deixei-te porque te amava demais. pediste a verdade aqui tens. tudo o resto é mentira. tudo o que inventei para que me deixasses seguir com o plano que tracei. e é muito simples. queres saber agora. digo-te. pretendo apenas viver. viver sem me sentir doente. viver respirando a plenos pulmões. viver viajando para os lugares que quero conhecer. ver os filmes que eu quero. ler os livros que desejo. estar com os meus amigos. recuperar tudo o que o amor excessivo que te dediquei ou aquilo que eu pensava ser amor mas não era. era qualquer coisa de muito excessiva. qualquer coisa que me roubava o sono e a fome. qualquer coisa que só me dava sede. uma sede imensa diante do mar. o meu plano é pois apenas viver. assim. sem excessos. tranquila. capaz de me amar a mim mesma mais do que a qualquer coisa no mundo. ou talvez não. de qualquer modo quando fui capaz de parar consegui perceber que o que sentia por ti se tornou numa enorme obsessão. numa eterna dependência. num jogo que eu perdia todos os dias. uma mágoa que foi crescendo dentro de mim. uma amargura que ao princípio eu trancava dentro de mim. mas depois não podia mais sufocar a dor. o nó na garganta. a vontade de gritar frente ao mar. a vontade de estar só enrolada sobre mim mesma. voltar a ser apenas eu. a ser apenas um feto. viver protegida num saco de água morna. durante algum tempo estive assim. imóvel. não ouvia não via não me mexia. deixava-me embalar pelo vai e vem da água em que mergulhara. depois emergi. pouco a pouco fui abrindo os olhos e dediquei-me a escutar de novo. pouco a pouco fui abrindo os meus sentidos para a vida. pouco a pouco voltei a viver. voltei a rir. descobri-me muito mais interessante do que pensava e descobri porque me tinhas amado tanto. então descansei.
1 comentário:
bonito Mé, bem rebuscado, nota-se grande inspiração, bravo!
:-)
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