Estamos todos bem servidos
de solidão.
De manhã a recolhemos
do saco, em lugar de pão.
de solidão.
De manhã a recolhemos
do saco, em lugar de pão.
Pão é claro que temos
(não sou exageradão)
mas esta imagem do saco
contendo um pequeno «não»
(não sou exageradão)
mas esta imagem do saco
contendo um pequeno «não»
não figura nesta prosa
assim do pé para a mão,
pois o saco utilizado,
que pode ser o do pão,
assim do pé para a mão,
pois o saco utilizado,
que pode ser o do pão,
recebe modestamente
a corriqueira fracção
desse alimento que é
tão distribuído, tão
a corriqueira fracção
desse alimento que é
tão distribuído, tão
a domicílio como
o leite ou o pão.
Mas esse leitor aí
(bem real!) já diz que não,
o leite ou o pão.
Mas esse leitor aí
(bem real!) já diz que não,
que nunca viu no tal saco
o tal «não».
Ao que o poeta responde,
sem maior desilusão:
o tal «não».
Ao que o poeta responde,
sem maior desilusão:
- Para dizer a verdade,
eu também não...
Mas estava confiante
na sua imaginação
eu também não...
Mas estava confiante
na sua imaginação
(ou na minha...) e que sentia
como eu a solidão
e quanto ela é objecto
da carinhosa atenção
como eu a solidão
e quanto ela é objecto
da carinhosa atenção
de quem hoje nos fornece
o quotidiano «não»,
por todos os meios, desde
a fingida distracção,
o quotidiano «não»,
por todos os meios, desde
a fingida distracção,
até ao entre-parêntesis
de qualquer reclusão...
de qualquer reclusão...
(Alexandre O´Neill)
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