30 setembro, 2009

Sobre outros lábios


Eu crescia para o verão

para a água

antiquíssima da cal

crescia violento e nu.



Podiam ver-me crescer

rente ao vento

podiam ver-me em flor,

exasperado e puro.



À beira do silêncio,

eu crescia para o ardor

calcinado dos cardos

e da sede.



Morre-se agora

entre contínuas chuvas,

os lábios só lembrados

de um verão sobre outros lábios



(Eugénio de Andrade)

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