Gostaria de não ter que voltar a falar da tragédia dos clandestinos africanos que tentam alcançar o sonho europeu que se transforma muitas vezes (demasiadas), no pior dos pesadelos. As mortes ocorridas na costa espanhola em embarcações vindas do Norte de África esta semana são, como disse Zappatero uma tragédia, um desespero a que é preciso dar resposta. E a resposta está em resolver os problemas em África. É inadmíssivel que num jantar dos G8 se gastem fortunas só em garrafas de vinho, quando todos sabemos que apenas com € 5,00 se cura um doente com lepra (que existe em África aos milhares). É inadmíssivel, é chocante é uma vergonha para os países mais ricos do mundo que gastam fortunas num só jantar que daria para alimentar centenas de pessoas em África por vários dias. É que, para quem não sabe, a alimentação dos africanos é baratíssima. Mas é claro que todos sabemos disto, não é novidade. Assim como não é novidade a atitude dos G8.
Seria muito bom que não tivesse que voltar aqui para falar destas tragédias que à força de acontecerem com tanta frequência, deixam de ser tragédias e passam a fazer parte do comum de todos os dias.
É a vida infelizmente. São notícia todos os dias as mortes por acidentes, por erros médicos por desastres ambientais, mas a morte de africanos no mar começa a passar-nos ao lado. E não devemos deixar que isso aconteça. Hoje morreram nove crianças africanas cujos pais tentavam chegar com elas à Europa. Não se percebe como conseguem sobreviver estes africanos. Mas a verdade é que nos seus países também não sobrevivem. Conheço um senegalês que é bibliotecário. Tirou uma licenciatura e esteve durante 3 anos a trabalhar em Lisboa na construção civil. Teve a sorte de conseguir que um professor português em Dakar conseguisse que ele voltasse para trabalhar na Universidade daquela cidade...
Sabemos que há muita gente de leste a trabalhar em Portugal em empregos mal remunerados, como domésticas ou na construção civil ou fazendo outros trabalhos que os portugueses não aceitam. Gente qualificada, com cursos superiores que fazem qualquer trabalho para sobreviver. Sei que esses também tiveram que deixar os seus países para poderem sobreviver... mas os riscos que correm mesmo para entrar clandestinamente noutros países mais desenvolvidos é quase inexistente.
Não podemos deixar que o drama dos clandestinos africanos continue. Zappatero tem razão. É preciso, é urgente, é para ontem, ajudar África a tornar-se independente do resto do mundo.
É preciso que se concretize em África o provérbio chinês: temos que os ensinar a pescar em vez de lhes dar peixe.
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