22 agosto, 2007

Esta mulher


Essa mulher com uma metáfora no ventre:
Choro e marcha e vestido e calças;
Leveza e cicatriz nos olhos:
Mulher como sempre própria para vestígio e monumento.

Queria e conseguia bandeira abrindo alas
Quando bandeiras atravancavam;
E fotografias e o nome sem predicados de macho:
Era uma mulher falada.

Aí não era de graça e danava a circular modinhas;
Adormecia com os lábios mádidos
Desacostumada de cegueira e mudez
E testemunha de um futuro para todos os lados.

Se alimentava de verde e tinha uma fome de água;
Era uma mulher azul
Com litígio no bailado dos dedos
E uma batuta própria para batucada.

Aconteceu de morrer e de a metáfora nascer
E esta suor e multiplicidade
E máquina e mãe
Tálamo da alma, sozinha e acompanhada.

(Jamesson Buarque)

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