deparo com a conclusão do passeio de Alcântara e penso que uma coisa tão simples deu logo um ar mais lavado à zona. apesar dos barracões que continuam ali a verdade é que fica-se com uma sensação de largueza quando se sai do subterrâneo escuro de acesso à estação de Alcântara Mar onde de resto hoje não estava o cego que todas as manhãs anima com música arrancada do seu acordeão os passageiros que por ali passam. penso se estará doente ou se simplesmente mudou de poiso uma vez que faz calor e já não precisará de suportar a segunda cegueira daquele subterrâneo para se defender do vento e da chuva. porque para se defender do sol qualquer árvore ou toldo lhe servirá... sigo pois pelo novo passeio apreciando a sua largueza. à porta da estação de Alcântara Terra existe uma espécie de quiosque transformado em bar que até conseguiu uma espécie de esplanada se bem que sem cadeiras ou bancos. duas mesas altas fazem as vezes... deparo-me com um grupo de homens que bebem cerveja em copos de plástico. penso estes ainda não acabaram noite. de súbito reparo que um deles puxa para si um rapaz mais novo e o beija na boca. não é um beijo de amor. é um beijo cheio de lascívia um beijo que roça o pornográfico. é um beijo selvagem. retenho a imagem mas não consigo sentir-me chocada. acho a coisa normal. depois o rapaz afasta-se do homem e a sua cara denota um certo nojo. penso que eu também deveria sentir aquele nojo. mas não sinto. então outro homem puxa o rapaz para si. dá-lhe um, beijo na cara e um abraço como quem pede desculpas. sigo o meu caminho. fico com a sensação de que fui a única pessoa que viu realmente o que aconteceu. todos os outros passam com pressa como se a sua vida dependesse da chegada ou partida do próximo comboio.
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