje o que me custa a mim e ao resto da pelintragem deste país de sucata este esforço. ora o que me faz espécie neste processo com nome de filme de hitchcok é precisamente ainda não ter ouvido que algum pelintra foi corrompido. isto não é um país a sério pois não?

25 novembro, 2009

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os chicólatraschicobuarque "Fui pegar uma cor na praia E só faltou me bater, é; Basta ver um rabo de saia pro bobo se derreter"

Coisas da Vida - Milton Nascimento (clica aqui)

Como foi que eu cheguei aqui
Quem me diria que esse era meu fim
Olho no teu olhar
A festa de estar
De bem com a vida

O luar girou
A sorte me pegou
Tesouro
Te encontrei sem garimpar
No ouro da paixão
Na febre da paixão
Que estão em mim

Demissão

Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.

(José Saramago)

quem aprende nunca esquece

não sei porquê assim de repente pus um pouco de lado os escritores latino americanos de quem gosto tanto. tirando o luis sepúlveda que não me esqueço nunca de ter por perto assim que me lembre o último que li foram as travessuras da menina má do llosa. durante anos fui devota de isabel allende e comprei tudo o que escrevia mas quando ela escreveu o primeiro livro infantil eu li e aquilo não me parecia isabel allende. e vai daí fui-me esquecendo que ela continuava a existir. acontece que na conversa com escritores do josé rodrigues dos santos lá estava ela aparentando muito menos idade do que a que realmente tem e a fazer do programa realmente uma conversa e não uma entrevista. afinal ambos são jornalistas e salvaguardadas as devidas distâncias com que um e outro são conhecidos pelo mundo a verdade é que ambos são escritores quero dizer pelo que li do josé ele escreve livros e pelo que li de isabel ela é escritora. melhor ele é escritor uma vez que escreve livros e ela é romancista uma vez que escreve romances. segundo contou começou a escrever como muita gente por solidão. e dor. a casa dos espíritos começou por ser uma carta para o seu avô. uma carta para que ele soubesse que ela não tinha esquecido nada do que ele lhe ensinara ou contara. é claro que a época e o sobrenome allende deram um empurrãozinho mas isso não tira nem um milímetro de beleza ao que escreveu. gostei muito deste programa. talvez ela devesse ser contratada para fazer um programa assim. porque o bichinho do jornalismo está lá e aquilo segundo dizem é como andar de bicicleta. quem aprende nunca esquece. e é pena que quem saiba tão bem não exerça.

24 novembro, 2009

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os chicólatraschicolatras "Não, pois nossos corações hão de ser nossos; A terra, o nosso sangue, os nossos poços"

Nossos Momentos - Gal Costa (clica aqui)

Momentos são iguais àqueles
Em que eu te amei,
Palavras são iguais àquelas
Que eu te dediquei.

Eu escrevi na fria areia
Um nome para amar,
O mar chegou, tudo apagou,
Palavras leva o mar.

Criança


Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, — e resiste,

Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente...

Cabecinha boa de menino mudo
que não teve nada, que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.

Cabecinha boa de menino santo
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto.

Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.

(Cecília Meireles)

a minha prole

é verdade que não tenho tempo nem para ouvir as notícias. é verdade que mesmo aproveitando todo o meu tempo livre não consigo ler tanto quanto queria. é verdade que os encontros com os amigos têm que ser pensados ao milímetro porque não dá para estar com todos. é verdade que eu estou perfeitamente apaixonada pelos meus rapazes. os meus meninos que se tornaram homens. os meus meninos e meninas que agora me dão outros meninos que me deixam pasmada com a sua beleza como é possível bebés tão lindos meninos tão bonitos mesmo a pedirem para serem de cristal de tão lindos que são. e eu ando assim a modos que tonta com tanta beleza como se não soubesse muito bem para que lado me virar ontem era o manel hoje é a inês número dois porque parece que se vai tornado hábito na família os números dois não vejo inconveniente afinal o que importa é vê-los saudáveis lindos crescidos sossegados eu sei lá... o que eu sei é que nunca tive noção de que teria uma prole tão extensa. ainda bem que assim é porque mesmo os sobrinhos são como filhos e netos. apenas extensões do amor infinito que sinto por eles apesar de não lhes dar a entender apesar de mazinha a deitar abaixo mas por dentro toda vaidosa de os ver assim todos sentados à mesa a comer como gente grande. e cá para mim isto é apenas o começo...

23 novembro, 2009

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os chicólatraschicobuarque "Vem ver de perto uma cidade a cantar; A evolução da liberdade; Até o dia clarear"

Pensar em Você - Chico César (clica aqui)


É só pensar em você
Que muda o dia
Minha alegria dá pra ver
Não dá pra esconder
Nem quero pensar se é certo querer
O que vou lhe dizer
Um beijo seu
E eu vou só pensar em você

Coisas de luz antiga

Aquele namorado que tinha
um nome bom: há quanto tempo foi?
A vida resvalante como gelo
e aquele namorado de nome bom
e férias, ficou perdido em luz,
mais de vinte anos.

