26 fevereiro, 2009

o comboio de Porto Amboim


acampámos pois na zona de Porto Amboim a uns quilómetros da cidade (julgo que na altura ainda era uma vila). o meu pai tinha sempre a preocupação de acampar perto de rios sempre que possível, por causa do abastecimento de água ao acampamento. muitas vezes a água não se podia beber mas dava para cozinhar e tomar banho... a maior parte das vezes. o rio que corria por ali e de que não lembro o nome continha caramujos portadores de vermes que propagam uma doença chamada bilharsiose. o meu irmão foi um dos contaminados e sofreu um bom bocado uma vez que a doença para além de ser dolorosa pode ser mortal. felizmente por ali havia um médico mais do que habituado a lidar com a doença. fomos todos proibidos de tomar banho de rio e usar a água sem que fosse bem fervida ou desinfectada. portanto ficámos com muito pouco que fazer quando nos proibiram o rio. passávamos o dia inventando novas brincadeiras enquanto esperávamos o momento alto do dia. a passagem do comboio de Porto Amboim que passava não muito longe do acampamento antes de uma elevação no terreno que não passava de um pequeno monte que para aquele comboio se transformava numa montanha. portanto ao fim da tarde íamos esperar o comboio que por ali não tinha apeadeiro algum mas que parava sempre porque sendo movido a lenha não era capaz de transpor o obstáculo à sua frente. então os passageiros todos saíam e é claro que eram indígenas da região que usavam regularmente o comboio entre as suas sanzalas e as roças onde trabalhavam. juntavam-se então todos para empurrar o comboio. era uma espécie de passatempo para nós ver o comboio andar não a lenha mas a força humana. passado o obstáculo tinham que apanhar o comboio em andamento ou ficavam pelo caminho. naquela região os homens casados limitavam-se a ficar sentados todo o dia à sombra de uma árvore enquanto as mulheres trabalhavam para eles nas pequenas roças de algodão ou café. quanto mais mulheres tivessem maior o rendimento. e aqui fica a estória tão proclamada e se calhar com pouca graça agora vista à distância do comboio de Porto Amboim.

2 comentários:

Flip disse...


tem a sua graça, o facto é que o combóio era um acontecimento e motivava brincadeiras, prendia a vossa atenção e era até uma atracção...esperavas por esse momento para te divertires...e essa dos machos sentados com as madamas a trabalhar é típico do africano...adorei
bjs

Maria Eduarda disse...

Obrigada Filipe. O serviço de mensagem está mesmo à direita de quem fala no eevelope, ok? e pára lá de te esconderes por trás dessa foto... até pareces o Manoel Oliveira...