25 junho, 2008

Os miúdos da minha rua... bateu a saudade.


Tive a sorte de crescer em África... onde tudo é grande: as planícies, as montanhas, os desertos, a riqueza e a miséria. Mas quando eu era miúda não pensava nisto. Aquele era o sítio onde eu vivia e onde gostava de viver e nem sequer punha a hipótese remota de algum dia vir a viver noutro lugar, onde não tivesse calor o ano inteiro, e ruas para brincar e terrenos baldios para enfrentar inimigos e liberdade para inventar as brincadeiras com os meus amigos e com o meu irmão. Se o circo fazia temporada na cidade era certo que durante algum tempo fazíamos todas as acrobacias dos artistas de circo. Com 7 anos eu poderia ter dado uma óptima contorcionista já que conseguia fazer parecer que o meu corpo não tinha ossos e se podia dobrar como eu quisesse e muito bem me apetecesse.
Por altura dos festivais de canção, fazíamos nós os nossos festivais e os rapazes chegaram a inventar muito antes dos concursos de Miss Portugal uma coisa assim tipo a miúda mais gira da rua. Neste concurso só entravam raparigas já adolescentes... até porque eu era a única rapariga da idade dos miúdos da minha rua e preferia mil vezes as brincadeiras deles... quer dizer eu nunca aprendi a brincar como era suposto uma menina brincar. Não sei se por falta de companhia de meninas ou se, porque pura e simplesmente gostava de brincar com os meus amigos: os miúdos da minha rua que ainda hoje recordo, um por um, com o nome e o rosto que cada um deles tinha. E quando mudei de rua continuei a brincar com os meus amigos... os da minha primeira rua. E hoje como muitos outros dias, bateu uma saudade.

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