afastei-me uns meses das redes sociais. compreendi que me fazem mal. ontem resolvi dar uma vista de olhos numa delas e a tristeza assolou-me de novo. publicado por uma pessoa de quem gosto muito estava um vídeo supostamente de londres. tudo o que se vê no vídeo são pessoas de todas as raças e credos religiosos. o que sempre me encantou nesta cidade. o reino unido como a frança têm hoje economias fortes graças a estes migrantes. londres nunca mais será a mesma depois do brexit. o que será dos funcionários ingleses fardados a rigor que tanto me encantavam no meio daquela mistura multi racial? porque é que as pessoas são tão influenciadas por gente como salvini ou andré ventura? será que ninguém percebe que é essa gente que pode salvar uma europa velha e gasta? será que essas pessoas que procuram uma vida melhor são intrinsecamente más? será que enfrentam viagens que os podem levar à morte para assaltarem os europeus? é crime ter uma religião diferente? é crime ter uma cor diferente? é crime falar outra língua? crime é fechar as portas a esta gente. e não reconhecer o bem que toda esta gente tem feito a uma europa que se está a suicidar. enquanto houver quem insista em fechar fronteiras e construir muros em vez de pontes.
Um blog do dia a dia, com muitas estórias, alguma poesia, música, fotografia, crítica, comentários... para desabafar, porque sem um grito ninguém segura o rojão!
15 setembro, 2019
14 junho, 2019
fico contente com o fim das taxas moderadoras
não me lembro de conhecer alguém próximo que goste de política como eu. não me lembro de alguém não torcer o nariz quando manifesto o meu interesse pelo tema. estou certa que se manifestasse o meu interesse por ciências ocultas seria inundada de perguntas sobre o tema. assim tudo o que consigo é passar por lunática e ser inundada por considerações como a política só serve para os políticos se encherem. pois bem a minha posição continua a ser a política faz parte do nosso dia a dia e dela depende em grande parte o bem estar de um povo. e é por isso que não dou o direito a queixar-se de um governo a quem não exerce o seu dever mais do que o direito de votar. só quem está apenas centrado no próprio umbigo se pode estar nas tintas para a política. tudo isto hoje a propósito do fim das taxas moderadoras. bem podem dizer que é uma medida eleitoralista. se é uma boa medida estou-me nas tintas para isso. como me estive na tintas para o eleitoralismo do regresso às 35 horas de trabalho semanal. na verdade o que esta geringonça tem conseguido com as suas medidas eleitoralistas é um melhor bem estar do povo em geral. não uso passe social há muitos anos e aplaudo mais esse eleitoralismo. claro que é preciso melhorar e muito a rede de transportes públicos mas roma e pavia não se fizeram num dia. a isenção de taxas moderadoras não é uma novidade. durante muitos anos os serviços do sns foram isentos. não somos o único país da europa onde a saúde pública vive apenas dos impostos cobrados aos cidadãos. as taxas moderadoras são um pagamento em duplicado por uma população que se encontra em termos remuneratórios acima do salário mínimo o que significa que basta ganhar um cêntimo acima do referido salário para ser obrigado a pagar em duplicado o mesmo serviço. e para quem defende que o sns vai afundar sem as taxas moderadoras posso lembrar que o número de funcionários necessários para este serviço é de tal modo elevado que libertos desta tarefa bem pode crescer o número de utentes (coisa que não me parece vir a acontecer). quem está doente tem o direito a ser tratado sem ter que pagar duas vezes o mesmo serviço. o espírito do sns está de volta. fico contente por isso.
15 fevereiro, 2019
o sns e os privados
há uns anos tive que fazer várias cirurgias na sequência de um acidente. comecei por ficar internada cinco semanas num hospital civil. durante três dessas semanas dei imenso trabalho à equipa de enfermagem. como eram poucos chegavam a estar todos juntos para me poderem tratar. miúdos impecáveis. após a primeira cirurgia continuaram a ter que cuidar de mim. o médico que me salvou a perna chegou a aparecer ao sábado à noite para ver os doentes que não tinha conseguido ver nas horas de trabalho. durante três meses fui vista em ambulatório pela equipa de enfermagem de ortopedia. o cirurgião que me tratou foi para barcelona melhorar os seus conhecimentos e eu fiquei um bocadinho entregue a mim mesma. fiz fisioterapia de segunda a sexta durante três anos e foi o fisioterapeuta que me aconselhou a procurar um ortopedista porque eu continuava com muitas dores. e foi este que me disse que procurasse o meu salvador. através da internet descobri que dava consultas numa clínica particular. voltei a ter consultas com ele e como ele operava num hospital particular com acordo com a adse combinámos que passaria a frequentar a dita clínica embora tivesse que fazer mais 100 km de cada vez que precisava de uma consulta. fui submetida a outras cirurgias nesta clínica. na mesa de cabeceira tinha uma bíblia da casa. explicava-se por escrito que a família dona do grupo é católica e por isso toma lá a bíblia para te entreteres. não tenho nada contra os católicos nem qualquer outra religião. somos seres pensantes e cada qual acredita (ou não) no que quer. mas ter a lata de ser dono de um grupo que vive da falta de saúde de cada um e receber os clientes desta maneira... balha-me deuje! ah! ao contrário do hospital civil aqui é comida era péssima!
