eram duas adolescentes nos anos 40. anos difíceis. anos de guerra. um dia decidiram que queriam ser enfermeiras. combinaram não contar nada aos pais. iam apresentar-se no hospital e pedir emprego. enfermagem parecia-lhes um verdadeiro paraíso. já se viam de farda e quepe. bem arranjadas graças a uma mãe que do quase nada fazia imenso dirigiram-se ao hospital de são josé em lisboa. à entrada o porteiro peguntou-lhes o que queriam. muito decididas lá explicaram que queriam ser enfermeiras. o homem sorriu e disse-lhes que duas meninas tão novas e tão bonitas deviam era voltar para casa porque enfermagem não era decididamente profissão que lhes servisse. as duas ainda tentaram argumentar. tratava-se de um sonho. queriam poder ajudar pessoas. o porteiro lá conseguiu que se fossem embora e que pensassem em casar e ter filhos que isso é que era serem felizes. e foi assim que ambas regressaram a casa sem contarem aos pais o que tinham ido fazer. acabaram os seus cursos comerciais e empregaram-se como secretárias. uma teve como patrão um importante advogado da praça lisboeta que lhe permitiu conviver com homens como aquilino ribeiro. parou de trabalhar quando casou. dedicou-se à família para o resto da vida e só muito tarde se arrependeu de ter deixado de trabalhar. a outra empregou-se num escritório de despachante oficial. acabou casada com o patrão que deixou a primeira mulher para viver com ela o resto da vida. esta nunca deixou de trabalhar. mais tarde foi funcionária do ministério dos negócios estrangeiros. às tantas pediu uma licença sem vencimento e foi para londres trabalhar. por lá viveu 30 anos. regressou a portugal depois da revolução dos cravos e aos negócios estrangeiros onde trabalhou até aos 70 anos. aos 90 ainda sonha com trabalho no seu delírio.
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