28 abril, 2007

Agora falo eu, a ex-mulher do capitão de Abril


(Lisboa, 15 de Maio de 1984)
Aguentei durante 10 anos um casamento de fachada… ainda é um casamento de fachada. O meu marido (ex?) não quer que se saiba que não vivemos juntos. Se eu disser deixa de me pagar pensão.
Sempre achei que ele tinha panca. Só casei com ele porque era capitão, campeão de esgrima e engenheiro civil.
As coisas nunca andaram bem entre nós, mas depois que a priminha dele desapareceu (primeiro tornou-se anarca e ele encontrou-a a vender “A Merda” no Rossio). Fez questão de lhe contar que toda a família já sabia e que alguns acharam que lhe havia de passar, outros deixaram mesmo de lhe falar… ele tentou conversar com ela. Disse-me que tinha medo que ela se metesse em coisas perigosas… um dia ela desapareceu sem deixar rastro. Durante anos andou por esse mundo fora de mochila às costas sem que ninguém soubesse dela. Usava um passaporte falso, nunca dormia no mesmo sítio. Nem mesmo o Carlos com os conhecimentos todos que tinha a conseguiu localizar: foi entristecendo, entristecendo e eu cada vez mais farta, claro!
Ele foi promovido a major e eu promovi-o a “corno” com mais do que um colega dele, daqueles que nos frequentavam a casa. Fartei-me de ser mal amada e procurei consolo noutros braços… Agora vivo com o Luís e o Carlos paga-me para eu me manter calada. Quero lá saber, desde que continue a poder ir ao cabeleireiro todas as semanas e a vestir-me nas melhores lojas de Lisboa. Uma vez por ano ou duas vou a Londres aos saldos, que a pensãozita que ele me paga não dá para mais… mas pelo menos durmo as horas que quero e não tenho que estar agarrada a um PBX o dia inteiro, ouvindo as conversas de cada um para não morrer de tédio… O Luís dá-me de comer e cama e o meu marido paga os extras… Escusam de ficar tão chocados! É o que não falta para aí são estórias como a minha! É uma questão de se ser inteligente: viver não custa, o que custa é saber viver! O Carlos paga-me e eu nem sequer tenho que aparecer com ele em lado nenhum (que isso o Luís não admitia!). Ele lá vai arranjando umas desculpas e depois ainda faz questão de ficar com a miúda. É claro que para isso teve que me aumentar a pensão, que eu fiz logo questão de dizer que não passava sem a minha filha… mas a verdade é que ela é uma chata igual ao pai e é um martírio sempre que tenho que fazer o papel de mãezinha presente!
Agora deixou a tropa. Mantém o gabinete com o colega, trabalha 14 horas por dia, mal tem tempo para se coçar, mas lá vai dando conta do recado com a filha, que o adora e está sempre com as unhas de fora quando se trata de defender o paizinho! A gente trá-las na barriga 9 meses para isto! Mas pronto, nada é perfeito nesta vida… A verdade é que me estou nas tintas para os dois. Só me chateia que a priminha tenha reaparecido, mulher feita… tonta como sempre: com umas ideias sobre ecologia e ambiente, acho que se licenciou numa dessas coisas e faz uns trabalhos para o gabinete do Carlos. É claro que ele anda todo contente, mas ela é que parece que não lhe dá trela. Segundo a minha filha, disse-lhe que gostava muito dele como amigo, mas que não estava para aturar homem dentro de casa… que ele passa umas noites lá em casa com ela, mas não deixa a escova de dentes que ela não deixa.
Não percebo o que é que certas mulheres pretendem da vida! Esta podia ter uma bela vida com um tipo a esfolar-se por ela e está-se nas tintas. Deve ser daquelas gajas que dizem que o trabalho enobrece! Deixem-me rir: o que enobrece é o “money” e o resto são tretas para impressionar o mundo!
E agora vou à esteticista que o Luís traz para jantar logo, um amigo muito giro… convém sempre apresentar-me como deve ser: a gente sabe lá o que nos reserva o futuro?!

1 comentário:

Paulo disse...

Que estranha forma de vida. A promoção a "corno" - coronel - é que foi "obra"!!! risssssssssss