04 junho, 2007

Como a vida sem caderneta


Como a vida sem caderneta
como a folha lisa da janela
como a cadela violeta
- ou a violenta cadela?


Como o estar egípcio e mudado
no salão do navio de espelhos
como o nunca ter embarcado
ou só ter embarcado com velhos


Como o ter-te procurado tanto
que haja qualquer coisa quebrada
como percorrer uma estrada
com memórias a cada canto


Como os lábios prendem o corpo
como o corpo prende a tua mão
como se o nosso louco amor louco
estivesse cheio de razão


E como se a vida fosse o foco
de um baço, lento projector
e nós dois ainda fôssemos pouco
para uma tempestade de cor


Um ao outro nos fôssemos pouco
meu amor meu amor meu amor


(Mário Cesariny)

Sem comentários: