09 maio, 2009

tenho saudades pai


lembro-me todos os dias de ti. acordo e deito-me contigo. no meu peito a saudade há-de morrer quando eu partir de vez. e é assim que dou comigo muitas vezes a usar expressões engraçadas e que eu julgava esquecidas. um dia destes falava-se de panoramas bonitos e eu saí-me com o teu "panorama esturpendente". não sei onde aprendeste ou se inventaste a palavra. sei que pôs toda a gente a rir como me fazia rir a mim quando era menina e me pegavas ao colo para eu ver melhor o tal "panorama esturpendente" de algumas muralhas mais altas a que o meu tamanhinho não chegasse. a quantidade  de expressões engraçadas era tanta que tenho dificuldade em recordar quando quero. mas quando se fala em alguma coisa relacionada as palavras voltam com toda a sua força e eu vejo-te ainda como quando era menina e tu fumavas cachimbo... que saudades pai do cheiro do tabaco que fumavas. sabes... hoje quando saí para almoçar com uma colega veio-me ao nariz o odor a terra molhada. aquele cheiro que me leva de volta à infância e então eu disse à minha colega este cheiro faz-me lembrar Luanda quando chovia. cheirava sempre assim não é como cá que só quando o tempo aquece o cheiro se faz sentir. e então vi-me de novo pequenina a passear de mão dada contigo e tu sempre com aquelas brincadeiras. lembras-te quando passávamos pela agência funerária tu dizias sempre baixa-te filha. e eu baixava. sem saber porquê. só porque tu dizias que me baixasse. e nos meus 4 anos eu achava que tudo o que tu dizias era assunto sério. mas um dia perguntei-te porquê. e tu respondeste para não te tirarem as medidas. não percebi. não sabia sequer para que servia um caixão. aos 4 anos a morte não existe e os pais são eternos... quem dera não ter percebido nunca o sentido da tua brincadeira. tenho tantas saudades hoje pai.

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