14 fevereiro, 2019
quem tem saudades de salazar
muita gente usa as redes sociais para emitir opiniões baseadas em factos. mas não é possível formar uma opinião sobre o que quer que seja sem pensar. ou então (é o mais provável) usam-nas apenas para tentar influenciar opiniões. isto vem a propósito de algo que circula no fb e onde se diz que o nível de pobreza hoje em portugal é o mesmo que no tempo de salazar. todos sabemos que infelizmente há imensa pobreza. então comparemos alguns factos: no tempo de salazar portugal não era apenas o rectângulo que é hoje e mais onze pequenas ilhas. a pobreza nesse tempo não era o que é hoje. os pobres de hoje têm muitas vezes carro e bons telemóveis. hoje a pobreza é sobretudo de espírito. sei de gente que vai de mercedes à paroquia buscar as refeições. são os novos ricos de ontem transformados em novos pobres. sei que a vida está difícil para a maioria de nós mas quem acha que no tempo de salazar é que era bom que se lembre que apenas as classe sociais favorecidas tinham direito à educação e à saúde. com todos os defeitos hoje temos um sistema nacional de saúde que não nos envergonha e que serve os mais desfavorecidos sem lhes cobrar nada da mesma maneira que serve os mais abonados cobrando taxas de valores ridículos. temos acesso à educação pública para todos. o ensino superior está cada vez mais ao alcance de quem tem vontade de estudar. como era no tempo de salazar? quem tem saudades? os pobres de hoje ou os ricos de ontem?
13 fevereiro, 2019
da solidão e das demencias
daqui fala o vosso cliente de s. tenho várias chamadas vossas e gostaria de saber o que querem. pergunto quem poderia ligar. pedi um domicílio para a minha mulher e não veio cá ninguém. pergunto se precisa de um domicílio de enfermagem. não sei bem sabe é que a minha cabeça já não é o que era. peço um instante e vou tentar saber o que se passa. não foi pedido nenhum domicílio de enfermagem. procuro então perceber se algum médico teria sido chamado e percebo que a senhora foi visitada pelo médico no dia anterior. informo o senhor que o médico esteve lá. do outro lado o senhor acha estranho que não lhe tenha sido comunicado pelo telefone de que o médico iria lá. se soubesse teria ficado em casa. digo-lhe que tentámos contactar e que não atendeu. e é então que o senhor me diz que realmente tinha lá estado um rapaz novo que auscultou a mulher.
10 fevereiro, 2019
cobardia é calar
num país onde a violência doméstica mata todos os anos existem juízes que se referem às vitimas como se fossem culpadas. homens que deviam ser moralmente mais elevados que a maioria dos cidadãos portam-se como se vivessem na idade da pedra. homens (perdoem-me os homens de verdade) que se referem às mulheres como se elas fossem propriedade sua. como se não devessem ter vontade própria. como se fossem animais que apenas têm o direito de trabalhar e dizer que sim a todas as suas vontades. este é ainda um país onde a mulher é vista como um ser menor. onde os homens se sentem humilhados porque as suas mulheres são independentes e donas da sua própria vontade. um país onde a misoginia parece crescer em vez de desaparecer. encontro mais jovens misógino que homens mais velhos embora reconheça que os mais velhos não escapam. as mulheres não estão isentas de culpa quando acham que os maridos ou namorados lhes batem porque gostam delas. está na altura de as mulheres se darem mais valor. de não escolherem ficar com um homem por razões económicas. de não exporem os filhos a maus tratos. viver num t0 é melhor que viver num condomínio de luxo quando se trata de ganhar dignidade. por fim todos os que têm conhecimento e calam um crime de violência doméstica são coniventes. cobardia é calar. denuncie.
08 fevereiro, 2019
nunca perco tempo
não sei o que significa perder tempo. perco tempo quando crio algo que me fará ganhar tempo? não. gasto algum do meu tempo para mais tarde ganhar tempo. perco tempo quando ensino alguém que vai ganhar tempo com o que aprendeu? não. ganho tempo eu e a pessoa que quis aprender. perco tempo quando leio? não. ganho tempo e sonhos. aprendo com cada livro em que gasto muito do meu tempo. perco tempo quando me suspendo a olhar os meus gatos? não. estou a aprender coisas sobre eles. aprendo coisas com eles. perco tempo se dedico uma tarde a ouvir música? não. ganho poesia cantada. por último. será que perco tempo quando durmo? não. gasto tempo a descansar. nunca perco tempo. apenas gasto.