Deu-me uma vez a mão
um beijo resvalante à hora de deitar
e na pensão. Mas tinha um nome bom.
falava de cinema e calçava de azul
e um bigode curtinho,
que escorregou aceso como gelo
no centro da pensão.

Rasguei as cartas dele
há quinze anos, em dia de gavetas
e de luz, e nem fotografia me ficou
de desarrumação. Mas tinha um nome bom,
falava de cinema e calçava de azul
e resvalou-me quente como gelo
à hora de deitar:

um namorado sem falar
de amor

(que a timidez maior
e o quarto dos meus pais
nessa pensão
no mesmo corredor)

(Ana Luisa Amaral)

um deserto sem camelos

vou viver esta semana o melhor que puder. será a melhor maneira de passar bem depressa. é que estou com pressa de entrar de férias. estou cansada. e dias como o de hoje quando não é possível fazer coisa nenhuma ainda me deixam mais cansada. o tempo parece parado olho para o relógio e nada e assim fica tudo muito mais difícil. o que eu quero mesmo é poder fazer muita coisa. não consigo entender os que se queixam de excesso de trabalho. eu tenho pena é dos que não têm trabalho. e de todas as vezes que vejo o telejornal lá está mais um casal no desemprego sem possibilidade de cumprir as suas obrigações. e enquanto isso ouço o senhor constâncio falar de aumento de impostos. como ouvi um economista dizer é a maneira mais fácil de combater o déficit. mais uma vez roubar os contribuintes que de resto são sempre os mesmos quero dizer aqueles que não podem fugir com o rabo à seringa. este é o país que temos. este é o país que construímos e é escusado deitar as culpas para cima de quem governa porque eles são escolhidos pelo povo. logo somos senhores do nosso destino. vão-se safando como sempre os chicos espertos que conseguem viver sem pagar impostos e ainda recebem algum por conta dos que pagam demais. estou cansada. apetece-me um deserto. um deserto grande mesmo a sério. um deserto sem camelos. é que estou farta dos camelos com quem convivo todos os dias. é o que vou pedir ao pai natal. um deserto sem camelos.

22 novembro, 2009

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Bruno NogueiraCorpodormente Ok, já brincámos ao Inverno. Podemos voltar ao sol?

Lígia - Chico Buarque de Hollanda - (clica aqui)

Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou à Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol

E quando eu lhe telefonei
Desliguei, foi engano.
Seu nome eu não sei,
Esquecí no piano as bobagens de amor
Que eu iria dizer

O pai

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

(Pablo Neruda)

salve o anjo da guarda


decido ficar por casa e descansar o mais que puder. não é bem assim claro. é preciso fazer pela vida mas o dia começa bem uma vez que antes mesmo e preparar o pequeno almoço tento de novo o que não sei para pôr a arca frigorífica a trabalhar. nada. nem sinal. sentada já a tomar o pequeno almoço ouço um clique e as luzes vermelhas acendem-se. mais uma vez o meu anjo da guarda deu conta do recado. pode ser que não tenha razão mas que explicação se pode dar a um fenómeno destes? eu já a deitar contas à vida a pensar na compra de uma outra afinal esta já tem tantos anos seria natural que quisesse aposentar-se afinal ninguém é de ferro... e eis que assim sem mais nem menos ela me diz de repente estive só a descansar um pouquinho mas já estou pronta para continuar a trabalhar para ti. obrigada anjo da guarda que me deixaste o espírito livre para outras coisas que eu só de pensar nas deslocações que teria que fazer para escolher o que moais me convinha até já estava a ficar com suores frios. ainda por cima agora que anda toda a gente numa folia (suponho que eu recuso-me a entrar em hipermercados nesta altura aos fins de semana) e eu fico logo cheia de falta de ar não consigo ver nada para mim é uma doença. que bom que foi poder voltar para a cama e dormir mais um soninho descansado antes de me levantar leve como uma pena e tratar da minha vida. amanhã também é dia e a semana vai ser bem cheia. mas depois lá vem mais um período pequenino de descanso. viva pois o meu anjo da guarda.

21 novembro, 2009

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Ondjakiondjaki [ vou abençoar-me a silêncios | verter-me sob a boca de um berma abandonada. | vou pedir ao joão vêncio um repelente de mins... ]

A luz de tieta - Caetano Veloso (clica aqui)

Toda noite é a mesma noite
A vida é tão estreita
Nada de novo ao luar
Todo mundo quer saber
Com quem você se deita
Nada pode prosperar...

É domingo, é fevereiro
É sete de setembro
Futebol e carnaval
Nada muda, é tudo escuro
Até onde eu me lembro
Uma dor que é sempre igual...