Um blog do dia a dia, com muitas estórias, alguma poesia, música, fotografia, crítica, comentários... para desabafar, porque sem um grito ninguém segura o rojão!
25 março, 2011
Adoniran Barbosa e Elis Regina - Saudosa Maloca (clica aqui)
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.
"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.
Assim o amor
Assim o amor
Espantado meu olhar com teus cabelos
Espantado meu olhar com teus cavalos
E grandes praias fluidas avenidas
Tardes que oscilam demoradas
E um confuso rumor de obscuras vidas
E o tempo sentado no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos
Em vão busquei eterna luz precisa
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
adeus antónio
não o via há treze anos e apesar da minha má memória visual reconheço imediatamente a sua figura extremamente magra. entra na carruagem e apesar de vários lugares vagos onde se pode sentar atravessa a carruagem para dar umas moedas ao homem que vinha a tocar um instrumento artesanal mistura de teclado e ferrinhos que lamento não ter fotografado. reparo que é o único na carruagem que dá dinheiro ao homem e este deseja-lhe felicidades e bênçãos. encosta-se então e posso observar melhor este médico que não exerce a sua profissão há muitos anos por ser portador de doença psíquica que o impede de o fazer. durante anos vi-o assinar o livro de ponto desenhando flores e agora vejo-o com um fato completo um pouco amarrotado e sujo mas apesar de tudo lembro-me de o ter visto com um ar bem mais indigente há muitos anos quando percorria a linha de lisboa a cascais a pé carregado de sacos. tantas estórias teria para contar deste homem com aspecto quixotesco. olho mais uma vez. acho-o mais magro ainda. mantém a cabeleira mas desta vez mais cuidada do que há uns anos. sai na baixa chiado e eu penso se terão conseguido ao fim de todos estes anos que se reformasse... esta é uma das muitas estórias que poderia contar aqui (quem sabe um dia me passe esta preguiça de escrever...) mas agora que já saí do metro e estou num comboio completamente cheio porque é dia de greve no sector não me apetece nada senão olhar o par que dança junto à estação fluvial de belém... e tentar adivinhar o que os faz dançar à beira rio na capital de um país à beira do abismo. adeus antónio. até um dia destes.
05 março, 2011
o melhor do twitter
chicolatras "Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia; Quem brincava de princesa acostumou na fantasia"
Samba de Um Minuto - Roberta Sá (clica aqui)
Era isso mesmo
exílio
descubro assim sem mais nem menos o nome para esta sensação que se me pegou à pele há tantos anos. houve quem lhe chamasse solidão eu chamava-lhe tristeza e não sabia de onde vinha esta dor esta mágoa este vazio que nada nem ninguém resolvia. é certo que tenho dias em que a sensação parece diluir-se como aquela dores de cabeça fortíssimas que se transformam em incómodo porque estão lá sentimo-las mas depois de doerem tanto é como se quase não existissem. mas depois volta com toda a força e eu assim sem mais nem menos tomada de uma dor imensa de um vazio completo percebo que só há um nome para esta "coisa" que toma conta da minha alegria e a deitou para o lixo como sem ela não fosse tudo o que me restava. como se não se tratasse do meu alimento diário. e adoeci. os médicos depois de terem levado metade das suas vidas a estudarem olham-me com a segurança de quem sabe o que está a dizer e dão-lhe um nome. um nome que está na moda porque não percebem que eu me estou nas tintas para a moda como me estou nas tintas para quase tudo. dizem-me que eu sofro de depressão e acham que é normal. afinal vivo num país depressivo. e medicam-me. consigo escapar por pouco ao envio para um especialista. conheço-os há 30 anos. aos especialistas claro. desde que me diagnosticaram pela primeira vez ainda não estava na moda e eu acreditei. acreditei porque era uma coisa fora de moda como eu. combinava comigo. tudo batia certo. mas agora não me assentava. não assenta. e descubro absolutamente por acaso o nome desta dor imensa que carrego há tantos anos. exílio.
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