04 janeiro, 2010

tive tanta vontade de bater

eu nem queria acreditar. afinal estamos no ano da graça de 2010 em portugal no concelho de oeiras tido como aquele onde existe a maior percentagem de licenciados do país. eu não quereria acreditar se estivesse num qualquer bairro de lisboa ou do porto ou da periferia. eu não quereria acreditar se estivesse em qualquer canto do país. mas estava eu no meu sossego a arrumar a carteira na mala depois de ter comprado o meu passe na estação da cp de oeiras quando percebi que na bilheteira ao lado havia alguém que estava muito alterado. atrás desse alguém estavam dois polícias e do lado de lá do vidro um funcionário da cp que estava a levar um daqueles raspanetes porque pelos vistos não tinha tratado o cliente à sua frente com todas as cortesias devidas. o homem gritava você sabe com quem está a falar olhe que não fala comigo como quem fala com o homem do talho ou com o pedreiro pois eu sou licenciado. como não assisti ao início da altercação suponho que o funcionário não terá tratado o digníssimo licenciado por doutor naturalmente porque ele se esqueceu quando saiu de casa hoje de o escrever na testa. tive muita vontade de perguntar àquela criatura em que é que ele era mais do que o homem do talho ou o pedreiro. tive vontade de lhe perguntar se sabia qual o grau académico do funcionário que o estava a atender. tive vontade de lhe perguntar se ele ainda estava no portugal de salazar onde existiam portugueses de primeira e de segunda. tive vontade de lhe perguntar se ele poderia viver sem o homem do talho ou sem o pedreiro. tive vontade de lhe perguntar tanta coisa... mas sobretudo tive vontade de lhe bater.

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