18 dezembro, 2006

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(quem ler, saberá a quem é dedicado... porque ambas amamos Alda Lara)

Trago os olhos naufragados
em poentes cor de sangue...

Trago os braços embrulhados
numa palma bela e dura
e nos lábios a secura
dos anseios retalhados...

Enrolada nos quadris
cobras mansas que não mordem
tecem serenos abraços...
E nas mãos, presas com fitas
azagaias de brinquedo
vão-se fazendo em pedaços...

Só nos olhos naufragados
estes poentes de sangue...

Só na carne rija e quente,
este desejo de vida!...

Donde venho, ninguém sabe
e nem eu sei...

Para onde vou
diz a lei
tatuada no meu corpo...

E quando os pés abram sendas
e os braços se risquem cruzes,
quando nos olhos parados
que trazem naufragados
se entornarem novas luzes...

Ah! Quem souber,
há-de ver
que eu trago a lei
no meu corpo...


(Alda Lara)

2 comentários:

Unknown disse...

Não conheço Alda Lara. É um poema muito belo.
EA

Unknown disse...

E é... uma lei perfeita, como deviam ser todas as leis, sem dúvidas, muito menos de inconstitucionalidades...

EA