09 maio, 2009

Requiem por muitos Maios


Conheci tipos que viveram muito. Estão 
mortos, quase todos: de suicídio, de cansaço. 
de álcool, da obrigação de viver 
que os consumia. Que ficou das suas vidas? Que 
mulheres os lembram com a nostalgia 
de um abraço? Que amigos falam ainda, por vezes, 
para o lado, como se eles estivessem à sua 
beira? 

No entanto, invejo-os. Acompanhei-os 
em noites de bares e insónia até ao fundo 
da madrugada; despejei o fundo dos seus copos, 
onde só os restos de vinho manchavam 
o vidro; respirei o fumo dessas salas onde as suas 
vozes se amontoavam como cadeiras num fim 
de festa. Vi-os partir, um a um, na secura 
das despedidas. 

E ouvi os queixumes dessas a quem 
roubaram a vida. Recolhi as suas palavras em versos 
feitos de lágrimas e silêncios. Encostei-me 
à palidez dos seus rostos, perguntando por eles - os 
amantes luminosos da noite. O sol limpava-lhes 
as olheiras; uma saudade marítima caía-lhes 
dos ombros nus. Amei-as sem nada lhes dizer - nem do amor, 
nem do destino desses que elas amaram. 

Conheci tipos que viveram muito - os 
que nunca souberam nada da própria vida. 

(Nuno Júdice)

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