19 dezembro, 2006

Por trás de tudo o que importa é o sentido da vida


É uma delícia poder viver o dia a dia num país que nada tem para oferecer e chegar ao fim do dia, feliz... porque mudei de vida há uns anos...
Pois é: a minha vida não mudou quando casei, quando me divorciei, quando mudei de emprego ou quando mudei de casa... a minha vida mudou quando eu decidi viver a vida, agarrando todos os pequenos momentos que ela me oferece e deitar para trás das costas o que me aborrece e que no fundo não tem qualquer importância...
A minha vida mudou, quando eu decidi viver. Quando decidi olhar para o que me rodeia, conversar com desconhecidos, sejam pessoas comuns ou sem abrigo... A minha vida mudou quando percebi que o sol, bem aproveitadinho, pode dar-me um prazer imenso, se utilizar os meus cinco sentidos... o mesmo acontece com a chuva, o mar, os rios, lagoas, casas... naturezas campestres ou urbanas, tanto faz... desertos ou mares... planícies ou montanhas, sol ou neve... tudo tem uma beleza. Podemos passar todos os dias pela mesma estrada e todos os dias ela estará diferente. Como dizia o meu querido Professor Agostinho da Silva "um homem nunca passa duas vezes pela mesma ponte; quando vai é um homem e uma ponte e quando volta nem o homem nem a ponte são os mesmos..." E basta perceber uma coisa tão simples quanto esta para se mudar de vida.
A minha vida mudou quando percebi que tomar decisões sem olhar para trás, tomar decisões de que não me viesse a arrepender me dava tranquilidade... A minha vida mudou quando percebi que é possível viver sem remorsos... A minha vida mudou quando percebi que é bom viver com saudades... A minha vida mudou quando percebi que tudo o que eu devia ter aprendido na vida, tudo o que realmente importa, o que pode dar sentido à vida, aquilo a que muitos chamam de "chave da felicidade", o meu pai me ensinou, porque não tive jardim de infância...
Tenho no guarda roupa apenas a roupa necessária. Desfiz-me de tudo o que não usava e costumava juntar. Agora o meu guarda roupa dá gosto, quase vazio. Em compensação o número de estantes tem aumentado e o espaço para arrumar música também.
Gosto de passear e gosto de sair com os amigos... mas como gosto de estar em casa, com os meus livros, a minha música, as minhas coisas! Por isso quando a minha querida Lena me perguntou hoje, quando saí do emprego mais cedo do que o costume se ia às compras e eu respondi que ia para casa ela ficou admirada... diz que estar muito tempo em casa lhe dá falta de ar. A mim o que me dá falta de ar são os centros comerciais cheios de gente... isso é que me dá falta de ar!
E foi assim que, mais uma vez, consegui assistir ao espectáculo do pôr-do-sol. Daqui a nada os dias começarão a crescer e já não terei que "correr" para não perder um dos meus espectáculos preferidos: ver o sol emergir de manhã no Tejo e mergulhar no mar ao fim da tarde...
Para além disso o Daniel fez-me outra visita e já se sabe que o meu xodó por ele não é algo sem importância... aquele puto faz-me um bem!
É por isso que eu gosto de viver... porque cheguei ao fim de "A vida Nova" e descobri que a referida vida é a morte. Então não quero uma vida nova, quero a minha, e farei com ela o que puder para me sentir bem e sentir que quem me rodeia, pelo menos está em equilíbrio. E não vou permitir mais que alguém me desestabilize como permiti no passado. É só isso que eu espero da vida.

1 comentário:

Unknown disse...

Adorei o que escreveste, Eduarda.É muito bom conhecer uma pessoa como tu.E ter o privilégio de ser teu amigo.

EA