02 abril, 2007

Destruição


Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.


Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.


Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.


E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

(Carlos Drummond de Andrade)

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