01 fevereiro, 2019
sou só um animal de companhia
o lugar onde me sinto melhor é a minha casa. gosto de estar rodeada dos meus livros de ouvir as minhas músicas e sobretudo gosto muito da companhia dos meus gatos. sempre pensei que eles eram os meus animais de companhia mas hoje descobri que eu sou o animal de companhia deles. brigam para estar junto de mim. ficam à espera de uma aberta para me saltarem para o colo esperam que eu adormeça para se deitarem em cima de mim... enfim sou a sua companhia e a sua escrava. tenho que os manter limpos alimentados e saudáveis. se alguma destas coisas faltar protestam. chamam-me se a ração acabou se a casa de banho não está impecável se querem companhia... pois é. agora pergunto-me como é que sendo eu um espírito livre aceito esta escravidão. é simples. afinal não passo de um animal de companhia.
28 janeiro, 2019
a indignação da procuradora
assim de repente a procuradora percebeu que há pessoas que vivem em bairros sociais a cair aos bocados. indignou-se. percebeu que há pessoas que passam horas em transportes. indignou-se, percebeu que há pessoas que vivem de limpar a porcaria que todos fazemos. indignou-se. a procuradora é uma et. e vive no país das maravilhas. posso dizer à senhora procuradora que durante mais de 30 anos me levantei de madrugada para estar em lisboa a trabalhar às 8 horas da manhã. em casa deixava três crianças que precisavam de cuidados. entrava em casa doze horas depois. para trás ficava um dia de transportes e de trabalho. havia que fazer o jantar dar banho às crianças ajud´-las com os tpc... posso ainda dizer à senhora procuradora que este país está cheio de mulheres com estórias semelhantes. algumas vivem em bairros sociais e outras vivem como eu e a senhora na linha de cascais. neste país e em muitos outros as pessoas vivem assim. há que ganhar o pão nosso de cada dia. é claro que muitos dos nossos emigrantes sobrevivem. e também é claro que os nossos imigrantes sobrevivem. não sei em que mundo vive a senhora procuradora que viveu do jornalismo (ainda vive?) e vem agora indignar-se com as pobres vidas dos emigrantes em portugal. como pensa a senhora procuradora que vivem as pessoas que lhe limpam a casa? e tantas outras que que trabalham para o bem comum? sabe que mais senhora procuradora? a mim o que me indigna é a sua indignação. faça algo de útil com ela e depois venha contar o que fez.
16 janeiro, 2019
estou tão aflita
às vezes sinto muito medo. os ladrões entram em casa e eu fico sem saber o que fazer. telefono à minha mãe (ou será a minha filha?) e digo-lhe que venha depressa salvar-me dos homens maus. e ela vem o mais depressa que pode. no outro dia matou-os todos num instante. fiquei tão admirada... já não me lembrava que ela sabia atirar. ainda bem que ela aprendeu. fico sempre mais descansada quando ela chega e os faz desaparecer. no outro dia fiquei muito triste. vi na televisão que ela morreu. ela e toda a gente que conheço. fiquei muito aflita. mas o pior é que estou farta de procurar pelo véu preto e não o encontro. terão sido os ladrões? e agora como é que eu vou ao velório de toda esta gente? como vou ao velório dela sem o meu véu preto? estou tão aflita.
15 janeiro, 2019
eram duas adolescentes nos anos 40. anos difíceis. anos de guerra. um dia decidiram que queriam ser enfermeiras. combinaram não contar nada aos pais. iam apresentar-se no hospital e pedir emprego. enfermagem parecia-lhes um verdadeiro paraíso. já se viam de farda e quepe. bem arranjadas graças a uma mãe que do quase nada fazia imenso dirigiram-se ao hospital de são josé em lisboa. à entrada o porteiro peguntou-lhes o que queriam. muito decididas lá explicaram que queriam ser enfermeiras. o homem sorriu e disse-lhes que duas meninas tão novas e tão bonitas deviam era voltar para casa porque enfermagem não era decididamente profissão que lhes servisse. as duas ainda tentaram argumentar. tratava-se de um sonho. queriam poder ajudar pessoas. o porteiro lá conseguiu que se fossem embora e que pensassem em casar e ter filhos que isso é que era serem felizes. e foi assim que ambas regressaram a casa sem contarem aos pais o que tinham ido fazer. acabaram os seus cursos comerciais e empregaram-se como secretárias. uma teve como patrão um importante advogado da praça lisboeta que lhe permitiu conviver com homens como aquilino ribeiro. parou de trabalhar quando casou. dedicou-se à família para o resto da vida e só muito tarde se arrependeu de ter deixado de trabalhar. a outra empregou-se num escritório de despachante oficial. acabou casada com o patrão que deixou a primeira mulher para viver com ela o resto da vida. esta nunca deixou de trabalhar. mais tarde foi funcionária do ministério dos negócios estrangeiros. às tantas pediu uma licença sem vencimento e foi para londres trabalhar. por lá viveu 30 anos. regressou a portugal depois da revolução dos cravos e aos negócios estrangeiros onde trabalhou até aos 70 anos. aos 90 ainda sonha com trabalho no seu delírio.
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