22 abril, 2008

Dias claros


Eu tenho os dias claros
de sucessivas luas de Setembro
e a noite que me impõe sinalizar
as direcções cruzadas das mensagens verticais.

Eu estou parado no meio do terreiro
pastado dos meus passos e da minha gente,
ando a ganhar noções de translaçãoe a medir,
pra meu governo, a cor do sol.

Eu entardeço, sobretudo, pouco atento ao vento
que não devo perturbar na sua rota alheia.
Permito, quando muito, que me sinta o cheiro
e deixo-o desfazer, furtivamente, molhos já secos de memória fêmea.

Eu finjo que não sei de elásticas tensões da claridade
e a cada passo meu faço estalar
membranas frias que a tarde debruou em rente azul.

Entendes, companheiro,
eu estou aqui sentado e nu
a procurar não ir além da bárbara carícia
de um olhar sem tacto

e que nem uma lágrima machuque
a capa muito fina da lembrança
que tenho para dar-te.

(Ruy Duarte Carvalho)

2 comentários:

Dauri Batisti disse...

Nem me pergunte como cheguei aqui. Cheguei. Estou espiando, espiando, lendo, rindo, gostando.

Um abraço.

Maria Eduarda disse...

Espie, espie, espie sempre... que quiser, o que puder. Sinta-se em casa.
Um abraço