14 junho, 2007

Um amigo


Há uma casa no olhar
de um amigo.
Nela entramos sacudindo a chuva.
Deixamos no cabide o casaco
fumegando ainda dos incêndios do dia.
Nas fontes e nos jardins
das palavras que trazemos
o amigo ergue o cálice
e o verão
das sementes.
Então abre as janelas das mãos
para que cantem
a claridade, a água
e as pontes da sua voz
onde dançam os mais árduos esplendores.


Um amigo somos nós, atravessando o olhar
os véus de linho sobre o rosto da vida
nas tardes de relâmpagos e nos exílios,

onde a ira nómada da cidade arde
como um cego em busca de luz.


(Eduardo Bettencourt Pinto)

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