05 junho, 2007

Baixo-relevo


Dentro de um secular sossego
nós somos
a escultura de amanhã
(trilhos de formiga
descem no cabelo
patinado de pó o coração)


Tu e eu
só estátuas de amanhã
Não temos na mão a flor
um livro uma espingarda
uma cadeira gasta onde morrer
E sem o monstro gótico apunhalado aos pés


(Todos os sonhos são de pedra ou bronze
não os meus de palha ou papel)


Tu e eu
baixo-relevo
vendidos tocados expostos em vida
perseguidos pelos milionários
e pelos mortos talvez que invadiram já
o pedestal das estátuas


Tu e eu
elípticos de sexo
ontem gritada no teu peito
hoje secreto no meu ventre


deserdados da sombra
já sem gesto
escultura de amanhã

(Luiza Neto Jorge)

2 comentários:

Bartolomeu disse...

Achei extraordinária a imágem...
Tu e Eu
elípticos de sexo

Pensei sempre no sexo asociado a uma imagem diferente, a espiral. Só agora compreendi que estou errado, a espiral, à partida traduz um sentido de turbilhão que efectivamente poderá ter uma relação directa com as emoções durante o sexo. Mas o sentido da espiral, termina em afastamento. Contráriamente o sentido da elipse, mantem a distância constante entre dois pontos e o foco... o que presupõe um 3º elemento, que pode ou não ser estranho ao conjunto.
:))))))
Hoje estou muito inspirado, estou, estou.

Maria Eduarda disse...

Inspiradíssimo! Como sempre!