15 maio, 2007

AS PONTES

Nunca mais esquecerei aquele dia... Sentia-me mais que triste. Achava que tinha toda a razão do mundo para estar mais do que triste. De facto, o que sentia era quase raiva. Despeito. Sentia-me amesquinhado. Diminuído no meu EGO.Tinham-me abandonado. Não me mereciam aqueles que assim me deixavam, sem nimguém.
Foi então que o meu velhote, que morava junto do riacho, saiu da cabana, me olhou e me disse muitas coisas em surdina. Mas a coisa mais importante que me disse foi que, se estava assim, era eu o único culpado!
Levei tempo a perceber aquelas palavras:
- Se estamos isolados, devemos perguntar-nos em que medida é que contribuimos para a construção das nossas ilhas, destruindo as pontes para os outros...E o mesmo quanto à ternura: queixas-te de que não recebes ternura dos outros! E tu, tens dado muita ternura aos outros?! Tens-te aberto à ternura dos outros?
Levei tempo a perceber.
Já foi há muitos anos...
O meu velhote era sábio.
Falo com ele de vez em quando...

Eduardo Aleixo

3 comentários:

Anónimo disse...

Tão bonito, meu querido amigo. Continuas sempre o mesmo. E já lá vão tantos anos...

Marit Soderman

Anónimo disse...

É neste tipo de escrita que eu te revejo e reconheço. Não fosse ter lido estas tuas ultimas histórias/poemas e os meus comentários seriam bem diferentes a algumas das tuas publicações anteriores...
É verdade somos culpados de muita coisa, mas não há regra sem excepção e às vezes não merecemos muita coisa que nos acontece... Há que aceitar e esperar um dia compreender o porquê.
Também eu tive uns velhotes magnificos, já partiram todos, mas continuam a dar-me força. Somos uns sortudos!!
made

Unknown disse...

Pretendi, mais do que nos culparmos a nós mesmos, chamar a atenção para uma doença que nos afecta: a de sermos escravos do EGO, de olharmos para o nosso umbigo, de nos vermos a nós mesmos, e não ao OUTRO, como se o OUTRO não existisse...Torna-se imperioso que nos descentremos... Só assim estaremos ligados u«ns aos outros e ligados uns aos outros é que daremos a devida importância quer a nós quer aos outros...
Claro, querida made ( isto, para não usar o teu verdadeiro nome, pronto, eu respeito a tua vontade ) que não somos culpados de muita coisa. Quanto a só mais tarde...podermos compreender...falaremos um dia sobre isso.~
EA