26 março, 2007

POEMA DE LUIS DE CAMÕES

Aqueles claros olhos que chorando
Ficavam, quando deles me partia,
Agora que farão?Quem mo diria?
Se porventura estão em mim cuidando?


Se terão na memória, como ou quando
Deles me vim tão longe de alegria?
Ou se estarão aquele alegre dia
Que torne a vê-los, na alma figurando?


Se contarão as horas e os momentos?
Se acharão num momento muitos anos?
Se falarão c'oas aves e c'os ventos?


Oh, bem-aventurados fingimentos,
Que nesta ausência tão doces enganos
Sabeis fazer aos tristes pensamentos!

( Luís Vaz de Camões, in Cem poemas portugueses do Adeus e da Saudade, Selecção organizada por José Fanha e José Jorge Letria )

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