18 maio, 2007

OS ANJOS


Quando, no texto com o título, " Livros, esses sempre disponíveis amigos ", que podem ler a seguir, escrevi a palavra " anjos ", entra-me pela sala Manuel Bandeira, com o seu olhar sempre doce, meigo, compreensivo, mas meio aborrecido, a dizer-me:
- Mas então, isso dos anjos, acreditas?
- Acredito Manuel, os anjos são amigos, tenho amigos que são anjos...
- Mas então o meu poema, conheces?
- Claro que conheço, é lindo:
" Jaqueline morreu menina.
Jaqueline morta era mais bonita do que os anjos.
Os anjos!
Bem sei que não os há em parte alguma.
Há é mulheres extraordinariamente belas
Que morrem ainda meninas.
Houve tempo em que olhei para o teu retrato de menina
Como olho agora para a pequena imagem de Jaqueline morta.
Eras tão bonita!
Tão bonita...
Que merecerias morrer na idade da Jaqueline.
Pura, com Jaqueline. "
- Vês como me lembro do teu poema? Vês como não te enganaste? Que os anjos são puros?
- Tens razão, sim - disse o Manuel - São puros.
- E eternos, como o teu poema.
Manuel Bandeira lá foi. Terno. Grande poeta. Poesia de anjo...
Eduardo Aleixo

Sem comentários: