14 junho, 2006

Ainda Salvaterra de Magos


O que existe de mais bonito na terra, é sem dúvida o rio Tejo.
Tenho percorrido muitas vezes os recantos maravilhosos, escondidos de quem passa na estrada. São verdadeiros oásis, sobretudo no Verão, quando as temperaturas ultrapassam muitas vezes os 40º e a secura do clima, faz com que o calor se sinta ainda mais.
São pedacinhos de paraíso, apenas conhecidos das pessoas da terra ou dos que a ela estão ligados por uma ou outra razão.
Havia, à saída de Salvaterra uma casa, pertença da minha família, que era conhecida como a casa da Vala, exactamente porque ficava junto à vala por onde entram as embarcações (hoje pequenos iates e veleiros de gente endinheirada), e noutros tempos das que faziam o transporte de gente e mercadorias entre Salvaterra de Magos e Lisboa.
Segundo as pessoas que ainda usaram este meio de transporte (tempos houve em que era mesmo o único!) a viagem era muito rápida: cerca de 13 horas, quando a viagem corria de feição!
A casa da Vala foi demolida. Estava a cair de podre e ninguém se importou com isso. Agora que ela foi demolida e no mesmo espaço se ergueu uma espécie de Centro Cultural com um anfiteatro com 70 lugares sentados, um pequeno museu do rio, um espaço para exposições e um ciberespaço com computadores que podem ser usados por quem quer que seja, mais um café num edifício adjacente e uma marina em condições, levantam-se as vozes discordantes.
Faz parte da nossa cultura: somos avessos a novidades. Mudanças não são coisa que nos entusiasme. Gostamos de dizer mal do que é novo.
Eu sinto uma certa nostalgia quando penso que não mais verei a Casa da Vala, senão nas imensas fotografias que fui tirando ao longo do tempo em que a conheci (e eu conheci-a sempre em ruínas.) Mesmo quando esteve ocupada por uma família cigana, esta nada fez para impedir que a passagem do tempo acabasse com ela de vez.
Foi demolida a Casa da Vala. Mas eu continuo a vê-la. Só que agora ela se tornou útil a uma comunidade que tem mesmo que pensar nos seus jovens e dar-lhes espaços onde se possam encontrar, conviver e aprender.
A Casa da Vala viverá para sempre na minha memória. É quanto me basta.

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