31 março, 2007

POEMA


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

( Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas ).

Álvaro de Campos

2 comentários:

Anónimo disse...

Todos temos o direito de ser ridículos de vez em quando, não é? E para isso não me parece que haja um tempo senão este tempo é quando...

Stela

Anónimo disse...

Esta Stela é inteligente, mais nova do que eu, o que leva vantagem.

Lídia