Dentro de um secular sossego
nós somos
a escultura de amanhã
(trilhos de formiga
descem no cabelo
patinado de pó o coração)
Tu e eu
só estátuas de amanhã
Não temos na mão a flor
um livro uma espingarda
uma cadeira gasta onde morrer
E sem o monstro gótico apunhalado aos pés
(Todos os sonhos são de pedra ou bronze
não os meus de palha ou papel)
Tu e eu
baixo-relevo
vendidos tocados expostos em vida
perseguidos pelos milionários
e pelos mortos talvez que invadiram já
o pedestal das estátuas
Tu e eu
elípticos de sexo
ontem gritada no teu peito
hoje secreto no meu ventre
deserdados da sombra
já sem gesto
escultura de amanhã
(Luiza Neto Jorge)
2 comentários:
Achei extraordinária a imágem...
Tu e Eu
elípticos de sexo
Pensei sempre no sexo asociado a uma imagem diferente, a espiral. Só agora compreendi que estou errado, a espiral, à partida traduz um sentido de turbilhão que efectivamente poderá ter uma relação directa com as emoções durante o sexo. Mas o sentido da espiral, termina em afastamento. Contráriamente o sentido da elipse, mantem a distância constante entre dois pontos e o foco... o que presupõe um 3º elemento, que pode ou não ser estranho ao conjunto.
:))))))
Hoje estou muito inspirado, estou, estou.
Inspiradíssimo! Como sempre!
Enviar um comentário